Sofrimento do crente: Por que é necessário e Deus o permite?

Last updated on 31/05/2024

Qual o sentido do sofrimento do crente? Por que o justo sofre nessa vida e o que a Bíblia diz sobre o sofrimento? O que Jesus também fala sobre sofrer? E quanto a Paulo, o que ele disse sobre o sofrimento? Vamos tentar trazer algum sentido e clareza para esta temática com este estudo bíblico.

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Por que Deus não acaba com o sofrimento da humanidade?

Muitos incrédulos se questionam: “Deus não é Todo poderoso? Então por que Ele não acaba com todo o sofrimento que existe no mundo de uma vez?”

A primeira coisa que temos que pensar a respeito disso é que, embora Deus tenha criado todas as coisas, entregou o governo e administração de toda sua criação ao ser humano, basta ver Gn 1:27-28, 9:1-3 etc. Dessa forma, a organização e boa administração do planeta é uma responsabilidade humana.

Assim, a má e injusta administração certamente causará sofrimento para alguém, então não podemos simplesmente culpar a Deus por tudo que é tipo de sofrimento que existe no mundo.

Outro fato é que o Criador fez do homem um ser inteligente e pensante, capaz de refletir e fazer suas escolhas, vide Gn 2:15-17, 4:7, 9:5-6 por exemplo. As escolhas que o ser humano faz trazem consequências. Se ele pratica o bem, colherá coisas boas, mas se pratica o mal, também colherá o mal, cf. Jó 4:8 e Gl 6:7. Este mal, por sua vez, afetará tanto ao indivíduo que o praticou quanto a várias outras pessoas, que são afetadas direta ou indiretamente.

Logo, no que diz respeito ao sofrimento da humanidade de uma forma geral, e sendo sucinto na resposta, Deus o permite porque o próprio ser humano, inclinado ao mal, o traz para si.

Mas e quanto ao sofrimento do crente, daquele que é justo e temente a Deus? Por que Ele permite que essas pessoas sofram?

As respostas podem ser muitas e variadas, e uma delas também está relacionada a uma má administração do planeta ou de uma sociedade específica, como visto acima. Em Neemias 1:1-4, por exemplo, pessoas justas estavam sofrendo com as calamidades nas terras de Israel por causa dos pecados de toda a nação, especialmente de seus líderes.

Porém, vamos tentar dar mais detalhes, para trazer com isso uma mensagem de fortalecimento e consolo.

O que o justo deve fazer diante de seu sofrimento?

O sofrimento está aí, se fazendo presente em nossa vida, e isso não tem como negar. Todos, de alguma forma, sofremos. Uns sofrem sozinhos, em sua mente, outros sofrem de forma mais visível às pessoas, mas todos encaram o sofrimento em fases diferentes da vida.

Em nossa atualidade religiosa, muitas são as músicas e mensagens que tentam trazer consolo ao sofrimento do crente, às vezes até de forma a bajular o ser humano.

Neste contexto, sendo alimentado por mensagens e músicas que visam atingir o lado emocional, muitos crentes aumentam seu estado de vítimas e ficam se lamento e chorando mais, como que querendo chamar atenção para seu sofrimento.

Mas, o que o crente deve fazer quando está sofrendo por alguma coisa? Como ele deve agir mediante seu sofrimento?

Vamos extrair lições disso a partir dos próprios versículos do livro de Neemias, citado mais acima.

A primeira coisa que notamos é que, ao saber do lamentável estado de sua terra natal, Neemias se entristece e chora por algum tempo, vide Ne 1:2-4.

Com isso, aprendemos que é natural chorar e se lamentar por nossos sofrimentos, pois somos seres humanos, frágeis e de carne e osso. Não é pecado algum se lamentar e chorar por um tempo!

Mas Neemias não ficou só se lamentando e chorando o tempo todo, ele também jejuou e orou por aquela situação (v. 4). Aqui aprendemos que, em meio ao nosso lamento, precisamos começar a tomar alguma atitude em relação ao nosso sofrimento. No caso de nosso personagem bíblico, jejuar e falar com Deus daquela situação foi a primeira atitude para resolução do problema. Nós também podemos fazer o mesmo!

