Os 7 Livros Apócrifos da Bíblia… Católica? 🤷‍♂️

Estudo bíblico sobre os 7 livros apócrifos da Bíblia católica

Muito se questiona acerca dos 7 livros apócrifos adicionais da “Bíblia Católica”, dentre outros que existem além destes. Afinal de contas, eles são confiáveis ou não? Existem heresias neles? A “Bíblia evangélica”, com seus 66 livros, seria a correta? Teriam aqueles livros, também chamados deuterocanônicos, alguma importância ou valor histórico e teológico ou devem ser completamente rejeitados? Qual realmente é a verdade sobre eles?

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A “verdadeira verdade” acerca destes livros apócrifos, verdade esta que dificilmente se ouve nos templos religiosos e nas salas de seminários teológicos, é que eles não são de propriedade da Igreja Católica! Esses livros, muito menos a Bíblia, incluindo os escritos do chamado “Novo Testamento” pelos cristãos, não são de propriedade de qualquer Igreja para receberem sua aprovação, reprovação ou julgamento. Porque, a totalidade dos 66 livros da Bíblia são obras do povo de Israel! Tendo sidos inspirados por Deus, naturalmente (cf. Dt 33:4; Sl 147:19-20; Rm 3:1-2; 9:4; 2 Pe 1:20-21). E quanto aos chamados “livros apócrifos”, uma simples leitura de vários deles por si só mostrará que eles fazem parte da literatura judaica, porque se tratam da história e ou poesias do povo eleito!

Quais são os livros apócrifos produzidos na época do segundo templo?

A época do segundo templo compreende do período em que o templo de Jerusalém, erguido por Salomão, filho de Davi, foi reconstruído no ano 516 AEC, depois do cativeiro babilônico, até o ano 70 EC, quando foi destruído por forças imperiais romanas.

É dentro deste período que a maioria dessas literaturas são escritas por judeus/israelitas, e outros, a fim de relatar a história de seu povo, dentre outras finalidades.

Aqui vamos abordar informações desses livros apócrifos extraídas de duas grandes fontes: o site Sefaria, que reúne uma enorme coletânea de materiais e escritos do povo de Israel, e a Bíblia de Jerusalém, que embora (infelizmente) ainda tenha comentários tendenciosos, apresenta um bom trabalho de pesquisa em muitos lugares.

Como os livros apócrifos da Bíblia não são de propriedade de Igreja alguma, daremos prioridade às informações do site Sefaria, ou de outros de origem judaica/israelita que considerarmos necessários e confiáveis. Depois, complementaremos com informações das pesquisas da Bíblia de Jerusalém, que traz os sete livros adicionais.

Na Bíblia de Jerusalém, a ordem dos livros apócrifos está assim:

  1. Tobias;
  2. Judite;
  3. 1º Macabeus;
  4. 2º Macabeus;
  5. Sabedoria;
  6. Eclesiástico;
  7. Baruque.

A palavra “apócrifo” significa “oculto, secreto”, sendo proveniente do latim tardio apocryphus e, por sua vez, do grego clássico ἀπόκρυϕος (apokryphos).

O termo “apócrifo” foi criado por Jerônimo, um teólogo cristão, no 5º século de nossa era, para designar basicamente antigos documentos judaicos escritos no período entre o último livro das Escrituras, Malaquias, e a época de Jesus, isto é, Yeshua, o nazareno.

Estes 7 livros dito apócrifos na Bíblia Católica, estão presentes na Septuaginta, que é uma tradução em grego do Tanakh (Bíblia Hebraica). Essa tradução em grego foi produzida por volta do ano 283 AEC1.

De acordo com alguns documentos antigos, e relato do historiador Flávio Josefo, a Septuaginta foi criada por cerca de 70 rabinos judeus. Por isso, a inclusão dos livros adicionais na mesma não pode ser considerada um pecado em si, ou uma tentativa de adulteração das Escrituras, como alguns pensam.

Mas, uma assembleia rabínica farisaica dos judeus, conhecida como concílio de Jamnia, realizado entre o final do Século I EC e o início do Século II, não os considerou canônicos porque, ao menos alguns deles, não teriam sido escritos originalmente em hebraico e nem na época do sacerdote Esdras. Também não os consideraram canônicos o grupo de cristãos protestantes, que por sinal surgiu muito posteriormente ao próprio cristianismo (séc. 16 EC).

