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Quem são os monoteístas gentios na Bíblia?

Last updated on 02/05/2023

Quem eram os monoteístas gentios na Bíblia e quem são eles nos dias de hoje? Como vivem, o que praticam e em que acreditam? Eles, de alguma forma, faziam ou fazem parte da comunidade de judeus? Qual foi e qual é a relação deles com o povo de Israel? Qual é o significado bíblico de “gentios” e o que realmente significa “monosteísmo“? Eu devo me tornar um monoteísta gentio?

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Qual o significado da palavra “gentio”?

Nas Escrituras Hebraicas, a palavra “gentio” é representada pelo termo גוי (goy), sendo seu plural גּוֹיִם (goim). Essa palavra significa literalmente “nação, povo“. Mas também foi traduzida por “pagãos” por alguns teólogos e tradutores cristãos, como na Bíblia King James Fiel, veja por exemplo Lv 25:44, Dt 4:27, 1Cr 16:24, Ne 5:17, Sl 2:8 e muitos outros casos. Tal tradução, porém, não fica boa em certos versículos, como no caso deste último citado (Sl 2:8), onde é dito que Deus daria ao seu Ungido os pagãos como herança.

Essa palavra aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 10:5, quando os descendentes de Noé repartem entre si os territórios das nações que eles mesmos formaram. Nas traduções gregas do texto bíblico, “gentios” é representado pela palavra εθνος (ethnos), já aqui em Gênesis 10:5, significando “multidão (de associados ou vivendo em conjunto), multidão de indivíduos da mesma natureza ou gênero; tribo, nação, grupo de pessoas“, etc. (Dicionário Strong G1484).

A grafia “gentio” em português, por sua vez, tem origem no latim “gentilis”, que significa “estrangeiro“, e foi usado na terminologia bíblica para se referir aos não judeus. Foi a palavra usada para traduzir o Grego Ethnikos (sinônimo da acima mencionada), ou seja, “as nações”, que tinha sido usada por sua vez para traduzir o Hebraico Ha Goyim (as nações não-judaicas).

(Veja mais definições em https://origemdapalavra.com.br/palavras/gentio/).

Visto que a palavra “gentio” se refere exatamente às nações e povos, cuja maioria das vezes na Bíblia se refere meramente aos não-israelitas, e não unicamente a “pagãos”, então é possível, naturalmente, que gentios também sejam monoteístas, ou seja, que acreditem em um Deus só (referindo-se ao Deus do povo de Israel). Darei mais detalhes e mostrarei exemplos bíblicos destes tipos de gentios monoteístas mais adiante.

O que realmente significa “monoteísmo”?

O adjetivo “monoteísta” vem, naturalmente, do substantivo “monoteísmo“.

O termo “monoteísmo“, etimologicamente, tem origem nas palavras gregas mónos = único, théos = deus. Os monoteístas seguem apenas uma religião e creem em uma única divindade. Ao contrário do politeísmo, que acredita em vários deuses, o monoteísmo defende a existência de um só deus criador de todo o universo. Fonte: Educa Mais Brasil.

Mas o monoteísmo para a nação judaica vai além do conceito da existência de um único Deus, pois, além de ser o único, eles também defendem que Deus é um só. Isto difere de outras doutrinas teológicas difundidas mundo à fora, que dividem o Criador em mais de um ser/pessoa. Os judeus assim defendem a unicidade divina porque receberam de Moisés, em Deuteronômio 6:4, o ensino de que Deus é literalmente um só, portanto único e indivisível, o que este profeta afirmou chamando-o pela palavra hebraica “ehad” (אחד), que também é o número 1 em hebraico. Mais tarde, este reconhecimento passou a ser o maior dos mandamentos para a nação dos judeus, o que é relatado na Bíblia na conversa de Jesus com um certo mestre da Lei em Marcos 12:28-34 (perceptível somente na Tradução Brasileira, Bíblica Judaica Completa, na Peshitta da Editora BV Books ou na do Tsadok ben Derech, onde houve tradução correta).

