Last updated on 07/02/2022
Uma questão que tem “alçado sua voz” nos últimos tempos, principalmente com o fácil acesso à informação através da internet, profetizado em Daniel 12:4, e devido os avanços da crítica textual moderna. Afinal de contas, o texto de Mateus 28 19, presente hoje em todas as traduções bíblicas cristãs, que contém a fórmula do batismo trinitário ensinado e reproduzido por praticamente todas as igrejas evangélicas e católicas, (supostamente) dito por Jesus, é realmente um texto adulterado? “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” (Mateus 28:19 ACF)
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O nome da Trindade no ensino de “Jesus“.
É verdade que praticamente todos os manuscritos gregos do evangelho de Mateus, que somam aproximadamente 1700, são unânimes em reproduzir o batismo trinitário em Mateus 28 19 do jeito que já conhecemos. No entanto, uma coisa é intrigante, e isso não podemos negar. É que em todo o tempo do ministério do Salvador no mundo, ele sempre ensinou em seu próprio nome, e não em nome da “trindade”. Vejamos alguns versículos, das próprias traduções do texto grego, que mostram isso.
- “E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe.” (ACF’11 Mt 18:5)
- “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (ACF’11 Mt 18:20)
- “E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.” (ACF’11 Mt 19:29)
- “Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.” (ACF’11 Mt 24:5)
- “Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim.” (ACF’11 Mc 9:39)
- “Porquanto, qualquer que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão.” (ACF’11 Mc 9:41)
- “E sereis odiados por todos por causa do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.” (ACF’11 Mc 13:13)
- “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas;” (ACF’11 Mc 16:17)
- “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.” (ACF’11 Jo 14:13)
- “Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.” (ACF’11 Jo 14:14)
- “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (ACF’11 Jo 14:26)
- “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.” (ACF’11 Jo 15:16)
- “Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.” (ACF’11 Jo 16:24)
- “Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;” (ACF’11 Jo 16:26)
Não é estranho que, em todo tempo de seu ministério, o Senhor tenha ensinado sempre dizendo “em meu nome”, e no final ele faça uma mudança tão drástica de ensinamento? Além do mais…
A discrepância de Mateus 28 19…
Ao analisarmos o texto de Mateus 28 19 reproduzido nas traduções gregas das palavras aramaicas/hebraicas do Senhor (vide At. 26:14), notamos no contexto que há certa discrepância. Portanto, vamos voltar ao versículo 18 para entender melhor.
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo:
— Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
(Mateus 28:18 NAA)
Ora, se foi dada a ele toda a autoridade, então era natural que ele reivindicasse fazer discípulos e imergi-los (batizá-los) em nome de quem?
Imaginando que você naturalmente saiba da resposta, e supondo que o Senhor teria dito “façam discípulos de todas as nações, imergindo-os (batizando) em meu nome“, então podemos fazer uma conexão direta com o que de fato aconteceu em todos os relatos do livro dos Atos dos apóstolos, como se segue:
O batismo (imersão) em Atos dos apóstolos.
Aqui, até o momento, vamos reproduzir o texto das próprias traduções gregas do texto bíblico.
- “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, em remissão de pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;” (ACF’11 Atos 2:38)
- “(Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus).” (ACF’11 Atos 8:16)
- “E mandou que fossem batizados em nome do Senhor. Então rogaram-lhe que ficasse com eles por alguns dias.” (ACF’11 Atos 10:48)
- “E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.” (ACF’11 Atos 19:5)
Será que cada um dos apóstolos, que estavam na frente do Senhor quando (supostamente) lhes havia ordenado de modo claro, “batizem em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, não obedeceram, não entenderam, ou por algum motivo fizeram diferente do que o Senhor ordenou?
Muitas tentativas de explicar por qual motivo os discípulos não batizaram em nome da trindade são levantados, e cada uma delas são especulativas.
Talvez o Senhor não havia dado uma fórmula batismal exata com aquelas palavras, mas apenas a “essência do batismo“. Quem sabe os judeus não estavam preparados para receber a doutrina da trindade naquele momento porque estavam acostumados a ouvir que Deus é um (Deut. 6:4; Mar. 12:29; Jo. 17:3; 1 Cor. 8:6), etc.
