Last updated on 26/08/2023
O tema a respeito da guarda do sábado gera não pouca discussão nos dias atuais. Afinal de contas, Jesus e seus discípulos guardavam o sétimo dia da semana, santificado por Deus desde o início da criação, ou não? O desprezo da grande maioria das denominações cristãs à santificação deste dia tem bases bíblicas? Como realmente viviam o Salvador e seu grupo de seguidores primitivos? Eles verdadeiramente trocaram o sábado pelo domingo como dia de culto e devoção a Deus? Deveriam os crentes atuais santificar o chamado Shabat, isto é, o sábado bíblico?
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O sábado como um sinal entre Deus e os israelitas.
Sabemos que a guarda/santificação do dia de sábado é um dos principais mandamentos de Deus na Bíblia, pois ele se encontra entre os 10 mais importantes, os chamados 10 mandamentos; vide Êxodo 20:8-11 e Deuteronômio 5:12-15. Neste contexto, Deus está firmando sua aliança com o povo de Israel no deserto do Sinai (Dt 5:1-3). Isto é, os descendentes sanguíneos dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, que formam a nação escolhida por Deus para representá-lo diante do mundo, deveriam se lembrar de santificar este dia especial.
Um texto que esclarece isso ainda mais é Êxodo 31:12-18, o qual vamos recitar agora, extraindo de uma tradução bíblica comum mesmo:
¹² Disse mais o Senhor a Moisés:
Êxodo 31:12-18 Nova Almeida Atualizada
¹³ — Fale aos filhos de Israel e diga-lhes o seguinte: “Certamente vocês guardarão os meus sábados, pois é sinal entre mim e vocês de geração em geração, para que vocês saibam que eu sou o Senhor, que os santifica.
¹⁴ Portanto, guardem o sábado, porque é santo para vocês. Aquele que o profanar morrerá; quem nesse dia fizer alguma obra será eliminado do meio do seu povo.
¹⁵ Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao Senhor; quem fizer alguma obra no dia do sábado morrerá.
¹⁶ Os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua de geração em geração.
¹⁷ Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, o Senhor fez os céus e a terra e, no sétimo dia, descansou e tomou alento.”
¹⁸ Quando o Senhor acabou de falar com Moisés no monte Sinai, deu a ele as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.
Como lemos claramente neste texto, a aliança do sábado é entre Deus e os israelitas especificamente, e para sempre! O texto também deixa claro que o sábado bíblico, que começa no anoitecer da sexta feira e termina no pôr do sol do dia seguinte, tem relação direta com os dias da criação, em que Deus cessou sua obra e, digamos, descansou no sétimo dia (Gn 2:1-3). Ao cessarem seus trabalhos e descansarem neste dia semanal também, os descendentes de Abraão estariam testemunhando de que existe um Deus que criou todo o universo dentro do espaço de sete dias, sendo que o último foi santificado (separado dos demais) para seu repouso.
Os israelitas (judeus), portanto, são obrigados por aliança divina a pararem suas atividades e repousarem no sábado (Shabat), em memória do Criador e testemunho diante do mundo. Só eles são obrigados a isso! (o texto bíblico é claro)
Eles devem repousar e realizar atividades que os conectem com o Divino. É claro que é louvável uma pessoa não israelita (não judeu) reconhecer a importância deste dia também e, de alguma forma, dedicá-lo ao Soberano. Falaremos um pouco mais disso adiante.
Alguns trechos do livro do Êxodo confirmam o que eles, os israelitas, deveriam ou não fazer no santo dia. Vamos conferir algumas coisas:
Uma das primeiras lições que os israelitas aprenderam, relacionado ao dia de sábado, logo assim que saíram do Egito, é que eles deveriam fazer preparativos para este dia, especialmente cozinhar, veja Êxodo 16:4-5,11-30.
Adicionalmente, quando Moisés convoca o povo para construir a Tenda Sagrada onde Deus habitaria entre os israelitas, introduz seu discurso ressaltando que fariam tal trabalho apenas por 6 dias, e no sétimo deveriam descansar, veja Êxodo 35:1-11+.
Dessa forma, a guarda do dia de sábado permaneceu (e permanece) sendo santa para o povo israelita, não obstante muitos deles terem violado essa aliança divina no decorrer da história, mas isso é assunto para outro momento.
Isso tudo quer dizer que são os israelitas que preservam a forma correta e original de se guardar/santificar o sábado (Shabat), por tratar-se de uma aliança divina específica com eles!
