Last updated on 08/02/2023
Uma frase muito utilizada por não poucos líderes religiosos e crentes de nosso tempo, e muitos até se orgulham quando dizem: “Dízimo a gente não dá, dízimo a gente devolve!“ Alguns líderes são mais ousados e até dizem que é errado dizer que damos o dízimo, quando na verdade a gente devolve ele. Mas, talvez não muitos se perguntem onde está escrito na Bíblia que temos que devolver o dízimo para Deus. Em qual versículo se encontra essa afirmação?
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Dar o dízimo ou devolver o dízimo?
Bom, para prender as pessoas em certas obrigações, discursos aparentemente bonitos são construídos. Enquanto isso o alto salário de um ou uns poucos privilegiados da congregação se mantém, e o luxo do templo, muitas vezes desnecessário, continua em alta ostentação.
Mas se é uma expressão errada dizer “dar o dízimo”, então por que em Gênesis 14:20 o texto bíblico diz:
E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.
(Gênesis 14:20 Almeida Corrigida Fiel – ACF)
E ainda, em Gênesis 28:22, está escrito:
E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.
9Gênesis 28:22 ACF)
A palavra hebraica usada no caso de Abraão é נָתַן (nathan), que quer dizer dar, fornecer, oferecer. Veja aqui no original hebraico. Já no caso de Jacó é עָשַׂר (asar), que significa tomar, dar, pagar ou receber o dízimo. Veja aqui no original hebraico.
Só por meio desta simples leitura, mesmo nas traduções bíblicas em português, já percebemos que há algo de errado com este argumento de “devolver o dízimo”.
Deus ordenou aos patriarcas dar o dízimo?
Outro fato que poucas pessoas se dão conta é que Deus nunca mandou Abraão e nem Jacó dar dízimo, e portanto muito menos devolvê-lo.
Abraão dá ao sacerdote Malki-Tsedeq (chamado Melquisedeque), o sacerdote do Deus Altíssimo, o dízimo dos despojos da guerra da qual ele estava retornando (cf. Gn 14:14-20; Hb 7:4). Quanto a Jacó, a Bíblia não diz com clareza se ele pagou seus dízimos a Deus. No entanto, outras literaturas judaicas, como o livro dos jubileus (32:2), bem como a tradição, explicam que ele ofereceu esses dízimos como sacrifício queimado em Betel, quando retornava da casa de seu sogro (vide Gn 35:6-7). Então estes dois homens nos dão exemplos de dedicar doações voluntárias a Deus, em agradecimento por nossas conquistas. Eles não “devolveram” algo porque eram obrigados a isso, mas deram de boa vontade porque queriam agradecer ao Eterno por suas bênçãos e sua proteção.
Desde o começo da humanidade e no decorrer de toda história, o Soberano e Bendito Criador sempre nos mostrou que queria a espontaneidade de seu povo. Foi assim com Abel (Gn 4:3-4), com Noé (Gn 8:20-21), também estes exemplos de Abraão e Jacó, e até quando Israel tornou-se uma nação. Deus mostrou que o relacionamento Dele com Seu povo seria de liberdade, gratidão e liberalidade, vide Êx 25:2.
Embora o argumento de “devolver o dízimo para Deus” pareça bonito, ele não necessariamente existe na Bíblia.
Mas mesmo assim, acredito que muitas pessoas não o utilizam de má fé. Portanto, devemos tomar cuidado para não nos deixar ser enganados por alguém, pois sob este argumento as pessoas que não conseguem ser fiéis uma ou mais vezes em dar seu dízimo, acabam se sentindo culpadas. E na verdade este é um ótimo argumento para prender a pessoa a dar seu dízimo constantemente num determinado templo religioso, fazendo-a se sentir culpada caso venha a falhar com o dever que lhe foi imposto.
De onde surgiu o termo “devolver o dízimo para Deus”?
Este termo surgiu, muito provavelmente, das declarações que Davi fez em 1º Crônicas 29:14…
Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e nós só damos o que vem das tuas mãos.
