Os gentios deveriam se unir a Israel no serviço a Deus?

Um homem segurando a bandeira de Israel em frente ao muro das lamentações ilustrando a união dos gentios a Israel (ou aos judeus) no serviço a Deus

Deus comunicou sua mensagem e seus ensinamentos à humanidade através de homens específicos nos dois primeiros milênios da história, exemplo: Adão (Gn 1:27-28), Seth e seu filho Enos (4:26), Enoque (5:24; cf. Hb 11:5), Matusalém e Noé (Gn 6:9; cf. Hb 11:7), Sem (9:26), Héber (Gn 11:16-17), de onde vem as nomenclaturas “hebreus” e “hebraico“, etc. Depois que chamou Abraão, contudo, Deus determinou que os descendentes dele seriam sua nação peculiar dentre todas as nações da Terra, e portanto os principais comunicadores de Sua mensagem. Esta nação é o povo de Israel, ou seja, os fiéis judeus entre eles (Gn 17:7). A partir de então, não obstante às infidelidades passadas de muitos dessa nação, Deus tornou os fiéis entre eles os comunicadores oficiais de seus ensinamentos ao mundo, veja por exemplo Deuteronômio 4:5-10, 18:15, 33;2-5, Salmo 147:19-20, Amós 3:7, Romanos 3:1-2, etc. Mas será que, depois, Deus retirou essa Palavra de Israel, rejeitou seu povo e confiou seus oráculos a outra nação, povo ou religião?

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Absolutamente, Deus não rejeitou o seu povo, Israel, nem mesmo devido a infidelidade de muitos entre eles.

Isso já estava dito nos profetas, como em Jeremias 31:35-37, e depois continuou a ser confirmado pelos discípulos de Yeshua (Jesus), basta ver Romanos 11:1-5, por exemplo. Mesmo em meio aos pecados de reis e muitas outras pessoas dentre essa nação, e quando eles já estavam sendo dispersos pelo mundo devido sua deslealdade (séc. 8 AEC), Deus os chama de “minhas testemunhas“, declarando-lhes seu amor, vide Isaías 43:1-15,

Portanto, embora Deus tenha agido com justiça, lhes punindo os pecados e tirando-lhes completamente a nação no ano 70 de nossa era, como sabemos, também deixou firme sua promessa de restauração, que inclusive se iniciou quando Israel voltou a ser uma nação diante do mundo, em 1948. Aliás, à título de curiosidade, foi um brasileiro, chamado Oswaldo Aranha, que presidiu a Assembleia Geral da ONU que decretou Israel como um Estado independente naquela época. Por isso, nenhum argumento de que Deus rejeitou os descendentes de Abraão, trocando-os por outro povo ou religião, pode sobreviver.

Dada essa introdução histórica, devemos falar agora, apresentando argumentos bíblicos, por qual motivo os gentios (as pessoas crentes das demais nações) devem se unir a Israel no serviço a Deus, e não apartarem-se do povo eleito, criando movimentos religiosos independentes, crenças e costumes a seu bel-prazer, baseados em interpretações bíblicas alheias ao povo da Bíblia.

Os gentios que se uniram a Israel no decurso da história.

Primeiro, devemos mencionar os gentios (ou estrangeiros) que se uniram ao povo israelita no decurso da história. Eles já são bem conhecidos dos leitores bíblicos e daqueles que se sentam nos templos religiosos frequentemente e ouvem os sermões de seus pregadores. Com isso, queremos mostrar que o processo de união ao povo eleito já é algo muito antigo, e que continuou a ser alimentado pelos discípulos de Yeshua, chamado Jesus no cristianismo, o que mostraremos mais adiante.

Jó.

Um dos homens mais famosos da Bíblia, que viveu na época patriarcal entre, aproximadamente, os anos 1998 a 2168 da criação. Jó tem um dos testemunhos de temor e fidelidade a Deus mais surpreendentes da Bíblia. O próprio Deus testemunha a seu respeito dizendo que ele era um homem íntegro e reto (fiel), temente a Deus e que se desviava do mal (Jó 1:8).

