Dizimista fiel da casa do Senhor: o que Jesus pensa dos tais?

Dizimista fiel na Bíblia

É impressionante o número de pessoas que elogiam a si mesmas dizendo: “eu sou dizimista fiel da casa do Senhor”. Eles realmente contam créditos para si e tem muito orgulho de serem obedientes a Deus com isso. No entanto, mais intrigante ainda é descobrir o que o Senhor Jesus pensa sobre este tipo de pessoa. Chega a ser controverso descobrir que as duas vezes que o Mestre fala dos dizimistas fiéis na Bíblia é para criticá-los, e não elogiá-los, você sabia disso?

O que Jesus disse sobre o “dizimista fiel” em Mateus 23:23?

O texto tradicional que nós lemos em nossas traduções bíblicas diz:

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!"
(Mateus 23:23 ARA)

Este é o principal versículo usado por diversas pessoas para dizer que Jesus aprova o dízimo no Novo testamento, como se este dízimo que se dá hoje nas igrejas fosse o dízimo bíblico. Porém somente maus observadores do texto bíblico é que consideram assim, ou aqueles que querem pregar uma mensagem tendenciosa e parcial, isto é, não íntegra..

Devemos observar que o dízimo que se dá hoje nas igrejas é em dinheiro, ou seja, 10% do salário do trabalhador ou de qualquer outro dinheiro que alguém venha adquirir. No entanto, o dízimo ali naquele texto bíblico é de hortaliças, pois ele não se refere ao dízimo das igrejas, porém ao dízimo da Toráh (Lei de Moisés), que foram ordenados por Deus serem dados em alimentos.

— Também todos os dízimos da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do Senhor; são santos ao Senhor.
 — Quanto aos dízimos do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor, o dízimo será santo ao Senhor.
(Levítico 27:30,32 NAA)
  • dízimo do antigo testamento - animais do gato e do rebanho - levítico 27 30-33 e deuteronômio 14 22
  • O dízimo das hortaliças em Levítico 27:30, Deuteronômio 14:22 e Mateus 23:23

Além desses versículos, o texto de Deuteronômio 14:22-26 nos mostra que os próprios dízimos deveriam ser vendidos sob certas circunstâncias. Isso nos diz que já havia dinheiro na época em que Deus doutrinou seu povo com os dízimos, mas mesmo assim Ele não ordenou que o dízimo fosse dado em dinheiro. Portanto, isso nos mostra claramente que o dízimo praticado hoje nas igrejas não é o dízimo bíblico.

Logo, o texto de Mateus 23:23 se refere ao dízimo da Toráh, isto é, o dízimo bíblico verdadeiro, e não ao dízimo das igrejas.

Era por isso que os fariseus davam o dízimo de hortaliças, e não dinheiro, pois como vimos os dízimos bíblicos eram utilizados para alimentar pessoas (vide Deut. 14:27-29).

Foi também justamente por isso que o Senhor Jesus afirmou que os fariseus até poderiam dar estes dízimos, pois eles foram ordenados serem dados para os levitas e os pobres nas terras de Israel (vide Núm. 18:21-24; Deut. 26:12). Ora, o sacerdócio levítico ainda estava em vigor na época do Senhor. Não obstante serem bons dizimistas, os fariseus não deviam desprezar ou negligenciar as coisas mais essenciais da Lei, isto é, da Toráh: a fé, a misericórdia, o amor, etc., (cf. Mat. 22:37-40). Pois eles se orgulhavam de dar dízimo até mesmo de pequenas hortaliças, no entanto eram hipócritas em sua conduta.

É justamente assim que agem muitos crentes que se chamam de “dizimistas fiéis da casa do Senhor” hoje em dia. Eles se gabam de serem fiéis a Deus no dízimo de qualquer renda que lhes venha às mãos. Muitos deles gostam de se justificar perante Deus e se orgulhar de si mesmos diante dos homens. Aos tais o Senhor Jesus dirige outra vez sua crítica na parábola do fariseu e do publicano, descrita no evangelho de Lucas 18:10-14.

O que Jesus disse sobre o dizimista fiel da parábola do fariseu e publicano (Lucas 18)?

Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano.
O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: 
- Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.
O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: 
- Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!
Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.
(Lucas 18:10-14 ACF)

Mais uma vez vemos um homem completamente orgulhoso de si mesmo e de sua própria conduta. Um homem que adorava se justificar perante as pessoas. Ele julgava que tinha crédito o suficiente para orar a Deus do modo que quisesse. E ainda agia com desprezo para com os outros. Aquele fariseu ainda se gabava de ser dizimista fiel da casa do Senhor. Isto te parece com alguma semelhança hoje em dia?

O interessante é que quando o Senhor começa a contar essa parábola, o relato bíblico diz: E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros… (Lucas 18:9)

Se é assim, ninguém então deveria ser “dizimista fiel”? Dessa forma, como que a “igreja” sobreviveria?

Para bons observadores do texto da Bíblia Sagrada este questionamento chega a ser tolo. Pois como explicar o tão grande crescimento da comunidade primitiva de discípulos do Senhor, que em momento algum foram doutrinados com o dízimo de Malaquias 3:10 sendo em dinheiro, ou o dízimo de Abraão sendo um principio eterno para a “igreja”?

Em nenhum momento de toda a Escritura do Novo Testamento os apóstolos do Senhor reproduziram o tipo de doutrina do dízimo que hoje é reproduzida nas igrejas. Eles não precisaram fazer adaptações falsetas no texto das Escrituras para arrecadar dinheiro dos irmãos, e mesmo assim o número de discípulos crescia continuamente, e muitos discípulos voluntariamente contribuíam com seus bens para isso. Vide Atos 2:40-47; 4:4,34-37; 5:12-14; 11:28-29; 16:4,5; 20:33-35.

Em suma, nós temos aqui então 2 problemas:

  1. A soberba de pessoas que amam ter status e
  2. A doutrina falsa que foi adaptada pelo homem e que o submete a tal confusão.

É claro que é perfeitamente normal os fiéis ajudarem a pagar os custos do local de culto, ou seja, do templo. Mas qual seria a forma correta de fazer isso?

O rei Davi, por exemplo, pede contribuições voluntárias de seus súditos para construir o templo de Deus em 1º Crônicas 29, tendo ele mesmo contribuído antes para isso (cf. vs. 1-6).

Da mesma forma, em Êxodo 25:1-8, Deus orienta a Moisés pedir donativos dos israelitas para construir o tabernáculo Dele no deserto e todos os utensílios do mesmo. No entanto, a ordem Divina era para que só os voluntários e dispostos de coração o trouxessem, conforme lemos em Êxodo 25:1,2 e 35:4-5. O resultado é que foram dados tantos donativos que o povo teve de ser proibido trazer mais (Êxodo 36:4-7). É isso que acontece quando agimos com honestidade e permitimos que o povo desperte sentimento espontâneo em seu coração para contribuir.

No entanto, acerca da obrigação dos crentes de darem 10% do seu dinheiro como forma de “devolver o dízimo para Deus“, isso não é encontrado nas Sagradas Escrituras.

A estes que são voluntariamente dispostos de coração e sinceros, os que reconhecem que toda sua suficiência vem de Deus, assim como o rei Davi reconheceu em 1º Crônicas 29:10-17, a estes Deus ama e justifica, como foi com Cornélio, por exemplo (vide Atos 10:1-4).

Você pode ler muito mais a respeito da doutrina do dízimo no livro “7 Contradições sobre o Dízimo pregadas nas Igrejas atuais“, de minha autoria, disponível em versão digital.

Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

2 comentários em “Dizimista fiel da casa do Senhor: o que Jesus pensa dos tais?”

  1. Discordo totalmente do modo que esse escritor narra esse assunto relacionado a questão do dízimo, para o convertido é um prazer sim contribuir em devolver o dízimo a casa do Olheiro, porque não se pode esperar ajuda do governo, nem cai dinheiro do Céu, e os pastores não podem nem devem trabalhar para dar o sustento a Igreja, isso cabe a todos nós, em ofertar e dizimar, e ainda se temos convicção da presença do pastor integral, que possamos pensar lógico e a Igreja lhe contribuir com sustento pastoral. O que não pode, é estar escrevendo assunto sem ter a inspiração do Espírito, e transmitir blasfêmia, por questões do analfabetismo espiritual.

  2. Muito bom o texto, e também gostaria de fazer uma observação nesse trecho:
    “Devemos observar que o dízimo que se dá hoje nas igrejas é em dinheiro”
    Na verdade nem em dinheiro se dá dízimo hoje, pois o mesmo não se pode praticar de acordo com todo o contexto que envolvia o dízimo dado pelo povo judeu.

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