A oração de Neemias envolveu a confissão dos pecados da nação de Israel daquela época, e o pedido do perdão divino, vide vs. 5-11. Mas ele não fica só mencionando os pecados da nação como um todo, antes ele se coloca como nação e pede perdão por seus próprios pecados também (vs. 6-7).

Assim, quando oramos a Deus a respeito de nosso sofrimento, precisamos ser humildes e confessar que parte disso pode ter sido causada por nós também. Precisamos reconhecer nossas culpas e falhas, e pedir perdão ao clemente e misericordioso Pai.

Outra coisa importante de se perceber, ainda neste trecho das Escrituras, é que Neemias sofre o sofrimento de seus compatriotas (vs. 3-4). Ele não foi indiferente à angústia alheia, mas chorou e sofreu também por aquilo que outros estavam chorando e sofrendo.

O rabino Saul, chamado “apóstolo Paulo” nas bíblias comuns, escreveu exatamente sobre esse gesto de empatia quando disse: “alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram” (Romanos 12:15).

Agora, depois de se lamentar, chorar, jejuar e orar pela situação, Neemias não se entrega ao sofrimento. Ele simplesmente não voltou aos seus afazeres de costume, deixando a situação como estava. À partir do capítulo 2 de seu livro veremos que Neemias, depois de estudar o que fazer, começou a tomar atitudes e a mobilizar-se para ajudar a acabar com o sofrimento de seu povo (vide Ne 2:1-8). Assim, ele foi um dos protagonistas de uma grande história, revolução e restauração no meio do povo de Deus.

Da mesma forma devemos nós agir! Ou seja, depois de fazer o que é certo, que é respeitar o tempo de lamento e choro (cf. Pv 25:20), orar a Deus pedindo perdão por nossas falhas e reconhecer nossas culpas (vide Pv 28:13; 1Jo 1:8-9), precisamos pensar em maneiras de, junto a Deus, resolver nossos sofrimentos, e não ficar se vitimizando a vida toda, nos queixando e nos fazendo de pobre coitados!

O que Jesus diz sobre o sofrimento do crente?

Algumas teologias têm ensinado que não podemos sofrer neste mundo, pois o sofrimento do crente só acontece quando ele está em pecado. Será que isso é verdade, segundo a Bíblia?

Para responder isso, vamos examinar algumas palavras que o próprio Senhor Jesus disse a respeito do sofrimento do crente:

Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: “O servo não é maior do que o seu senhor.” Se perseguiram a mim, também perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa…
Estas coisas eu vos tenho dito para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.

João 15:20 e 16:33

Ora, se o próprio Mestre afirmou que passaríamos por aflições (sofrimentos) neste mundo, alguém neste planeta poderia dizer o contrário? E, de fato, não é isso que encaramos em diversos momentos da vida, o sofrimento?

Como eu disse antes, seja o sofrimento interior, seja por um ente querido que perdemos ou por perseguições que sofremos, todos encaramos algum tipo de aflição no final das contas, não é mesmo?!

Dessa forma, como temos visto, o crente, em vez de ficar se lamentando o tempo todo de seu sofrimento, deve reconhecer que (infelizmente) ele faz parte de diferentes fases da vida, e deve sempre se fortalecer na paz que vem do Senhor!

Portanto, humilhem-se sob a poderosa mão de Deus, para que no tempo certo ele os exalte.
Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.
Mantenham-se sóbrios e alertas! O Adversário, o inimigo de vocês, aproxima-se sorrateiramente e, como leão que ruge, procura alguém para devorar. Resisteam-lhe, firmes na confiança, sabendo que os irmãos que vocês têm em todo o mundo estão passando pelos mesmos tipos de sofrimento.
Vocês têm de sofrer só mais um pouco, depois disso, Deus, que é cheio de graça – aquele que os chamou para a sua glória eterna em união com o Messias -, irá pessoalmente restaurar, estabelecer, fortalecer e firmar todos vocês.

1ª Kêfa [1Pe] 5:6-10, BJC

• Veja também: Como superar a perda de um ente querido e continuar com fé.

Deus também permite o sofrimento para refinar o crente, purificá-lo e aperfeiçoá-lo.