A Bíblia diz que sua origem era da terra de Uz, que era o nome de um sobrinho de Abraão e de um de seus antepassados mais distante (cf. Gn 22:20-22 e 10:22-23).

Jó não teve a oportunidade de se unir ao povo israelita, pois este ainda não exista em sua época, naturalmente. Mas, por ser morador do sul de Canaan, razoavelmente próximo de onde Abraão habitou por volta de seus 75 anos (Gn 12:4-5), Jó possivelmente, por volta dos seus vinte anos de idade, ouviu falar do Eterno pelos lábios do próprio Abraão, que era Seu profeta (Gn 20:7).

Embora Deus tivesse escolhido o patriarca dos hebreus, Abraão, para ser seu profeta e dele fazer surgir a nação de Israel, outros homens ao redor do mundo o temiam também, e o seguiam conforme Seus escolhidos faziam.

Raab.

Depois de Israel se tornar uma nação e ser liberto da escravidão egípcia antiga, Raab, uma meretriz de Jericó, foi uma das primeiras pessoas estrangeiras a crerem no Eterno, o Deus de Israel, e se unir a este povo, juntamente com sua família (sem contar os estrangeiros que saíram do Egito com eles, vide Êx 12:37-38). Essa mulher relata uma das mais lindas confissões bíblicas de temor a Deus, veja Josué 2:8-13.

Depois que os israelitas conquistaram a cidade de Jericó, destruindo todos os seus moradores, pouparam apenas Raab e sua família, como tinham prometido. Então ela passou a viver dentre o povo israelita, depois de demonstrar tal temor e confiança no Todo-Poderoso (Js 6:21-25).

Ruth.

Ruth, cujo livro/relato é pequeno, tão conhecida na Bíblia, foi a responsável por uma das mais claras declarações de união não só ao Deus do povo de Israel, mas ao povo desse Deus também.

Depois de ter perdido seu sogro, seu marido e seu cunhado, sua sogra lhe aconselhou a retornar aos seus pais e aos seus deuses. Porém, renunciando tal conselho, ela disse:

— Não insista para que eu a deixe nem me obrigue a não segui-la! Porque aonde quer que você for, irei eu; e onde quer que pousar, ali pousarei eu. O seu povo é o meu povo, e o seu Deus é o meu Deus.

Ruth 1:16

Como sabemos, no final dessa história, Ruth, uma moabita, vive entre o povo de Israel e torna-se a bisavó do rei Davi (Rt 4:13-22).

Outros estrangeiros se uniram ao povo eleito no decurso da história antiga de Israel, e o texto de Isaías 56:3-7 é um exemplo claro disso.

Cornélio.

A história de Cornélio é não pouco conhecida na Bíblia. Ele era um centurião, ou seja, um chefe de um grupo de 100 soldados do exército romano, provavelmente da Itália (vide Atos 10:1).

A Bíblia relata que este homem era temente ao Deus de Israel, juntamente com toda sua família. Ele fazia muitos donativos aos pobres e orava ao Eterno no mesmo horário padrão que os judeus, provavelmente três vezes por dia e voltado para Jerusalém, pois foi num desses horários de oração que um mensageiro de Deus (anjo) se mostrou a ele numa visão (At 10:3-4; cf. Dn 6:10).

Ou seja, Cornélio era um homem temente ao Deus dos judeus e já havia desenvolvido certa disciplina nos costumes judaico-bíblicos. Ele precisava de aperfeiçoamento nisso, de elevar seu nível de contato com o Criador, por isso o Mesmo envia Seu mensageiro para revelar que ele deveria ouvir um dos servos da comunidade de Seu filho, Yeshua. Assim Deus envia Simão Kêfa (Pedro) até lá (At 10:9-20).

Até esta altura, a comunidade de discípulos do Messias era composta de grande maioria judaica e apenas alguns convertidos (prosélitos) entre eles, como o Nicolau mencionado em Atos 6:5 e o grupo mencionado no v. 1.

Os judeus não tinham por costume se misturar com pessoas de outras nacionalidades, Simão deixa isso bem claro em Atos 10:28. No entanto Deus, que é misericordioso para com todos os sinceros que o invocam, independente da nacionalidade (Sl 145:18), faz com que Cornélio procure um dos discípulos de Yeshua para que recebesse dele orientação e fosse aperfeiçoado no caminho divino.