Sabemos que Deus santificou o sétimo dia da semana desde o início da criação, como relata o início do texto de Gênesis capítulo 2. Por isso, ainda antes da existência da nação israelita, já deveria existir alguma prática relacionada a este dia, embora a Bíblia não dê detalhes. Então certamente é louvável quando uma pessoa temente a Deus cesse seus trabalhos neste dia, em memória do Criador.
Mas a aliança sabática em sua plenitude foi dada de fato ao povo de Israel, sob orientação de Moisés. Tanto que em certa ocasião, quando um homem desprezou o repouso no dia de sábado, os israelitas não souberam o que fazer (Nm 15:32-36). Além disso, o texto bíblico testemunha que a guarda do dia de sábado era algo novo para a nação eleita, porque no deserto Deus lhes dava várias lições didáticas de como santificar este dia. Logo, eles receberam instruções diretas do próprio Deus, e preservaram isso tudo em suas tradições, não obstante alguns dentre eles terem feito muitos acréscimos não divinamente inspirados, mas abordaremos isso em outro estudo.
Então, qualquer grupo religioso que inventa formas próprias de se santificar o sétimo dia da semana para Deus, não o faz submetido à maneira que o próprio Deus determinou, porque Israel é quem recebeu essa maneira. Isso, infelizmente, acaba sendo uma forma de distorção da aliança divina, embora muitas pessoas tenham boa intenção com tal gesto, apenas desconhecem ou ignoram que o povo de Israel, até aqueles que sempre tiveram Yeshua como o Messias, ainda está vivo! E, na verdade, o próprio Deus declara nas Escrituras que Israel jamais deixaria de ser uma nação doente dele, e mesmo que pecassem, jamais anularia Sua aliança com eles (Jr 31:35-37; Sl 89:30-37).
Mas aqueles que deliberadamente desprezam a aliança divina com Israel estão simplesmente expondo seu orgulho ou, em certos casos, ignorância. Devo frisar, porém, que certamente existem pessoas dentro desses grupos que “santificam” o sábado com intenção sincera, ainda que sob uma maneira não original. Não sou o juiz aqui, só estou expondo coisas que já estão escritas na Bíblia.
Na verdade eu, particularmente, acho uma boa iniciativa essas pessoas quererem santificar o dia de sábado. No entanto, deveriam se aproveitar dessa ocasião e se unir a uma comunidade do povo de Israel para aperfeiçoar isso, e fazer do jeito bíblico mais correto, já que era assim que os gentios também viviam sob a orientação dos apóstolos, no primeiro século de nossa era, o que mostrarei mais adiante. Também darei sugestão de algumas comunidades judaicas no final do texto.
Então, as pessoas não-israelitas (não judeus ou gentios) que queiram devidamente santificar o sábado para o Eterno, devem fazê-lo por meio de orientação do povo de Israel, e nós vamos conferir agora mesmo um texto bíblico que confirma isso.
A guarda/santificação do sábado para os estrangeiros (gentios ou não judeus).
² Bem-aventurado quem faz isto, e aquele que nisto se firma, que se guarda de profanar o sábado e guarda a sua mão de cometer algum mal.”
Isaías 56:2-8 Nova Almeida Atualizada
³ O estrangeiro que tiver se unido ao Senhor não deve dizer: “O Senhor certamente me excluirá do seu povo.” E um eunuco não deve dizer: “Eis que eu sou uma árvore seca.”
⁴ Porque assim diz o Senhor: “Aos eunucos que guardam os meus sábados, escolhem aquilo que me agrada e abraçam a minha aliança,
⁵ darei no meu templo e dentro das minhas muralhas um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas; darei a cada um deles um nome eterno, que nunca se apagará.
⁶ Aos estrangeiros que se aproximam do Senhor, para o servir e para amar o nome do Senhor, sendo deste modo servos deles, sim, todos os que guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a minha aliança,
⁷ também os levarei ao meu santo monte e lhes darei alegria na minha Casa de Oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada ‘Casa de Oração’ para todos os povos.”
⁸ Assim diz o Senhor Deus, que congrega os dispersos de Israel: “Ainda congregarei outros aos que já se acham reunidos.”
Ao ler atenciosamente este pequeno capítulo do livro do profeta Isaías, quase que completamente dedicado a falar da guarda do sábado, percebemos algumas coisas interessantes.
Primeiro, o texto ilustra um estrangeiro que se questionava que ficaria excluído do povo de Deus (v. 3). Mas quem é este povo? Ora, se há um estrangeiro, então há um povo natural, e não é difícil concluir que este é Israel! Como vamos conferir na continuidade da leitura (bem como no contexto do próprio livro).