Por isso, eu não quero adicionar aqui mais especulações, já que comparando o atual texto de Mateus 28 19 traduzido dos textos gregos com outros versículos dentro dos próprios relatos bíblicos nota-se grande incoerência.
Além do mais, podemos adicionar a isso uma pergunta retórica que Paulo faz aos crentes de Corinto, que nos dá mais uma pista de como originalmente era realizado o batismo (a imersão) nas águas por eles mesmos. Vamos utilizar, mais uma vez, e por enquanto, uma tradução do texto grego:
Em nome de quem Paulo batizava (imergia)?
"Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo?" (ACF'11 1 Coríntios 1:13)
Essa pergunta exige uma resposta óbvia de seus leitores,
“vocês foram batizados em nome de Paulo?”,
a resposta deveria ser um sonoro “Não!”;
“mas então no nome de quem vocês foram batizados?”
Você, caro leitor, já consegue responder a pergunta?
A pergunta de Paulo (original “Shaul“) deixa claro que o batismo, isto é, o ritual judaico de imersão em água era realizado no nome de um indivíduo apenas. E o texto deixa claro como água que era no nome do Senhor, assim como o batismo de João foi reconhecido com seu próprio nome também, vide Atos 19:3-5.
Então onde está escrito que o batismo deve ser somente no nome de “Jesus” (original “Yeshua“)?
Não só os teólogos cristãos, mas toda cristandade em si geralmente defende a unhas e dentes que todo o “Novo Testamento” bíblico foi escrito em grego. Entretanto, vários testemunhos dos próprios pais da igreja afirmam o contrário. Aqui vamos expor alguns para nossa reflexão, (possível) correção e aprendizagem ver que, na verdade, Mateus escreveu seu relato (evangelho) originalmente em língua hebraica, e não grega.
Mateus, tendo primeiro proclamado o evangelho em hebraico, quando estava para ir também às outras nações, colocou-o por escrito em sua língua natal e assim, por meio de seus escritos, supriu a necessidade de sua presença entre eles. de Cesareia, Eusébio. História Eclesiástica (p. 101). CPAD. Edição do Kindle.
No trecho acima, o historiador Eusébio de Cesareia faz uma citação dos escritos de Clemente de Alexandria, que viveu entre os anos 150 a 215 EC.
Vamos a outro relato.
Sobre Mateus ele [Papias] declara como se segue: “Mateus compôs sua história em dialeto hebraico e cada um traduzia segundo a capacidade”. de Cesareia, Eusébio. História Eclesiástica (p. 116). CPAD. Edição do Kindle.
Papias foi um escritor que viveu entre os anos 70 e 155 EC. Ele, da mesma forma que Clemente, confirma que o evangelho (boas novas) segundo registrou Mateus (original “Matitiyahu“) foi escrito na língua hebraica. Eusébio coleta este relato em sua obra História Eclesiástica também, como vimos.
Porém, nós podemos ir ainda mais adiante com isso. Vejamos então mais relatos acerca de provas históricas de que Mateus (Matitiyahu) escreveu originalmente e primeiramente em hebraico.
Diz-se que Panteno foi um deles e que chegou às Índias. E o relato é que ali descobriu que fora antecedido por alguns que tinham conhecimento do Evangelho de Mateus, a quem Bartolomeu, um dos apóstolos, havia pregado, deixando-lhes o Evangelho de Mateus em hebraico, que também foi preservado até o presente. de Cesareia, Eusébio. História Eclesiástica (p. 176). CPAD. Edição do Kindle.
Panteno foi um homem que morreu no final do segundo século de nossa era (ano 200), mas que por volta do ano 190 fundou uma escola em Alexandria conhecida como Didascaleu. Nessa época ainda se fazia menção do evangelho de Mateus em hebraico fora das regiões da Palestina. E ao observarmos o relato de Eusébio mais atentamente, veremos que este texto em hebraico ainda sobrevivia em seu tempo, e sua obra foi concluída por volta do ano 324.
Eusébio de Cesareia registra ainda um relato do estudioso Orígenes (185 – 253 EC), que também afirma a autenticidade hebraica das boas novas segundo registrou Matitiyahu.
