Santa Ceia cristã: o que é, quem criou e como surgiu?

Roma, Itália - Vitral na Igreja de Santa Croce em Gerusalemme ilustrando a santa ceia - eucaristia - de Jesus e os doze apostolos - por Paolo Gaetano na Getty Images

A Santa Ceia cristã é um dos sete sacramentos da Igreja Católica, bem como de todas as demais igrejas cristãs. Ela também é chamada Eucaristia, uma palavra que vem do grego εὐχαριστία (eucharistia), e significa “ação de graças“. Mas, como está claro no texto bíblico, o evento que Jesus participava na noite em que foi traído era a Páscoa (Mt 26:18). Sendo assim, como realmente aconteceu a transição de uma liturgia para a outra? Foi realmente o Salvador que instituiu a santa ceia e desprezou a páscoa do êxodo do povo de Israel?

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Na tradução grega dos relatos dos discípulos, chamados “evangelhos” pela cristandade, um derivado da palavra eucharistia aparece no momento que Jesus agradece pelo pão e vinho no jantar de Páscoa que fazia com seus discípulos, basta ver Mt 26:27, Mc 14:23 e Lc 22:17,19. Mas este derivado, ευχαριστεω (eucharisteo), também aparece outras vezes com a mesma forma de agradecimento, como na multiplicação dos pães; veja Mt 15:36, Mc 8:6, Jo 6:11,23. Sendo assim, será que o Senhor realmente instituiu um evento chamado Eucaristia? Além disso, devemos recordar que Jesus não pregava sua mensagem nem se comunicava na língua grega, mas em aramaico. Então, de onde realmente vem o evento chamado Eucaristia, também conhecido como “Santa Ceia”?

Jesus realmente instituiu a Santa Ceia Cristã?

É comum se dizer no meio cristão que Jesus, o Messias, teria instituído a Santa Ceia no seu último jantar de Páscoa com seus discípulos. Com isso ele teria os ensinado a, em vez de celebrarem a Páscoa bíblica de Êxodo capítulo 12, simplesmente comer uns pedacinhos de pães com suco de uva e se recordarem de seu sacrifício na cruz (segundo a interpretação cristã). Mas será isso verdade? O que os relatos bíblicos realmente tem a nos dizer? Vamos usar uma tradução bíblica comum para mostrar.

E aconteceu que, quando Jesus concluiu todos estes discursos, disse aos seus discípulos:
Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado.

Mateus 26:1,2 ACF

Por meio deste texto, logo concluímos que ele morreu durante o evento da Páscoa bíblica (ou judaica), que acontece todo dia 14 do mês de NIssan do calendário hebraico, usado hoje em Israel. Foi Deus quem determinou que seu povo fizesse tal evento neste dia, desde o início da nação de Israel, basta ver(Êx 12:3-20). Mas isso você provavelmente já sabia, não é mesmo?!

Os outros relatos (“evangelhos”) confirmam tal ocasião em que Jesus morreria, vide Mc 14:1, Lc 22:1-2.

Por essa ocasião então, ao chegar o dia determinado, os discípulos dele preparam o jantar de tal evento.

E, no primeiro dia da festa dos pães ázimos, chegaram os discípulos junto de Jesus, dizendo: Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa?
E ele disse: Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe: O Mestre diz: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a páscoa com os meus discípulos.
E os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara, e prepararam a páscoa.

Mateus 26:17-19, também em Mc 14:12-16 e Lc 22:7-13

Assim Jesus, na verdade, comeu o jantar da Páscoa bíblica com seus discípulos naquela noite já determinada por Deus, que era o dia 14 do mês de NIssan (cf. Lv 23:5-6).

Pessach, Páscoa bíblica judaica de Êxodo 12

Mas o que muitas pessoas não sabem, inclusive dentre os cristãos que participam da “Santa Ceia” todo 1º domingo de cada mês, é que o jantar da Páscoa que Jesus fez com seus discípulos conserva muitas semelhanças com a Páscoa judaica celebrada ainda hoje em dia pelos judeus no mundo todo (o que é natural, pois Jesus era judeu, vide Jo 4:9,21-22).