Segundo, o texto fala de estrangeiros e eunucos que abraçaram a aliança divina (vs. 4,6). Eles se aproximaram de Deus desta forma. Mas que aliança é essa? Obviamente, uma aliança já feita anteriormente, e como nós conferimos neste presente estudo bíblico, trata-se da aliança do sábado firmada entre Deus e os israelitas!
Ou seja, Deus, através do profeta Isaías, está mencionando uma cena de pessoas estrangeiras, isto é, gentios ou não judeus, que por amor estavam abraçando a aliança divina com os judeus! Isto é, eles estavam guardando o sábado do modo que Israel guarda, pois estes receberam essa forma do próprio Deus, como já dissemos.
Era por isso que tais estrangeiros mencionados no texto tinham receio de ficarem excluídos do povo de Deus (Israel), porque, não obstante o cenário de dispersão deste povo de suas terras nos tempos do profeta Isaías, o Eterno já estava lhes fazendo promessas de restauração, e o estrangeiro queria fazer parte disso, e por terem abraçado a aliança divina com Seu povo, Deus estava prometendo-lhes recompensas também.
Além do texto fazer referência direta à cidade de Jerusalém, onde dentro de seus muros localizava-se (e se localizará) a Casa de Oração de Deus, ele conclui afirmando que outros povos seriam agregados ao povo israelita (v. 8).
Portanto, todo o texto está defendendo uma forma judaica (bíblica) de se guardar o sábado, quero dizer, uma forma que Deus deu ao povo judeu (ou ao povo de Israel) nas Escrituras Sagradas; e os estrangeiros que quisessem (e querem) santificar o sétimo dia da semana para Deus, deveriam fazê-lo através da união com o povo israelita!
Agora, sabendo disso tudo, como será que Jesus e seus discípulos, sendo judeus/israelitas, lidavam com a questão da guarda do sábado? Será que o homem considerado o Messias para não poucas pessoas ao redor do mundo, violou ou tratou com desprezo o dia santificado por Deus para sempre? Será que seus discípulos também agiram assim?
O que, basicamente, Jesus e seus discípulos faziam no Shabat (sábado)?
Muitas pessoas, teólogos e até líderes religiosos dão voltas e mais voltas no texto bíblico para defender a ideia de que Jesus e seus discípulos quebraram ou abandonaram a guarda do dia de sábado. É claro que eles fazem isso com a intenção de justificar sua religião.
No entanto, o texto bíblico é claro e simples, por isso vou apenas recitar alguns versículos e permitir que a Bíblia fale por si mesma.
O que Jesus e seus discípulos faziam no dia de sábado?
- Eles descansavam, veja Lc 23:54-56.
- Dedicavam-se à oração, At 16:13.
- Reuniam-se para ler e estudar trechos específicos das Escrituras, que até hoje em dia são lidos no mundo todo pelo povo de Israel, simultaneamente e na mesma sequência, confira Lc 4:16,31, At 13:14-15, 15:19-21, 17:1-2 etc.
- Ao final do shabat (anoitecer do sábado), faziam a Havdalá, uma refeição de despedida do shabat que ainda hoje é praticada pelos judeus, vide Atos 20:7.
- Dentre outras coisas.
Por fim, todo argumento de que Jesus e seus discípulos violaram e desprezaram a santificação do dia de sábado não passa de uma mentira, e outros textos bíblicos comprovarão isso. Em Atos 21:19-24 lemos o testemunho de que milhares de judeus haviam acreditado em Jesus (Yeshua) naquela época, e todos eles permaneceram zelosos da Lei de Deus. O mesmo trecho afirma que o próprio chamado “apóstolo Paulo” continuava fiel à Lei Divina. Em Atos 24:14 lemos da boca do próprio Paulo a confissão de que a comunidade que ele fazia parte, chamada Caminho na época, que era a comunidade de discípulos do Senhor, continuava a concordar com tudo que dizia a Lei e os profetas. Em 25:8 ele diz que não havia cometido nenhum pecado contra a lei dos judeus, e finalmente em 28:17 afirma não ter lutado contra os costumes de seus antepassados.
Será que, diante de tais provas bíblicas, deveríamos prolongar mais o assunto? Todavia, eu preciso chamar atenção para alguns versículos mencionados no item 3 da lista acima.
Os gentios e a comunidade de discípulos do Senhor.