O relato diz:
Mas no primeiro livro de seus Comentários sobre o Evangelho de Mateus, seguindo o Cânon Eclesiástico, ele atesta que conhece apenas quatro Evangelhos, conforme se segue: “Segundo aprendi com a tradição a respeito dos quatro Evangelhos, que são os únicos inquestionáveis em toda a Igreja de Deus em todo o mundo. O primeiro é escrito de acordo com Mateus, o mesmo que fora publicano, mas depois apóstolo de Jesus Cristo, o qual, tendo-o publicado para os convertidos judeus o escreveu em hebraico. de Cesareia, Eusébio. História Eclesiástica (p. 226). CPAD. Edição do Kindle.
Para finalizar nossos relatos acerca da autenticidade histórica hebraica do evangelho de Mateus, citaremos um comentário do Epifânio acerca dos judeus nazarenos.
"Mas estes sectários... não se chamavam de cristãos – mas de '‘nazarenos’'... contudo, são simplesmente judeus completos. Eles não só usam o Novo Testamento como também o Antigo Testamento como o faz os judeus (...). Eles não possuem diferentes ideias, mas confessam tudo exatamente como a Torá descreve e na forma judaica – exceto, porém, por sua crença no Messias. Pois eles reconhecem tanto a ressurreição dos mortos quanto à criação divina de todas as coisas, e declaram que Deus é Um, e que o Seu Filho é Yeshua o Messias. Eles são bem treinados no hebraico. Pois dentre eles a Torá inteira, os Nevim (Profetas) e... os Ketuvim (Escritos) (...) são lidos em hebraico, como certamente o são entre os judeus. Eles são diferentes dos judeus, e diferentes dos cristãos, apenas no seguinte: Eles discordam dos judeus porque chegaram à fé no Messias; mas como eles ainda estão na Torá – circuncisão, o Shabat, e o restante – eles não estão de acordo com os cristãos... eles não são nada mais do que judeus (...). Eles possuem as Boas Novas de acordo com Matitiyahu completamente em hebraico. Pois está claro que eles ainda preservam-nas no alfabeto hebraico, tal qual foram escritas originalmente." Epifânio; Panarion 29.
Epifânio de Salamina escreveu sua obra Panarion por volta do ano 374, e continua a afirmar que o evangelho de Mateus foi escrito originalmente em hebraico. E não só isso, mas que ainda era preservado fidedignamente como foi escrito entre um certo grupo de judeus chamados “nazarenos” (ou “netzarim“).
Eusébio de Cesareia cita Mateus 28 19 sem o batismo trinitário.
Há vários outros relatos da autenticidade hebraica do evangelho de Mateus, como o de Jerônimo (347 – 420), que chegou a possuir uma cópia original deste manuscrito.
Por fim, ao citar o texto de Mateus 28 19 em sua obra, História Eclesiástica, Eusébio menciona o texto da seguinte forma:
Mas os outros apóstolos que eram perseguidos de várias maneiras, no intuito de destruí-los, foram expulsos da terra de Judéia e seguiram caminho pregando o evangelho a todas as nações, confiando no socorro de Cristo, que disse: “Ide e ensinai todas as nações em meu nome”. de Cesareia, Eusébio. História Eclesiástica (p. 82). CPAD. Edição do Kindle.
Há outras citações deste texto que aparecem da mesma forma em outras obras do Eusébio. Ele que teve acesso à antiga Biblioteca de Cesareia que continha manuscritos originais. Ele certamente transcreveu o texto de Mateus 28 19 em suas obras à partir daqueles manuscritos conservados ali até então.
Adiciona-se a isso a citação que Jerônimo faz dessa biblioteca na sua obra “Dos Homens Ilustres” (em latim: De Viris Illustribus), concluída por volta do ano 392, onde ele relata o seguinte no capítulo 3: “[Mateus] compôs um Evangelho de Cristo, na Judéia, na língua e nos caracteres hebraicos, para o benefício dos da circuncisão que tinham crido. . . Ademais, o próprio hebraico acha-se preservado até os dias de hoje na biblioteca de Cesareia, que o mártir Panfílio tão diligentemente coletou”.