O conceito de que Deus está dividido em mais de um ser, na verdade, não vem da doutrina bíblica original, mas é influência de crenças das religiões antigas.

André Daniel Reinke, por exemplo, um autor de livros cristãos, em seu conhecido livro intitulado “Os Outros da Bíblia“, relata o seguinte a respeito da teologia egípcia antiga:

“Como mencionamos anteriormente, era comum a combinação dos deuses [egípcios] em tríades.
Entre muitas as mais usuais eram:
Osíris-Isis-Hórus (em Abidos);
Amon-Mut-Khonsu (em Karnak);
Ptah-Sechmet-Nefertum (em Mênfis);
Khnum-Satet-Anuket (em Elefantina);
e Khepri-Rá-Atum (em Heliópolis). 
Essa tendência de agrupamento tendia a colocar o deus principal como masculino, o segundo elemento feminino e o terceiro, um deus-filho.
De maneira geral, os agrupamentos divinos em tríades eram expressões de pluralidade e de unidade ao mesmo tempo.
De alguma forma, a tríade acabou sendo percebida pelos egípcios como um símbolo da unidade do múltiplo divino.”

(Livro Os Outros da Bíblia, págs. 87-88, versão Kindle)

Em outro trecho, mencionando duas tríades de deuses da antiga Mesopotâmia, An, Enlil e Enki, Nanna, Shamash e Ishtar (pág. 47) ele completa:

O que importa aqui é o fato de os mesopotâmicos, muito antes dos próprios hebreus, e antecipando em milênios os teólogos da Igreja, terem imaginado que o divino funciona melhor em três.

(Pág. 62)

Assim, o autor deste livro, que fez bom levantamento histórico das religiões antigas, confessa que a doutrina de se dividir o Eterno Deus em mais de um ser/pessoa não surgiu dentre o povo que recebeu Dele as Escrituras Sagradas. Antes, tal doutrina fazia parte de crenças das religiões da antiguidade, e isso acabou sendo absorvido pelos teólogos cristãos do século II em diante.

Para o povo que recebeu de Deus a Bíblia, isto é, Israel (Rm 3:1-2), bem como para o Salvador Jesus/Yeshua e os discípulos dele, o Criador não é só o único Deus vivo, verdadeiro e existente, mas Ele também é um só (cf. Dt 6:4; Mc 12:29; Jo 17:3; 1Co 8:6; etc.).

Da mesma forma, e naturalmente, para os monoteístas gentios, o Criador também deve ser um só! Isso é o verdadeiro monoteísmo.

Veja também
* Deuteronômio 6:4, quais traduções erraram?
* Deus é três pessoas? O que Jesus realmente ensinou?
* Shema Israel e a doutrina da Trindade.

Quem eram os monoteístas gentios da Bíblia?

Os monoteístas gentios também são conhecidos no meio judaico-bíblico pela nomenclatura “B’nei Nôah” (literalmente ‘filho de Noé’). Nos tempos em que ainda não havia a Lei de Moisés, os antepassados de Abraão (além do próprio Abraão) foram considerados monoteístas gentios, pois eles obedeciam ao Deus Único Criador de acordo com o conjunto de mandamentos e princípios básicos que tinham recebido até então. Eles foram homens como o tão famoso Jó (1:1), Héber, Sem, o próprio Noé (obviamente), Jerede, o pai de Noé, Metusalém, Enoque, Enos, Sete e por fim Adão, todos com suas respectivas famílias.

Monoteístas (ou estrangeiros) gentios sempre existiram no decurso da história e são mencionados ao longo da Bíblia, como no Salmo 115:11,13, por exemplo. As tão conhecidas Raabe e Rute tornaram-se excelentes exemplos de gentios monoteístas. Elas abandonaram seus deuses e suas crenças neles, e confiaram somente no Deus de Israel; confira Js 2:8-11, 6:25, Rt 1:15-16. O famoso Cornélio, também o etíope abordado por Filipe no caminho para Jerusalém, mencionados no Livro dos Atos (10:1-2; 8:27-28), são exemplos de monoteístas gentios.

