Last updated on 31/05/2023
Em Gênesis capítulo 9 lemos a respeito da famosa aliança universal de Deus com Noé e seus descendentes, isto é, com todas as nações que vieram dele e de seus três filhos, que ocuparam a Terra no passado. Aqui Deus dá mandamentos e princípios que toda humanidade deveria obedecer e seguir enquanto cresciam e se multiplicavam sobre o planeta. Mas infelizmente, não são poucos os que creem no Criador e desconhecem essa aliança que Ele tem com eles.
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Estes mandamentos de Deus para toda humanidade listados nos primeiros versículos de Gênesis 9, bem como em outros trechos da Bíblia, têm sido objeto de estudo ao longo do tempo, e diversos sábios do povo judeu já fizeram comentários a respeito deles. Eles tem servido de apoio para as pessoas que querem seguir a Deus, sem no entanto aderir a uma religião específica. Mas infelizmente, em não poucos ambientes religiosos, são ignorados, desconhecidos ou pouco valorizados.
Mas não temos uma aliança com Deus através de “Jesus Cristo”?
Geralmente, muitas pessoas costumam afirmar que fazem parte da “nova aliança” de Deus através de “Jesus Cristo”; entretanto, se alguém nem sequer fez parte da primeira aliança, como poderia fazer de uma “nova”?
Lamentavelmente, enquanto seguíamos (e muitos ainda seguem) uma versão deturpada da chamada “nova aliança”1, nem sequer conhecíamos a verdadeira e primária aliança que Deus tem com todos os seres humanos. Isto porque os líderes religiosos se fizeram negligentes para explorá-la, segui-la e explicá-la aos seus liderados.
1. Para mais informações, leia o estudo “O que é a nova aliança que ‘Jesus’ fez em Lucas 22:20?“.
Mesmo nos tempos do chamado “novo testamento”, os mandamentos de Deus para a humanidade em Gênesis 9 tem grande importância.
Essa aliança de Deus com Noé e a humanidade é tão relevante, que foi reforçada como orientação inicial para os crentes não-judeus do 1º século de nossa era. Por exemplo, se eu e você vivêssemos naquele tempo, e fôssemos orientados pessoalmente pelos chamados “apóstolos“, certamente teríamos conhecido essa aliança logo no início de nossa caminhada.
Naquela época, os principais líderes da comunidade de discípulos do mestre Ieshua relacionaram os crentes estrangeiros (gentios) com essa aliança. Eles decidiram que os gentios que estavam se agregando a eles, deveriam iniciar sua caminhada obedecendo os mandamentos de Deus para a humanidade ordenados em Gênesis 9. Basta entender o contexto de Atos 15:19-21 para perceber isso.
Ali, resumidamente, ao menos 4 mandamentos são mencionados no v. 20, são eles:
- Não se envolverem com idolatria. Ou seja, os crentes estrangeiros deveriam acreditar que o Deus de Israel é o único verdadeiro. Portanto, eles deveriam se abster de costumes, hábitos e crenças dos deuses em que as nações acreditavam.
- Não praticar imoralidade sexual. Isso inclui não adulterar, não ter relações sexuais com parentes próximos, animais ou pessoas do mesmo sexo e etc.
- Não comer carne de animais sufocados, ou seja, daqueles mortos naturalmente, que não tiveram o processo de abate adequado.
- Não comer sangue dos animais.
É claro que cada mandamento tem consigo uma série de ramificações, e é nosso dever explorá-las, a fim de prestar melhor obediência a Deus.
Ao praticarem os mandamentos dessa aliança primeiro, os crentes estrangeiros deveriam continuar inseridos num processo de aprendizagem dos demais mandamentos de Deus. Eles também deveriam se manter unidos ao povo de Israel. É por isso que no v. 21 de Atos 15 é dito que Moisés era lido todo dia de shabat (sábado de manhã) nas sinagogas, porque era lá, e neste dia (principalmente), que tais discípulos estavam aprendendo gradativamente as Escrituras.
Aliás, o próprio Saul, conhecido como “apóstolo Paulo”, ensina que a finalidade da morte do Messias também foi unificar os gentios ao povo de Israel, basta ver Ef 2:11-13, por exemplo. Isso deveria nos levar a questionar: “Por que eu não estou unido ao povo de Israel (o povo de Deus) hoje? Por que isso nunca foi ensinado na minha igreja?”