Ora, tendo Eusébio escrito ainda antes deste período, então só nos resta concluir que a citação de Mateus 28 19 que ele faz em seus escritos são deste manuscrito original hebraico.
Mas talvez alguém pergunte: então onde está hoje este ou estes manuscritos hebraicos do evangelho de Mateus?
Isso é uma pergunta que exigiria um novo estudo, porém uma pesquisa na Wikipédia oferece uma pequena lista de manuscritos sobreviventes que remontam a um texto mais antigo que a própria data de descoberta destes. Vide “Shem Tob’s Hebrew Gospel of Matthew > Extant Manuscripts” (em inglês).
Um comentário na pesquisa da Bíblia de Jerusalém deixa a questão do batismo trinitário de Mateus 28 19 ainda mais obscura.
Sabemos que a Bíblia de Jerusalém é uma das mais respeitadas no campo da pesquisa histórica da redação e transmissão do texto bíblico. Ela não só traz um comentário que põe a autenticidade do batismo trinitário de Mateus 28 19 em dúvida, mas ainda mostra que até o trecho adicional trinitário de 1 João 5:7-8 também não é original, e por isso não foi reproduzido no texto da mesma.
O comentário acerca de Mateus 28 19 diz o seguinte:
É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar "no nome de Jesus" (cf. At 1,5+; 2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade. Quaisquer que tenham sido as variações nesse ponto, a realidade profunda permanece a mesma. O batismo une à pessoa de Jesus Salvador; ora, toda a sua obra salvífica procede do amor do Pai e se completa pela efusão do Espírito.
Soma-se a tudo isso o fato dos manuscritos gregos mais antigos do evangelho de Mateus, que são dos séculos 2 e 3, serem apenas fragmentos do texto que nem sequer possuem o capítulo 28, como explica o professor Jonathan Matthies no vídeo abaixo. Isso é um forte indicativo de que o evangelho de Mateus teve outra fonte original. Logo, o capítulo 28 que existe hoje nas bíblias cristãs, traduzidas do grego, é do século 4 (pelo menos), quando a doutrina da trindade foi finalmente formulada pelo clero católico romano.
Finalmente, no evangelho de Mateus em hebraico, bem como em outros manuscritos da Peshitta, não consta o trecho do batismo trinitário. Aqui estamos disponibilizando uma tradução para o português em PDF feita por Sha’ul Bentsion.
A pesquisa acerca deste assunto é muito extensa, portanto vamos finalizar por aqui neste momento. Futuramente faremos maior pesquisa e publicação de um conteúdo exclusivo acerca do texto hebraico do evangelho de Matitiyahu (Mateus) no Projeto Bíblico Ezra. Fique por dentro, inscrevendo-se para novas publicações!
23 Comments
Trindade doutrina de demônio criada no ano 325 concílio de niceia
Os apóstolos Batisarao em nome do senhor Jesus Cristo Trindade doutrina de demônio criada no concílio de Nicéia ano 325
[…] nosso estudo específico acerca do batismo trinitário de Mateus 28:19 para mais […]
Bom estudo, mas na verdade a bíblia diz que o batismo em nome de Jesus não é nas aguas. Visto que João Batista mesmo testifica dizendo: … eu batizo com água, mas após mim vem um mais poderoso do que eu, ele “batizará com espírito santo e com fogo.” Então é claro que o batismo em nome de Jesus é com espírito santo, porque Jesus é maior que João Batista, bem como seu batismo. E não existe batismo em nome do Pai do Filho e do E.S. Qualquer pesquisa mais aprofundada verá que muitos versículos foram alterados dando base para ensinamentos católicos.
Oi João, obrigado por comentar. Esse presente estudo já está precisando de uma revisão, e quando eu fizer trarei mais provas ainda de pesquisas mais recentes de que o texto de Mt 28:19 presente nas bíblias comuns de fato não é o verdadeiro. E acerca da imersão em águas, trechos de João 3 e o início do cap. 4 mostram que o Senhor imergia nas águas sim, outrra prova é que seus discípulos continuaram a fazer o mesmo, basta ver trechos de Atos 8 e 10.