Para mostrar essas semelhanças, vou recomendar assistirmos alguns minutos deste vídeo do canal Israel com Aline, uma mulher judia que vive em Jerusalém e celebra a Páscoa judaica todos os anos. Após o vídeo recitarei as passagens bíblicas que mostram a semelhança da Páscoa de Jesus com a mesma feita nos dias atuais.

Vemos aos 1:33 minutos que a primeira coisa que se faz na cerimônia do jantar é o Kidush, isto é, a reza/oração/bênção sobre o vinho. Assim, lemos em Lucas 22:17 que o Mestre abre o jantar da mesma forma, pois ele reparte o vinho entre seus discípulos e dá graças (isto é, ele recita o Kidush). Matias e Marcos mencionam o partir do pão primeiro porque eles não relatam o evento na exata ordem, pois ao dizerem “enquanto comiam” significa que o jantar já estava acontecendo, vide Mt 26:20-21,26 e Mc 14:17-18,22.

A Aline nos diz também, aos 2:04 minutos que são bebidas 4 taças de vinho ao longo do jantar, e Lucas menciona pelo menos 2 taças, vide 22:17,20. É em uma dessas quatro taças que ele faz a assimilação de seu sangue com a aliança renovada.

As quatro taças de vinho e os pães sem fermento do jantar de Pêssah (Páscoa bíblica).

Aos 3:10 minutos do vídeo vemos o Karpas, que é algo comestível molhado na água com sal. É interessante notar que durante o jantar Jesus também pega o mesmo elemento, molha e dá a Judá de Queriote, que o traiu; cf. João 13:21-26.

Por fim, aos 3:57 minutos ela diz que músicas são cantadas durante o jantar, e os relatos bíblicos também registram que o Mestre fez o mesmo (Mt 26:29-30Mc 14:25-26).

Ora, tudo que Jesus fez estava ligado ao jantar de Páscoa judaica, ou Páscoa bíblica, que o próprio Deus ensinou ao seu povo no passado. Até hoje, certa parte deste povo mantém suas tradições em obediência aos mandamentos divinos. Existe até um livro pequeno chamado Hagadá de Pêssah, que tem todas as orientações para o evento.

Mas agora, diante de todas essas informações, será que Jesus realmente instituiu a Santa Ceia enquanto comia deste jantar com os discípulos, conforme ensinam atualmente?

E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós.

Lucas 22:19,20 ACF
também recitado em 1 Coríntios 11:23-25

Na Santa Ceia cristã, geralmente realizada todo 1º domingo do mês na grande maioria das igrejas cristãs evangélicas, come-se pão fermentado, ignorando-se, deliberadamente ou não, o mandamento Divino de comer pão sem fermento, porque o próprio Deus disse que quem comesse pão fermentado em Seu evento deveria ser eliminado dentre o povo, vide Êx 12:19. Isso deveria nos levar a refletir: comendo pão fermentado, então, durante o evento que o Messias fazia, será que estou realmente incluído no povo de Deus? Mas tal evento celebrado nas igrejas não é o evento que o Messias comeu naquela noite com seus discípulos.

Além disso, consome-se um certo suco de uva, na maioria das vezes artificial, e recitasse um dos textos mencionados acima, na maioria das vezes o de 1ª Coríntios 11:18-34. Ao comerem tais elementos, celebram uma certa “nova aliança” do Senhor feita com eles. Mas o intrigante nisso é: o Senhor havia feito uma aliança anterior com eles, para celebrarem uma nova?

Não obstante, como vimos, Jesus comia a Páscoa bíblica, realizada no dia 14 do mês bíblico de NIssan, perto do anoitecer. Ele comeu pães sem fermento e os demais alimentos relacionados a este evento. Ou seja, ele obedeceu tudo da forma que Deus determinou ao Seu povo, pois isto era uma ordem divina!

E falou o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, no ano segundo da sua saída da terra do Egito, no primeiro mês, dizendo:
Celebrem os filhos de Israel a páscoa a seu tempo determinado.
No dia catorze deste mês, pela tarde, a seu tempo determinado a celebrareis; segundo todos os seus estatutos, e segundo todos os seus ritos, a celebrareis.

Números 9:1-3 ACF

Além disso tudo, o que talvez nunca seja dito em qualquer denominação de Igreja, mas que está claro no texto bíblico, é que Jesus comerá deste mesmo evento no reino de Deus com seus discípulos:

E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça;
Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus.