Mas devemos observar que Deus não ordena àquele centurião gentio abrir uma congregação religiosa na varanda de sua casa ou em qualquer outro lugar locado. Na verdade, o Eterno manda ele procurar um líder da comunidade israelita de discípulos do senhor Yeshua, e foi o que ele fez. Depois disso, Cornélio, que já desfrutava de certa união com o povo israelita, certamente se tornou mais completo e orientado no caminho que Deus transmitiu aos seus filhos de Israel.

O etíope da rainha Candace.

Semelhante ao caso de Cornélio, também temos o exemplo de um etíope, servo da rainha dos etíopes, chamada Candace. Este homem certamente conhecia ao povo judeu e já desfrutava de certa proximidade com eles, pois Atos 8:27 afirma que ele estava indo para Jerusalém, afim de adorar ao Eterno, Deus dos hebreus (provavelmente no tempo de uma festa bíblica de peregrinação). Além disso, em sua carruagem, ele lia as Escrituras dos profetas de Israel, mais precisamente o profeta Isaías (v. 28).

A este homem se dirigiu Filipe, tendo sido impelido pela inspiração da santidade; e Filipe era um dos sete servidores escolhidos em Atos 6:5 (cf. 21:8), portanto fazia parte da comunidade de discípulos de Jesus (Yeshua).

O discípulo do Salvador então anuncia as boas novas ao etíope, que abraça a fé de que Yeshua era o Ungido (Messias), o Filho do Deus vivo (cf. vs. 35-39). Mas observe que, depois disso, tal homem não volta para sua nação afim de abrir uma congregação para si ou fundar uma nova religião. Na verdade, o texto diz que ele continuou seu caminho para Jerusalém (v. 39), o que indica naturalmente que o culto, os costumes e o serviço do povo judeu não foram abolidos por Deus ou por seu Messias (do contrário, Filipe não o teria proibido de ir até lá?). Em vez disso, este serviço foi plenificado (cf. Mt 5:17-19), não obstante à destruição que se seguiu depois, devido à indisciplina de certa parcela do povo.

Os gentios que se uniram à comunidade de discípulos de Jesus.

Naturalmente, houveram muitos outros gentios tementes ao Deus de Israel que se uniram ao Seu povo no decorrer da história. Eles eram conhecidos como os tementes a Deus, ou os prosélitos em algumas traduções bíblicas. Veja por exemplo Salmo 115:11,13, Atos 2:11, 13:43, 16:14, 17:4,17 etc.

E para quem não sabe ou não percebeu, também era assim para com a comunidade de discípulos do senhor Jesus, o ungido. Porque as pessoas geralmente pensam que eles se separaram do povo eleito e fundaram uma comunidade de gentios, mas o texto bíblico relata muito o contrário, basta ler com atenção os relatos de Atos capítulo 15:1-35, os quais brevemente descreverei agora.

Saul (Paulo) e Barnabé estavam a certo tempo ensinando na comunidade de Antioquia da Síria (At 11:25-26, 12:25-13:2, 14:25-28). Anteriormente, nesta cidade, um grande número de gentios haviam se unido à comunidade de discípulos de Yeshua, vide Atos 11:19-24. Notamos, neste último texto bíblico referenciado, que os líderes de Jerusalém, entre os quais estava Simão (Pedro), que havia agregado Cornélio aos discípulos, enviam um deles, Barnabé, para a Síria, a fim de orientar melhor os discípulos gentios, que estavam em número crescente por lá.

Em certo tempo, então, um determinado grupo de fariseus que estava fazendo parte dos discípulos viram o número de gentios ali. Eles começaram a impor que todos deveriam ser circuncidados e guardar o restante da Lei de Moisés (isto é, a Lei de Deus). Mas Paulo e Barnabé não concordaram com tal método, e depois de certa discussão foram à liderança principal dos discípulos, que estava em Jerusalém (At 15:2).