O crisol é para (purificar) a prata, o forno para o ouro, mas é o Eterno que testa os corações.

Provérbios 17:3, Tanah Completo.

Quando Jesus iniciou seu ministério, é dito que ele foi levado pela própria inspiração de Deus ao deserto a fim de que fosse experimentado pelo inimigo, veja Mt 4:1 e Lc 4:1-2.

Mas por que isso aconteceu? Por que Deus levou seu próprio Filho ao deserto e o pôs à prova desta maneira? A resposta só pode ser uma: Para que ele fosse aperfeiçoado! Veja Hebreus 5:7-9.

Agora, o interessante é que, em meio a este momento de tentação, o Mestre recita vários versículos das Santas Escrituras para resistir ao caluniador. Em um deles, ele diz ao tentador: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”, cf. Mt 4:3-4.

Jesus está citando Deuteronômio 8:3. E o que poucos notam é que, quando Moisés recita essas palavras pela primeira vez aos israelitas, ele estava falando justamente do sofrimento pelo qual Deus levou-os a passar justamente para experimentá-los e refiná-los. Ele diz:

E te recordarás de todo o caminho pelo qual o Eterno, teu Deus, te levou nestes 40 anos no deserto, para afligir-te, para provar-te e para saber o que estava em teu coração – se guardarias os Seus mandamentos ou não. E te afligiu, te fez padecer fome e fez-te comer o Maná, que não conhecias e que teus pais jamais conheceram; para fazer-te saber que nem só de pão vive o homem, senão que de tudo o que sai da boca do Eterno, disso vive o homem.

Deuteronômio 8:2-3, Tanah Completo.

Este versículo, tão famoso das Escrituras, foi dado em um momento de sofrimento pelo povo de Israel antigo, mas um sofrimento que o próprio Deus levou seu povo a passar, porque foi necessário para o seu aprendizado e para que sua percepção do sentido da vida fosse aperfeiçoada.

Logo, às vezes, o próprio Criador nos permite atravessar fases de sofrimento na vida, mas com a finalidade de nos purificar, tirar o mal de dentro de nós, e nos aperfeiçoar no final das contas.

Foi assim também na vida de Jó. Ele atravessou uma fase de grande sofrimento em sua vida, mas não se queixou contra Deus, foi aperfeiçoado na experiência com o Santo e agradecido no final das contas; veja Jó capítulo 42 e Jacó [Tg] 5:10-11.

Por fim, todo esforço tem sua recompensa, assim como o sofrimento tem seu consolo.

Jesus e Paulo dizem o seguinte a respeito dos sofrimentos que atravessamos nessa vida:

Abençoados são os que choram, porque eles serão consolados. …
Porque eu considero que os sofrimentos deste tempo presente não são dignos de serem comparados com a glória que há de ser revelada em nós.
Esta é uma palavra fiel: Que, se morrermos com ele, também viveremos com ele; se sofrermos, também reinaremos com ele;

Mateus 5:8, Romanos 8:18 e 2ª Timóteo 2:11-12.

O sofrimento do crente por sua perseverança em seguir a Deus, no final das contas, lhe trará sua glorificação!

… e, se somos filhos [de Deus], então, também somos herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros do Messias – se sofremos com ele a fim de também sermos glorificados com ele.

Romanos 8:17 BJC

Em meio a dor e ao sofrimento que não poucas vezes temos que atravessar nessa vida, não podemos desistir. Antes, precisamos nos fortalecer no Senhor, buscar nele nossa motivação e inspiração para suportar todas as aflições, como ele também suportou.

Portanto, pelo fato de termos um sumo sacerdote que entrou no mais alto céu, Yeshua, o Filho de Deus, mantenhamos com firmeza o que reconhecemos por verdade.
Porque não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer de nossas fraquezas; ele mesmo foi tentado em todas as áreas, como nós, com a diferença de que nunca pecou.
Assim, que nos aproximemos confiantes do trono a partir do qual Deus concede sua graça, para recebermos misericórdia e encontrarmos graça no momento de necessidade.

Hebreus 4:14-16, adaptado por nós da BJC.

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