Lucas 22:15,16

E ainda, quando ele disse, “façam isso em memória de mim”, estava se referindo a repartir o pão sem fermento que é comido durante o jantar de Pêssah, isto é, da Páscoa bíblica. Então ele dizia aos seus discípulos, na verdade, para continuarem comendo daquele evento, e enquanto estivessem comendo do pão deveriam repartir uns com os outros em memória de seu corpo, que foi entregue à morte a favor deles.

Sendo assim, se o Mestre ordenou aos seus discípulos continuarem comendo do evento, lembrando-se dele durante o jantar, e se afirmou que comerá novamente deste com seus discípulos no reino de Deus, será que deveríamos ter parado de comê-lo? Ou será que podemos realmente nos chamar de discípulos dele, se não fazemos as coisas do jeito que ele fez e não seguimos exatamente as ordens dele?

Claramente, a Santa Ceia cristã não é o evento que Jesus participava com seus discípulos e ele não a instituiu!

Repartindo o pão sem fermento comido durante o jantar de Pêssah (Pàscoa bíblica).

Se é assim então, quem fez isso? Quem criou a Eucaristia e divorciou o Mestre de sua verdadeira identidade bíblica-judaica, que Deus havia lhe dado? Como este evento realizado atualmente pela cristandade pôde ser assumido com o que Jesus realmente fez?

A controvérsia da Páscoa no II século de nossa era.

Eusébio de Cesareia, em seu registro a respeito da história da Igreja na obra História Eclesiástica, Livro 5, cap. 23, descreve uma controvérsia que aconteceu entre certas comunidades cristãs logo em seu início, no 2º século de nossa era.

Ele diz assim:

Surgiu, nessa época, considerável discussão em conseqüência de uma diferença de opinião a respeito da observância do período de páscoa. As igrejas de toda a Ásia, dirigidas por uma tradição remota, supunham que deviam guardar o décimo quarto dia da lua para a festa da páscoa do Salvador, em cujo dia os judeus tinham ordens de matar o cordeiro pascal; e eles eram incumbidos, todas as vezes, de encerrar o jejum naquele dia, qualquer que fosse o dia da semana em que recaísse. Mas não era costume celebrá-la dessa maneira nas igrejas do restante do mundo, que observam a prática que subsistiu pela tradição apostólica até o presente, de modo que não seria próprio encerrar nosso jejum em nenhum outro dia, senão no dia da ressurreição de nosso Salvador.
Assim, houve sínodos e convocações dos bispos em torno dessa questão; e todos unanimemente formularam um decreto eclesiástico que comunicaram a todas as igrejas em todos os lugares: que o mistério da ressurreição de nosso Senhor não devia ser celebrado em nenhum outro dia, senão no Dia do Senhor e que somente nesse dia devíamos observar o encerramento dos jejuns pascais.
Ainda hoje existe uma epístola dos que se reuniram naquela ocasião; entre os quais presidia Teófilo, bispo da igreja de Cesaréia, e Narciso, bispo de Jerusalém. Subsiste ainda outra epístola acerca da mesma questão, a qual leva o nome de Vítor. Também uma epístola dos bispos de Ponto, entre os quais presidia Palmas, por ser mais velho; também das igrejas da Gália, sobre as quais presidia Irineu. Além disso, uma dos de Osroene e das cidades dali. E em especial uma epístola da parte de Baquilo, bispo dos coríntios, e epístolas de muitos outros que, apresentando a mesma única doutrina também expressaram o mesmo voto.

de Cesareia, Eusébio. História Eclesiástica (p. 191). CPAD. Edição do Kindle.

Sabemos que esta controvérsia se levantou no 2º século de nossa era por causa de alguns nomes que o historiador cita aqui, como Teófilo de Cesareia, que morreu por volta do ano 195, e Narciso de Jerusalém, por exemplo, que nasceu no ano 99. Então ambos foram contemporâneos na fase adulta de suas vidas.

No texto, é mencionada uma certa “festa da páscoa do Salvador”.