Para resumir a nossa história, a decisão final quanto a estes discípulos gentios é que os judeus não deveriam fazer imposições forçadas para que guardassem de imediato costumes israelitas (vs. 19-20).

Antes, eles deveriam obedecer a um conjunto básico de mandamentos. E no versículo 21 deste capítulo temos a chave para entender todo o contexto dessa situação. Pois é dito que Moisés (ou seja, a Lei de Moisés) tinha seus pregadores em muitas cidades desde tempos antigos; isto é, os professores de Torá (rabinos) e os líderes israelitas, conhecidos pela nomenclatura hebraica “rosh” hoje em dia (uma espécie de líder comunitário).

Mas, ao ler este texto, todos deveríamos nos perguntar: se a questão era a respeito de como os discípulos gentios seriam doutrinados, por que é dito que Moisés era lido cada dia de sábado nas sinagogas desde tempos antigos? Era porque, evidentemente, era nas sinagogas judaicas, e no dia de sábado (shabat), que os discípulos estrangeiros estavam ouvindo as leis de Moisés. Por isso, não era necessário impor obediência de determinados costumes a eles, porque os próprios discípulos iriam aderir a tais costumes voluntariamente, uma vez que estivessem prontos a isso, enquanto permaneciam sob a orientação e ensino do povo de Israel.

E para completar nosso estudo, era esta mesma unificação dos gentios ao povo israelita que defendia o chamado “apóstolo Paulo” no mundo cristão. Basta ver, por exemplo, Efésios 2:11-13, onde ele diz que uma das finalidades da morte do Messias (Cristo), foi justamente inseri-los nas comunidades do povo de Israel, e não o contrário, isto é, desprezar os israelitas/judeus como povo de Deus, usando uma nova religião como veículo de promoção. Veja também Romanos 11:15-18, onde a mensagem se torna ainda mais forte através da ilustração de que os judeus são a raiz, e os gentios os galhos que são sustentados por ela.

Além do mais, a comunidade de discípulos do Salvador nunca deixou de ser judaica (At 24:14; Ap 12:17), e foi mencionada ao longo da história como os judeus nazarenos, aqueles que não abandonaram suas origens e costumes judaicos (bíblicos), mas abraçaram a confiança de que Yeshua, o nazareno, era (é) o Messias prometido; mas este caso é assunto para outro momento.

Ora, depois da grande tribulação, que é o período de opressão que o povo de Israel atravessou desde a queda de Jerusalém no ano 70, passando pela inquisição (especialmente a espanhola) da Igreja romana, em várias fases das idades medieval e moderna, agora, com sua repatriação desde 1948, o povo do Eterno pôde desfrutar de maior liberdade para ser reconstruído. É neste contexto que emergem os remanescentes da comunidade de discípulos de Yeshua, os netzarim (nazarenos), que estavam incluídos na perseguição ao longo da história.

Por fim, agora podemos recuperar o contexto do 1º século de nossa era, em que viviam os líderes emissários (que ficaram conhecidos no mundo ocidental como “apóstolos de Jesus“), e nos unificar novamente à comunidade do Salvador, a fim de sermos orientados por eles e aperfeiçoar nossa obediência aos mandamentos do Deus de Israel, o Santo, bendito seja Ele.

Jesus respondeu:
— Mulher, acredite no que digo: vem a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém vocês adorarão o Pai. Vocês adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.

João 4:21,22

Assim diz o SENHOR dos Exércitos:
Naqueles dias, dez homens, de todas as línguas das nações, pegarão, sim, pegarão na borda da roupa de um judeu e lhe dirão: “Queremos ir com vocês, porque ouvimos que Deus está com vocês.”

Zacarias 8:23

São israelitas.
A eles pertence a adoção, assim como a glória, as alianças, a promulgação da Lei, o culto e as promessas.
Deles são os patriarcas, e também deles descende o Ungido, segundo a carne, o qual é sobre todos.

Deus seja bendito para sempre. Amén!

Romanos 9:4,5

(Obs.: Por aqui, nos unimos à Comunidade Judaica Netzarim localizada no Pará (Facebook: Kehilat Netzarim-PA), primeiramente através de estudos bíblicos online).

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

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