Aqueles tementes a Deus que não são israelitas, mas procuram obedecer tais leis e mandamentos Dele para a humanidade inteira, ficaram conhecidos como “bnei Noach“. Isso, traduzido literalmente, quer dizer “filhos de Noé“. Porque Noé é considerado o primeiro monoteísta do início de uma nova fase da humanidade. Por isso, outro termo também usado para definir tais crentes seria “monoteístas gentios“, ou seja, pessoas não israelitas que creem e exercem fidelidade unicamente ao Deus de Israel dentro deste grupo de mandamentos.
Eu já escrevi outros estudos acerca deste tema. Você pode conferir “Aliança de Deus com Noé e as 7 leis universais“, e “Bnei Noah: o que é e como ser um“.
Basicamente, os 7 mandamentos da aliança universal de Deus com toda humanidade são:
- Refletir a imagem do Deus único e verdadeiro na natureza e para a humanidade: Gn 1:27; 9:6b.
- Isso inclui não criar outros deuses nem praticar idolatria.
- Usar da inteligência dada por Deus para governar, administrar e cuidar da criação: Gn 1:26; 9:2.
- Formar família (“sejam fecundos”): Gn 1:28; 9:1,7.
- Isso inclui ao pai ser fiel à sua mulher, e vice-versa, além de cuidar da família; aos filhos honrarem e obedecerem seus pais, e outros valores semelhantes; vide Ef 6:1-4.
- Aqui, naturalmente, também está definido o padrão para vida sexual do ser humano, ou seja, Deus criou homem para se relacionar sexualmente com mulher; só assim, por meio natural, podem constituir família. Consequentemente, o ser humano não deve se relacionar sexualmente com pessoas do mesmo sexo, nem com animais, porque Deus definiu cada criatura de acordo com sua espécie. Mais à frente na história, em Levítico 18:22-28+, Deus esclarece para o povo de Israel que as nações estavam cometendo pecados sexuais como esses, e dentre outros, coisas que eram abomináveis à vista Dele, e que atraíram Seu juízo.
- Formar civilização (“multipliquem-se e encham a terra”): Gn 1:28; 9:27.
- Uma civilização precisa de leis para definir a justiça e o respeito ao próximo.
- Criar sistemas de governo enquanto administra corretamente o mundo: Gn 1:28b; 9:7b.
- Não comer carne com sangue: Gn 9:4-5.
- Isso inclui, obviamente, não comer o animal enquanto ainda está vivo. O abate adequado deveria acontecer antes para o animal não ficar sofrendo, e seu sangue deveria ser derramado e jamais consumido.
- Não assassinar: Gn 9:6.
- Isso inclui também respeitar a vida do próximo, não roubar, não agredir sem causa, etc.
Como eu já mencionei antes, os mandamentos universais tem dezenas de ramificações.
É claro que se formos mais a fundo em cada mandamento e explorarmos a vida de Noé e seus ascendentes também monoteístas, teremos outros valores para extrair de cada um. Na verdade, cada mandamento tem vários outros ensinamentos “embutidos” em si. Porém, um conteúdo mais extenso exigiria uma página exclusiva para o tema, do qual livros já foram escritos para explicar, como As 7 Leis Universais, Guia Para Uma Vida Espiritual Plena, do HaRav Yoel Schwartz.
Por fim, Deus concluiu sua aliança com toda humanidade prometendo não trazer mais as águas do dilúvio no mundo. Ele colocou um arco nas nuvens a fim de lembrar disso para sempre (vs. 12-17).
Você sabia dessa aliança que Deus tem contigo? Isso já foi ensinado no meio religioso que frequenta? Responda nos comentários mais abaixo.
5 Comments
Parabéns pelo estudo. Faz sentido tudo o que você expôs aí.
[…] ser humano, e não somente o israelita, como podemos ver em Gn 9:3-6 e em nosso estudo sobre os mandamentos universais de Deus para a humanidade, publicado no Blog Bíblia se […]
E o que dizer das transfusões de sangue? São permitidas?
Não ensina, não, para falar a verdade muitas igrejas evangélicas ultimamente, mal citam os Dez mandamentos, menos ainda, a Aliança de Deus Com Noé para com a humanidade… Eu não sei bem o porquê.
A maioria delas querem vender sua religião, seus ideais religiosos, e seus métodos religiosos de entretenimento, é isso (eu disse a maioria, e não todas). Um comprometimento com Deus de verdade deve matar o ego de cada indivíduo, e promover a humildade, rendição à obediência dos mandamentos na forma que eles são. Mas as justificativas teológicas egoístas da religião impedem isso.