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Explicação do dízimo de Abraão em Gênesis 14 e Hebreus 7

O que significa o dízimo que Abraão deu ao sacerdote Melquisedeque em Gênesis 14:18-20? O que quer dizer a abordagem de Hebreus 7:1-12 referente a este? Neste breve estudo bíblico tentaremos dar a explicação explorando os detalhes dessa narrativa histórica e profética.

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A representação profética do Messias (ungido) através de Melquisedeque e no dízimo de Abraão.

Primeiro de tudo, note que nessa passagem Melquisedeque representa o Messias, isto é, o Ungido (v. 3), e Abraão representa a tribo de Levi e seus sacerdotes (vs. 9,10).

Quando Abraão dá o dízimo dos despojos da guerra para Melquisedeque (v. 4) e é abençoado por ele, o texto deixa claro que, por isso, Melquisedeque é maior do que Abraão (vs. 6-7).

Logo, já que Melquisedeque representa o sacerdócio do Senhor e Abraão o sacerdócio dos Levitas, este acontecido de Gênesis 14:18-20 significa (profeticamente) que o sacerdócio que Yeshua alcançou é superior ao sacerdócio dos levitas, pois ele é sacerdote eternamente à semelhança de Melquisedeque (cf. Salmo 110:4; Hebreus 7:11,17,21).

Portanto, talvez o patriarca nem imaginava que seu dízimo estava sendo um ato profético da comparação entre ambos sacerdócios (do Senhor e dos levitas) (vs. 3,11). Pois quando Abraão dá seu dízimo a Melquisedeque, ele certamente julgava que estava praticando um costume já existente nas nações, que davam dízimos aos seus reis, e Melquisedeque também era rei (Gn 14:18).

Além do mais, Abraão deu este dízimo uma única vez e não transmitiu esse costume ao seu filho e a seus netos. Prova disso é que em Gên. 28:20-22 vemos Jacó propondo dar o dízimo a Deus caso o abençoasse em sua peregrinação. Ora, fazer um voto é propor algo novo, que não se costuma fazer, em troca de um benefício maior.

Logo, em Abraão vemos o exemplo de fazer doação voluntária para Deus, porque ainda não havia dízimo sistematizado para o povo escolhido.

Mas quando o dízimo passou a ser lei para o povo de Deus então?

Mais de 400 anos depois dos eventos com Abraão, ao tirar os israelitas das terras egípcias, durante sua peregrinação no deserto, Deus dá ao povo as diretrizes de como eles dariam seus dízimos para Ele. Então vamos explorar tais passagens na Torá, que é o ensino, instrução ou Lei de Deus através de Moisés, para descobrirmos como os israelitas davam seus dízimos.

Primeiro começamos com Levítico 27:30-33, onde há a primeira legislação do dízimo para o povo escolhido. Aqui vemos que Deus determina de seu povo dar uma décima parte dos frutos da terra “a Ele” (v. 30). Além disso, vemos ainda Deus exigindo um em cada dez animais do gado ou do rebanho. Estes seriam consagrados para Ele (v. 32).

Este é o dízimo bíblico!

Depois destes versículos, temos mais especificações de como seriam usados os dízimos em Números 18:21-31.

Dei aos descendentes de Levi todo o décimo da produção recolhida em Yisra’el. Esta é a herança deles, o pagamento pelo serviço realizado na tenda do encontro.

(Números 18:21 BJC)

Neste trecho Deus especifica para quem os dízimos seriam dados. O Soberano escolhe a tribo de Levi para realizar os serviços sacerdotais perante o povo, dentre várias outras atividades em Israel. A paga por seu trabalho, dentre outras coisas, seriam os alimentos recolhidos com os dízimos.

Depois disso, além de outros locais nas Escrituras, lemos principalmente Deuteronômio 14:22-29. Aqui Deus determina que a décima parte dos produtos da colheita, e um décimo dos animais do gado e do rebanho, deveriam ser levados anualmente para Jerusalém e lá serem comidos pelo próprio dizimista (vs. 14:22-26). O intuito com isso era haver alimento durante as festividades determinadas pelo Eterno em Sua palavra.

Além disso, dos vs. 27-29 vemos que os levitas não deveriam ser desamparados nessas ocasiões festivas, e que de três em três anos esses dízimos deveriam ser armazenados nas cidades e doados aos pobres.