Sabemos que hoje em dia, no cristianismo, a Páscoa tornou-se uma espécie de recordação da ressurreição de Jesus, a tal ponto que certas pessoas nem conseguem perceber a verdadeira Páscoa bíblica que ele mesmo participou durante toda sua vida (cf. Lc 2:41). Não que haja problema em se recordar de sua morte, ressurreição e do significado disso para os judeus e para o mundo. No entanto, como já mostrado neste estudo, e sendo um judeu, Jesus não se desfez dos mandamentos de Deus na Torá, que haviam sido dados ao povo de Israel e que até hoje são mantidos em suas tradições (cf. Jo 15:10).

Agora, já tão cedo na história, verificamos um tipo de linguagem que começa a divorciar o Messias de seus verdadeiros costumes bíblicos, pois estava-se celebrando um tipo de evento que trazia como recordação sua ressurreição, mas já intentando desmerecer a Páscoa ordenada por Deus ao Seu povo, a qual o próprio Jesus obedeceu. Seus discípulos, por sua vez, também mantiveram da forma que foi recebido na Lei de Deus (e eles não poderiam fazer diferente), basta fazer umas leituras bíblicas simples pelo Livro dos Atos e alguns trechos nas cartas de Saul (Paulo). Veja, por exemplo, At 20:6; 18:21 (ACF ou BKJ) e 1Co 5:7-8.

Por isso, é natural imaginar que este grupo de pessoas que questionavam a data do evento (ordenada por Deus), já estavam divorciados da verdadeira comunidade judaica de discípulos do Salvador. Justamente por isso eles estavam querendo criar novos costumes.

Eusébio ainda menciona que foi determinado pelos bispos de diversas igrejas que o “mistério da ressurreição do Senhor” deveria ser celebrado no chamado “Dia do Senhor“, que para eles era o domingo, e vou mostrar quem primeiramente considerou assim mais adiante.

Dessa forma, o evento que Jesus participou durante toda sua vida, até a última noite que ele esteve aqui neste mundo, foi desprezado pelos líderes cristãos primitivos (que não eram os apóstolos).

Agora, como eu mencionei antes, e como podemos perceber, já havia um chamado “Dia do Senhor”, o qual estes homens interpretavam ser o domingo, pois o assimilavam com o primeiro dia da semana em que Jesus foi ressuscitado. Mas o que não poucos sabem e alguns mais estudados ignoram é que, de acordo com o calendário bíblico-judaico, o 1º dia da semana começa ao anoitecer do nosso sábado, e não no meio da noite. Portanto este primeiro dia não é o domingo tal como conhecemos.

Além disso, sabemos que o dia que Deus chama de “seu” na Bíblia é o Shabat, vide Êx 20:10 e Is 58:13, por exemplo. E se olharmos a Bíblia mais de perto, veremos que os discípulos diretos de Ieshua não mudaram isso (e eles nem poderiam fazê-lo), basta ver Lc 4:16, 23:54-56, At 13:14-15, 17:1-2, etc.

Então, quem inventou este novo “Dia do Senhor”?

É claro que este não é nosso assunto agora, por isso veja o estudo “Quem instituiu o domingo como dia de adoração ao Senhor” para mais detalhes. Mas brevemente, verificando a história, veremos que o inventor deste novo “dia do Senhor”, em detrimento do dia que Deus consagrara desde a criação do mundo, foi o mesmo que sugeriu e instalou novos costumes, divorciados da vida do Salvador e em desprezo às tradições da Lei de Deus para Seu povo.

O surgimento da Santa Ceia cristã com Inácio de Antioquia.

Inácio de Antioquia

Inácio de Antioquia, nascido aproximadamente no ano 36 do 1º século de nossa era, foi bispo de Antioquia entre 68-107. Ele foi um dos principais pais do cristianismo, ao ponto de ter sido o primeiro na história a citar essa palavra na sua carta aos magnésios, cap. 10.

Divorciando o relato bíblico de seu verdadeiro contexto, Inácio chamou o jantar de páscoa de Jesus com seus discípulos de Eucaristia, o que foi registrado pela primeira vez na história em sua carta aos crentes da Filadélfia, entre os anos 103-107, aproximadamente.