Em Lucas 4:16 lemos uma informação chave, muito interessante por sinal. É que o texto afirma que o Mestre não só entrou numa sinagoga no dia de sábado para ler as Escrituras, como também tinha o costume de fazer isso. Ou seja, durante toda sua vida, Jesus frequentou uma sinagoga judaica e aprendia ali as Escrituras através do sistema de ensino das porções semanais da Torá, que ainda está em plena atividade até os dias de hoje, pelo povo de Israel.
Que denominação religiosa que alega seguir a Jesus de verdade usa deste costume hoje em dia? Dificilmente encontra-se uma sequer. Praticamente todas se extraviaram do costume dele, desprezaram a santificação do dia que ele santificava, trocando-o por outro, cujas bases alegam ser bíblicas, mas como vemos não são. O livro de Atos 13:14-15, dentre outros versículos, confirmam que seus discípulos não se afastaram deste costume israelita de ensino da Lei de Deus (pois um discípulo deve seguir os passos de seu mestre).
E para dizer mais, o trecho de Atos 15:19-21 nos revela que até mesmo os seguidores estrangeiros (gentios) do Messias Yeshua estavam envolvidos no estudo das Escrituras no dia de sábado, dentro das sinagogas judaicas, e assim junto ao povo de Israel. E não era para ser diferente, pois o ensinamento dos apóstolos visava unir os gentios às comunidades do povo de Israel, eles jamais intentaram construir um novo povo ou nova religião! Vide Ef 2:11-13. Para mais detalhes, leia o estudo “Os Gentios deveriam se unir aos Judeus no servir a Deus?”.
Embora tenha sido decidido na cena abordada no texto de Atos 15 que tais seguidores estrangeiros não tinham a obrigação de praticar todos os costumes da Lei de Deus de imediato, estes estavam lá, juntos, seguindo os passos do Salvador e de seus discípulos. E isso corrobora com o texto de Isaías 56, lido mais acima, de que os estrangeiros que querem santificar o dia do sábado devem fazê-lo por meio de uma orientação israelita, e não a seu bel-prazer, criando seus próprios meios através de denominações religiosas (haja vista que dois dos principais líderes daquela comunidade eram israelitas: Paulo era um rabino fariseu, da tribo de Benjamim (Rm 11:1; Fp 3:5), e Barnabé um levita (At 4:36-37)).
Por fim, essa é a nossa exposição acerca de como Jesus, isto é, o Messias Yeshua e seus discípulos viviam no dia de sábado bíblico (pôr do sol da sexta feira até pôr do sol do sábado). E a título de curiosidade que porventura alguns possam ter, nós temos estudado as Escrituras e nos unido ao povo de Israel no serviço a Deus através de estudos bíblicos online com a Comunidade Judaica Netzari do Pará, sob orientação do rosh (líder de comunidade) Yoná Sibekhay. A Sinagoga Sem Fronteiras e o Ministério Ensinando de Sião também tem Yeshua como o Messias.
5 Comments
Muito boa a sua exposição, fui muito edificado. Porém, sou completamente iniciante em relação a essa visão messiânica, e não ficou claro pra mim se nós, que não somos judeus mas queremos ser fiéis a Deus, precisamos de fato cumprir o sábado.
Se isso é exclusivo ao povo de Israel, a lei do sábado simplesmente não se aplica a mim? Ou só se aplica, se eu quiser fazer parte do povo de Israel? Todos devemos fazer parte do povo de Israel? Não entendi muito bem.
Olá Eduardo, eu te respondi pelo Whatsapp, mas vou resumir aqui. O descanso no 7º dia da semana pode ser considerado universal para a humanidade e tem relação direta com os dias da criação, vide Gn 2:1-3 e Mc 2:27. Ou seja, quando cessamos nosso trabalho exatamente no 7º dia da semana, testemunhamos que existe um Deus Criador por trás de nossa existência, que criou tudo em 6 dias e no sétimo cessou sua obra. Mas, de acordo com Êxodo 31:13-17 e Lv 23:1-3, o próprio Criador colocou o povo de Israel como o guardião do descanso de sábado, isto quer dizer que eles conservam a maneira correta de se santificar este dia. Então qualquer não judeu pode santificar o sábado, porém só fará isso de forma correta e plena se aprender dos judeus, jamais por métodos próprios alternativos.
Excelente exposição sobre guardar o shabat , há muita distorções no meio evangélico em expor de maneira exegética sobre o assunto,
Obrigado pelo comentário Hector.
Excelente estudo meu irmão, na verdade hoje, nós que aceitamos o sacrifício de yeshua somos todos Israel de Deus pois os filhos de Deus estão dispersos por todas as nações muito obrigada quero encontrar uma comunidade judaica e aprender mais sobre os costumes