Talvez também tenha certa inspiração no Salmo 24:1, que diz que do Eterno é a terra e toda sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Mas o intrigante é que nenhuma dessas duas passagens sequer faz menção sobre dízimo. Por isso, “devolver o dízimo” é um argumento forjado, às vezes, dissimuladamente, para persuadir as pessoas.
No caso do rei Davi em 1º Crônicas 29, ele simplesmente apresenta uma necessidade ao povo, que era construir um templo para Deus (v. 1). Ele então começa a contribuição por si mesmo (vs. 2-5). Logo após, mesmo sendo o rei e tendo autoridade, ele não procura coagir ninguém a fazer a contribuição, mas simplesmente convida os voluntários a fazerem o mesmo que ele iniciou amorosamente pelo Templo de Deus (vs. 5-9).
Davi, na verdade, estava se inspirando em Deus e seguindo o exemplo de seu profeta, Moisés, quando construíram o tabernáculo móvel. Pois naquela ocasião pediram contribuições voluntárias do povo para tal edificação. O resultado que Moisés alcançou na ocasião foi tão bem sucedido quanto o de Davi, veja Êx 35:4-11+.
Por isso, o exemplo de Davi é inspirador para nós também; é como uma “receita” a se seguir:
- Apresentar ao povo de Deus as necessidades do reino e da obra do Senhor;
- Começar a contribuição por si mesmo, com amor e voluntariedade;
- Convidar o povo a fazer o mesmo, com o mesmo amor, generosidade, voluntariedade e disposição; cada um conforme suas possibilidades.
Agindo com tal transparência e integridade, não criaremos problemas interpretativos, doutrinários e teológicos das Escrituras. Não criaremos confusão na mente de ninguém e alimentaremos a obra do Senhor com abundância. Pois quando chamamos o povo a contribuir voluntariamente e com amor, o resultado dificilmente será negativo. Para mais detalhes, leia os estudos sobre como devemos contribuir para a obra de Deus baseados em Êxodo 35 e 1º Crônicas 29 aqui no blog Bíblia se Ensina.
Os dízimos bíblicos eram dados de várias formas nos tempos antigos, e tinham muito a ver com a vivência do povo de Israel em sua terra prometida. Basta uma simples leitura dos seguintes textos para constatar: Dt 12:5-12, 14:22-29, 26:12-15 e Nm 18:21 em diante (por exemplo).
Dar o dízimo nos dias de hoje é válido?
Sim, claro, pois as leis de Deus não são obsoletas!
Porém, dadas as circunstâncias da diáspora, da atual forma de governo em Israel e da falta do templo, consequentemente alguns destes dízimos bíblicos são praticados de forma adaptada. E quanto ao dízimo não necessariamente relacionado com a vivência nas terras de Israel, dado em dinheiro, com base em dois principais exemplos, Abraão e Jacó, os sábios de Israel orientam dedicá-los para ajudar os pobres ou para trabalhos de ensino e divulgação da Torá, a Lei de Deus. Eles orientam isso, claro, com base bíblica, basta ver Dt 26:12 e 2º Cr 31:4-5. Mas este tipo de dízimo, do qual falei em outro estudo aqui no blog, é praticado de forma voluntária por qualquer pessoa, sendo uma tradição e não necessariamente um mandamento bíblico.
Por fim, não podemos usar o termo “devolver o dízimo para Deus” como regra para obrigar as pessoas a serem dizimistas, pois como vimos, é um ensinamento construído fora do contexto de 1 Crônicas 29, onde se originou.
22 Comments
Eu estou confuso pois Jesus disse : Biblia Portugues
https://bibliaportugues.com › matthew
Mateus 5:17 Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas. Eu não vim para anular, … E como fica a lei e o tempo da graça, que fala no antigo testamento no livro de Malaquias 3:10 ?
Olá Italo.
(BHSefer) Ml 3:10:
“¹⁰ Trazei todo o dízimo ao tesouro da Casa, para que haja alimento em Minha Casa; testai-me agora nisto! – diz o Eterno dos Exércitos – (e vereis) se não vos abrirei as janelas do céu e vos derramarei uma bênção, para que haja mais do que suficiente!”
No referido versículo, não vi nenhuma menção a “tempo da graça”, nem a “antigo testamento”.