Os 7 livros, porém, foram admitidos como autênticos pelo Concílio de Roma em 382 EC., de Hipona em 393; no III Concílio de Cartago em 397, no Concílio de Florença (1431-1439) e no Concílio de Trento, iniciado em 1545.

1. Veja também nosso estudo bíblico sobre a Septuaginta aqui no blog.

O livro de Tobias.

Escrito entre 250 – 150 AEC. O Livro de Tobias é uma história de duas famílias que viveram no exílio assírio durante o século VIII (8) AEC. Provavelmente foi composto entre os séculos III e II AEC em hebraico ou aramaico.

Ele fala de um homem justo chamado Tobit (Tobi), seu filho Tobiyah e uma mulher chamada Sarah, com quem Tobiyah finalmente se casa. Ele se concentra na oração dos personagens, boas ações e a intervenção divina milagrosa que eles experimentam.

Traços de influência da obra são evidentes em textos posteriores: Midrash Bereishit Rabbah inclui uma versão aramaica truncada de Tobit, e um manuscrito medieval sugere que, pelo menos em algumas comunidades medievais, a obra foi lida publicamente no feriado de Shavuot (festa das semanas – Êx.34:22).

Informações de Sefaria.org.

O livro de Judite.

O Livro de Judite é uma obra que conta a história de uma mulher heroica que seduz e mata um general inimigo, salvando Israel da opressão.

O livro não foi mencionado por nenhuma fonte judaica até o período medieval, quando a personagem de Judite tornou-se objeto de discussão em obras jurídicas, comentários talmúdicos e poemas litúrgicos.

Durante esse período, a história começou a ser associada ao feriado de Hanuká2 à medida que novas versões da história surgiram, algumas delas substituindo o rei babilônico Nabucodonosor, que apareceu em versões anteriores, pelo rei selêucida Antíoco (o inimigo da história de Hanuká).

Judite atraiu mais escritores, artistas e compositores do que qualquer outra figura dos livros apócrifos da Bíblia.

Caso queira conhecer mais da história da Hanuká, leia a seção do livro de 1º Macabeus (seguinte), que narra os eventos onde essa festa se iniciou (até o capítulo 4).

Fonte: Sefaria.org.

2. Veja um histórico sobre Hanuká no Projeto Bíblico Ezra (biblia.pro.br).

O 1º livro dos Macabeus.

Escrito entre 145 – 125 AEC na região da Judeia, o Livro dos Macabeus I é uma obra apócrifa que relata as vitórias dos Macabeus sobre os gregos sírios e a reinauguração do Segundo Templo em Jerusalém no ano 164 AEC, além das histórias por trás do feriado de Hanuká.

Escrito em hebraico por um autor judeu que provavelmente foi testemunha ocular dos eventos que descreve, a obra é considerada uma importante fonte histórica para o período.

Não tem status religioso oficial no judaísmo, mas é frequentemente estudado para enriquecer a compreensão de Hanuká.

Informações de Sefaria.org.

Mas o que é a Hanuká mencionada neste livro apócrifo da Bíblia?

A Hanuká é uma festa judaica mencionada na Bíblia em João 10:22-23 como “Festa da Dedicação” (“hanuká” ou “chanucá” é uma palavra hebraica que traduzida é “dedicação”). Ali vemos o próprio mestre Yeshua (Jesus) participando dessa festa, porque era relacionada ao seu povo (Israel). Ela teve início na purificação do templo de Jerusalém com Judá (Judas) Macabeu, por volta do ano 164 AEC.

Essa festa começa com os eventos de 1° Macabeus 4:35-59, mas também é mencionada em 2° Macabeus 1:18. A festa é lembrada pelo povo israelita até hoje e acontece entre novembro e dezembro do calendário usado no ocidente (Gregoriano).

Para mais detalhes históricos acerca deste feriado judaico, veja o vídeo abaixo:

O 2º livro dos Macabeus.

‎Composto‎‎ no‎‎ ‎‎Egito Helenístico, cerca de 153 – 133 AEC.

‎O Livro de Macabeus II é um resumo de uma obra de cinco volumes que não foi preservada e detalhando eventos daquele século que formaram a base da história de Hanuká. Concentra-se em relatos de helenização, perseguição aos judeus sob o rei Antíoco, e batalhas de Judá Macabeu.