Todos estes creram no Deus de Israel e se unificaram ao povo Dele, naturalmente, sendo submissos às orientações deste povo, aquelas orientações bíblicas recebidas pelo próprio Deus. Eles não criaram nenhum movimento religioso novo para si, nem se divorciaram do povo eleito ou mudaram seus costumes, antes se uniram ao Deus daquele povo, se unindo ao povo daquele Deus.

Hoje em dia, mais precisamente, trata-se de pessoas não-israelitas que acreditam que o Deus de Israel é o Criador da vida e do universo.

Desde tempos antigos estes não judeus, tementes ao Deus dos judeus, são orientados pelos judeus a caminhar no conjunto de mandamentos que o Eterno deu a Noé e aos seus filhos após o dilúvio (Gn 9), embora alguns destes mandamentos já existissem antes.

E como foi mencionado, aquelas pessoas que não eram israelitas dentre os discípulos de Yeshua, também não criaram um movimento religioso novo para si, com novos costumes e crenças; antes, eles se uniram ao povo eleito para seguir a Deus juntamente, e permaneceram sob sua orientação, aperfeiçoando-se gradativamente na obediência aos mandamentos bíblicos. Basta entender o contexto de Atos 15:21 para perceber isso (cf. Ef 2:11-13).

Eles também são mencionados por Paulo em seu discurso na sinagoga de Antioquia da Pisídia, em Atos 13:14-44, onde são chamados de prosélitos piedosos em algumas traduções bíblicas (vide vs. 16b, 26a, 43a). Ademais, ao longo deste mesmo livro bíblico, são mencionados estando presentes em várias outras sinagogas ou comunidades judaicas, participando das mesmas liturgias que o povo de Deus participava, porque eram unidos a este (cf. At 2:11, 6:5, etc.).

Como se tornar um monoteísta gentio?

Como podemos conferir até aqui, será que realmente temos sido monoteístas gentios? Se não for este o caso, se tornar um é um processo natural, bastando reconhecer que Aquele que criou todas as coisas é o único Deus vivo, verdadeiro e existente, e podemos chegar a essa conclusão vendo tudo que foi criado ao nosso redor, além de nós mesmos (cf. Rm 1:19-20).

Agora, para se progredir no conhecimento de quem é esse Deus e se aperfeiçoar no cumprimento de seus mandamentos e princípios, tornando-se de fato um monoteísta gentio, é necessário conectar-se ao povo que Ele escolheu para ser o guardião de seus ensinamentos, Israel (vide Sl 147:19-20; Is 43:10; Rm 9:4). Pelo menos para fazer isso de forma correta, sem cair no engano de acreditar que interpretações bíblicas posteriores aos tempos bíblicos sejam, de fato, bíblicas.

Tendo tudo isso vem vista, que precisamos nos conectar com o povo do Santo (bendito seja Ele) para melhor orientação bíblica, talvez nosso(s) leitor(es) se pergunte, “mas como fazer isso, a quem devo procurar”? Aqui vou dar minhas indicações pessoais, porém cada pessoa é livre para fazer a busca por si mesma. Existem pelo menos três comunidades dentre o povo judeu aqui no Brasil que eu poderia recomendar: a primeira é a Comunidade Judaica Netzari do Pará, com a qual eu mesmo estudo online desde junho de 2021, sob orientação do rosh (líder comunitário) Yoná Sibekhay; o Ministério Ensinando de Sião, do Matheus Zandona ou a comunidade Sinagoga Sem Fronteiras.

— Assim diz o Senhor dos Exércitos: Naqueles dias, dez homens, de todas as línguas das nações, pegarão, sim, pegarão na borda da roupa de um judeu e lhe dirão: “Queremos ir com vocês, porque ouvimos que Deus está com vocês.”

Zacarias 8:23
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