Todos os outros trechos nas Escrituras que falam acerca dos dízimos vão girar em torno dessas leis, inclusive Malaquias 3:8-12, Neemias capítulos 10:35-39 e 13:4-12, Mateus 23:23, Lucas 11:42, etc. Mas o dízimo de Abraão, como é possível perceber, não tem uma relação direta com esses, porque nos tempos deste patriarca não havia uma legislação exata da parte de Deus para isso, e Ele nem mesmo ordenou Abraão dar o dízimo ao rei sacerdote; ele o fez porque já havia visto isso em outras nações, como menciona o Livro do Justo no capítulo 15 e versículo 8. Além disso, Abraão dá o dízimo dos despojos da guerra, o que incluía tanto prata e ouro (dinheiro), como pessoas, animais, roupas, armas, alimentos, e tudo mais que foi conquistado do inimigo em combate (vide Gn 14:21).

Então o que aconteceu com o dízimo hoje em dia nas igrejas que não seguem as determinações de Deus em Sua Lei?

dando o dízimo na igreja

Como vimos, os mandamentos dos dízimos tinham todo um contexto, regras determinadas, o que seria dado como dízimo e para quem seria direcionado. Deus deu todos os mandamentos na Torá e os organizou, e o povo deveria obedecer exatamente da forma que Ele determinou (cf. Deut. 26:12,13).

Aconteceu que, no ano 567 EC, quando as comunidades judaicas fundadas pelo Senhor encontravam-se dispersas pelo mundo e o cristianismo dominava cada vez mais através da força do império romano, o clero de sua Igreja começa a determinar que quem não desse o dízimo “como o patriarca Abraão o deu”, não reinaria com o Cristo (Documento 8 CNBB).

Dessa forma, e só por essa época, é que uma versão distorcida do dízimo bíblico foi introduzida na Igreja Cristã mãe. Vários concílios ao longo da história foram confirmando e complementando essa prática, como o de 585 em Macon, com Carlos Magno no final do século 8, e nos concílios de Latrão no século 12. As igrejas evangélicas, por sua vez, tendo nascido à partir da Igreja Católica Romana medieval, herdaram em muito sua pregação, liturgia, teologia e modelo doutrinário, pois em qual delas não se ouve dizer que o dízimo de Abraão é um “modelo para a Igreja cristã seguir” também? Desculpa muito parecida com aquela do concílio de 567, em Tours.

Veja mais detalhes históricos a respeito da introdução e distorção da mensagem do dízimo na Igreja Cristã no estudo “O dízimo bíblico e o dízimo medieval“, no blog Bíblia se Ensina.

Sem o dízimo? O que fazer para manter nossas comunidades e local de culto então?

Em suma, qualquer líder que use do texto de Malaquias 3:10 ou Gênesis 14:18-20 (os mais usados) para chamar os irmãos a darem dízimos em dinheiro fora dos padrões bíblicos abordados acima, não estaria pregando uma mensagem solapada das Escrituras? O que você acha?

Geralmente quando eu falo isso, várias pessoas logo se ofendem e dizem que o templo tem contas para pagar como luz, materiais de limpeza, funcionários, suprimentos diversos, etc. Mas em momento algum eu disse que não devemos mais contribuir, porque o problema não está em contribuir, mas sim na doutrina que se usa para arrecadar as contribuições. Pois falar de doutrina é coisa muito séria, porque mexe com a mentalidade e a fé das pessoas, e por isso uma mensagem distorcida e errada pode levá-las a se conduzir de modo .

É claro que os custos do local utilizado para cultuar a Deus devem ser pagos por todos os seus frequentadores, pois somos uma comunidade e devemos todos ajudar. Trata-se de uma questão de consciência também. No entanto, não é necessário forjar interpretações e falsear os relatos bíblicos para isso.

Digo isso aos líderes que escravizam, lançam culpa, medo, oprimem e constrangem as pessoas em suas mensagens, e bem sei eu que nem todos agem dessa forma. Por isso, se você é líder e não está incluído neste grupo, não deveria se ofender com essas palavras (vide Prov. 10:9).

Para saber mais sobre como devemos contribuir com a obra de Deus, leia os estudos baseados em Êxodo 35 ou 1º Crônicas 29 aqui no blog Bíblia se Ensina.

Você pode aprender um histórico completo a respeito da doutrina do dízimo no livro 7 contradições sobre o dízimo pregadas nas igrejas atuais, de minha autoria, disponível em versão digital.

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