Ao contrário de Maccabees I, foi composto em grego e tem um forte tom religioso; incorpora muita intervenção sobrenatural e enfatiza o martírio religioso com histórias como a da mulher judia e seus sete filhos (II Macabeus 7). A obra não tem status oficial no judaísmo, mas muitas vezes é estudada para enriquecer a compreensão de Hanuká.‎

Informações de Sefaria.org.

Livro da Sabedoria de Salomão.

Escrito em Alexandria, Egito.

A Sabedoria de Salomão é um livro apócrifo da Bíblia que fala a respeito da sabedoria – sua natureza, benefícios e papel na história do Israel antigo. A obra é atribuída ao rei Salomão, e foi provavelmente composta por um autor judeu no Egito entre o século II AEC e o século I EC. O livro busca demonstrar a sabedoria do judaísmo.

Influências da Bíblia e das tradições rabínicas primitivas, bem como da filosofia grega, são evidentes na obra, que consiste em três seções distintas. Os capítulos 1-6 exortam os governantes da terra a buscar sabedoria. No capítulo 6-10, o rei Salomão descreve como sua vida foi guiada pela sabedoria e oferece uma oração para obtê-la. Os capítulos 11-19 contam a história da redenção dos israelitas do Egito.‎

Informações de Sefaria.org.

Eclesiástico.

Este livro foi transmitido nas bíblias grega, latina e siríaca, mas não figura no cânon hebraico. Entretanto, ele foi composto em hebraico; Jerônimo diz tê-lo conhecido em sua língua original e alguns rabinos, até o século IV (4), o citaram. O Talmude conserva seu testemunho.

Aproximadamente dois terços desse texto hebraico, perdido há séculos, foram reencontrados, desde 1896, em seis manuscritos medievais fragmentários, provenientes de uma antiga sinagoga do Cairo. Mais recentemente, alguns fragmentos saíram das grutas de Qumrã e, em 1964, foi descoberta em Massada uma cópia igualmente fragmentária (39,27-44,17) numa escritura do início do século I a.C. […]

Quem escreveu o livro Eclesiástico?

No início do século II AEC, Jesus [Yeshua] Ben Sirá [filho de Sirá], mestre de sabedoria em Jerusalém… reuniu em um livro o melhor de seu ensinamento… Seu neto, que chegou ao Egito muito provavelmente em 132 AEC, empreendeu a tradução em grego da obra de seu avô… Esta tradução continua sendo o melhor testemunho do livro de Ben Sirá; ela foi transmitida pelos três principais manuscritos, o Vaticano, o Sinaítico e o Alexandrino, que formam o que se chama de “texto recebido”.

Entretanto, o livro conheceu, provavelmente desde o século I AEC, uma revisão e a inserção de numerosas adições. Esta segunda edição, com efeito, deixou marcas nos fragmentos hebraicos reencontrados na versão siríaca Peshitta, mas ela é sobretudo transmitida em muitos manuscritos gregos… e na antiga versão latina que passou na Vulgata.

O título do livro em grego é dado na subscrição de 51,30: “sabedoria de Jesus, filho de Sirá”. Seu título latino Ecclesiasticus (Liber) [que quer dizer, livro da igreja], aparece já em são Cipriano no século III: ele salienta sem dúvida o uso oficial que a Igreja dele fazia.

O autor se chama em hebraico [Yeshua] Ben Sirá e, em grego o Sirácida, segundo a forma grega Sirac.

Jesus Ben Sirach 1860 xilogravura por Julius Schnorr von Carolsfeld.
Jesus Ben Sirach 1860 xilogravura por Julius Schnorr von Carolsfeld.

Nascido provavelmente no meio do século III AEC., ele viu Jerusalém passar da dominação dos Lágidas à dos Selêucidas em 198; conheceu o sumo sacerdote Simão, o Justo (50,1-20) que morreu após o ano 200.

Nessa época, a helenização, com a adoção de costumes estrangeiros, era favorecida por uma parte da classe dirigente; a essas novidades ameaçadoras, Ben Sirá opõe todas as forças da tradição.

Ele é escriba que une o amor da sabedoria ao amor da Lei (24); para ele, a revelação bíblica é sabedoria autêntica que não deve se envergonhar diante da sabedoria da Grécia. Está cheio de fervor pelo Templo e suas cerimônias, cheio de respeito pelo sacerdócio herdado de Aarão e de Sadoc, mas também está alimentado pelos livros santos, sobretudo os livros sapienciais anteriores.

Com informações da Bíblia de Jerusalém. Os [colchetes] são nossos.

Leia também uma introdução ao livro de Ben Sirá e o prólogo de seu neto no site bible.com.

Em suma, o livro Eclesiástico, isto é, livro de Yeshua ben (filho de) Sirá, é uma coletânea de pensamentos de um homem sábio da Jerusalém da época do 2º templo. Como defensor da Lei de Deus (Torá), da nação de Israel e a necessidade de sua sabedoria para o mundo, há muitos ensinamentos bons aqui. No entanto, talvez houvesse ainda algumas incertezas por parte do autor em certos assuntos, e soma-se a isso as adições que o livro sofreu posteriormente, seja por seu neto ou por outro copista posterior. Portanto, talvez não seja possível dizer que o livro é todo divinamente inspirado, mas há o que se aproveitar.

O livro de Baruque.

O livro de Baruc (ou Baruque) é um dos livros deuterocanônicos ausentes da Bíblia hebraica. A Bíblia grega coloca-o entre Jeremias e as Lamentações, e a Vulgata, depois das Lamentações. Segundo a introdução (1,1-14), teria sido escrito por Baruc, secretário de Jeremias, na Babilônia, depois da deportação, e enviado a Jerusalém para ser lido nas assembleias litúrgicas.

Este livro contém:

  • uma oração de confissão e de esperança (1,15 – 3,8),
  • um poema sapiencial (3,9 – 4,4), no qual a Sabedoria é identificada com a Lei,
  • um trecho profético (4,5 – 5,9), onde Jerusalém personificada se dirige aos exilados e onde o profeta a encoraja com a evocação das esperanças messiânicas.

A introdução foi escrita diretamente em grego; a oração de 1,15 – 3,8, que desenvolve a de Dn 9,4-19, remonta certamente a um original hebraico, e a mesma conclusão é provável com relação aos outros dois trechos. A data de composição mais verossímil é meados do século 1 a.C.

Um pequeno fragmento do texto grego foi descoberto numa das grutas de Qumrã; a paleografia lhe atribui a data de 100 a.C., aproximadamente.

O interesse da coleção… que traz o nome de Baruc é o de nos introduzir nas comunidades da Dispersão e de nos mostrar como a vida religiosa era mantida nelas pelo relacionamento com Jerusalém; pela oração, pelo culto da Lei… e pelos sonhos messiânicos.

Ao lado das lamentações, ela é também um testemunho da grande recordação deixada por Jeremias, pois os dois opúsculos foram relacionados com o profeta e seu discípulo.

A lembrança de Baruc se perpetuou; no século Ii de nossa era, foram postos sob seu nome dois Apocalipses que nos foram conservados; um em grego e outro em siríaco (com fragmentos gregos).

Extraído da Bíblia de Jerusalém.

(O Apocalipse de Baruc foi traduzido para português e publicado no Manual da Peshitta, da editora BV Books, e encontra ecos na mensagem de Jesus).

Em outro momento adicionaremos mais informações e conteúdo dos versículos dos livros apócrifos.

O que você achou deste conteúdo a respeito dos livros apócrifos?

Já conhecia essas informações a respeito destes livros? Nos conte nos comentários abaixo.

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

5 comentários em “Os 7 Livros Apócrifos da Bíblia… Católica? 🤷‍♂️”

  1. Ano 235 DC Orígenes: 2 Em resposta a isso, devo dizer-lhe o que nos cabe fazer nos casos não apenas da História de Susanna, que se encontra em cada Igreja de Cristo naquela cópia grega que os gregos usam, mas não está no hebraico. ou das duas outras passagens que você menciona no final do livro contendo a história de Bel e do Dragão, que também não estão na cópia hebraica de Daniel… …História de Susana, conforme ocorrem em Jeremias da seguinte maneira: O Senhor te faça como Zedequias e Aquebe, a quem o rei da Babilônia assou no fogo, pela iniqüidade que cometeram em Israel. Não precisamos nos perguntar, então, se esta história do malvado ardil dos licenciosos anciãos contra Susana é verdadeira, mas foi ocultada e removida das Escrituras. pelos próprios homens não muito distantes do conselho desses anciãos. 13. No entanto, visto que as igrejas usam Tobias… (Orígenes Carta para africanus capítulo 2 e 13.) https://www.newadvent.org/fathers/0414.htm

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