Nessa altura, ele já queria promover um novo evento com este nome e desmerecer uma prática do próprio Jesus relacionada ao evento bíblico do êxodo egípcio. Pois como vimos, antes disso, o Messias não participou de um evento chamado “Eucaristia” ou “Santa Ceia”, nem o instituiu, mas ele participou da Páscoa bíblica, chamada Pêssah. Aliás, no próprio texto bíblico em grego, a palavra traduzida por “ceia” nas bíblias comuns é δειπνεω (deipneo), que significa basicamente comer ou jantar (Dicionário Strong G1172). Essa palavra vem de outra, δειπνον (deipnonG1173), de mesmo significado. ambas sendo utilizadas não somente em Lc 22:20 e 1Co 11:25, referindo-se ao jantar da Páscoa que o Senhor participava, mas também em outros textos que relatam refeições comuns ou festivas, como Mt 23:6, Mc 6:21, Lc 14:12,17, Jo 12:2, Ap 19:9.

A palavra “eucaristia” vem do grego εὐχαριστία (eucharistia), e significa “ação de graças“.

Segundo Inácio, a ceia foi instituída por Jesus Cristo na sua última noite de Páscoa e representa seu próprio corpo e sangue “consubstanciados“. Ou seja, o pão e o vinho que se comem na Santa Ceia são literalmente o corpo e o sangue do Cristo. A partir daí, este evento se reflete em praticamente todas as demais igrejas cristãs da história, cada uma com uma liturgia própria. Vamos ler o trecho da carta mencionada.

“Sede solícitos em tomar parte numa só Eucaristia, porquanto uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um o cálice para a união com Seu sangue; um o altar, assim como também um é o Bispo, junto com seu presbitério e diáconos, aliás meus colegas de serviço. E isso, para fazerdes segundo Deus o que fizerdes.”

Carta de Inácio aos filadelfios, parágrafo 4.1; fonte: ecristianismo.org.br.

Tão cedo na história vemos o gesto feito pelo Salvador, de repartir o pão e o vinho durante o jantar de Pêssah, sendo divorciado do evento bíblico o qual ele estava participando naquele momento, isto é, a festa bíblica da Páscoa de Êxodo 12, conforme lemos perfeitamente nos 4 relatos de seus discípulos.

E, mesmo em 1ª Coríntios 11:23-25, texto muito citado pela cristandade em defesa de sua liturgia chamada “Santa Ceia”, notamos, ao ler com atenção, que Paulo está citando essa mesma festa bíblica, isto é, a festa de Pêssah, pois era dela que o Senhor estava participando, como vimos, quando repartiu o pão e o vinho com seus discípulos. Além disso, o mesmo Saul (Paulo) orienta seus leitores a participarem da festa bíblica, basta ver o capítulo 5 v. 8 dessa mesma carta, pois ele escrevia em data próxima da festa (cf. Atos 18:21 na ACF ou BKJ, que diz respeito a este evento, onde Paulo havia saído de Corinto a pouco, ocasião em que escreve aos coríntios).

Ou seja, em momento algum nem o Senhor ou seus discípulos divorciaram-se do mandamento bíblico de celebrar a festa que Deus deu ao seu povo (cf. Êx. 12:14,17).

Ademais, paralelo aos escritos de Inácio, ou pouco tempo depois, surge o Didaquê, um documento que foi intitulado “instrução dos doze apóstolos”, mas que, segundo a Enciclopédia Britânica, é um produto de um dos pais da Igreja, criado por volta do 2º século. A mesma Enciclopédia menciona que o Didaquê pode ter sido produzido no Egito ou na Síria, sendo este último justamente o lugar que Inácio foi bispo. Muito sugestivo, não?!

Mas a respeito da Eucaristia, no capítulo 9 do Didaquê é mencionada uma liturgia e reza para o momento de se participar da mesma, mas nada é dito acerca de celebrar enquanto se comia da Pêssah, a Páscoa do Êxodo. Além disso, o capítulo 14 volta a falar do partir do pão em união naquele “dia do Senhor“.

Reuni-vos no dia do Senhor (Domingo) para a Fração do Pão e agradecei (celebrai a Eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.

Didaque 14:1; Fonte: Fraternidade Laical São Próspero.

Além disso, no Catecismo da Igreja Católica, lemos que a Eucarística sempre foi celebrada aos domingos, porque no seu calendário seria esse o dia da ressurreição do Senhor (Compêndio 2005 – Libreria Editrice VaticanaO Sacramento da Eucarística, 276. Fonte Vatican.va).

Corpus Christi - Última Ceia - de Paolo Gaetano.
Corpus Christi – Última Ceia – de Paolo Gaetano

Sendo assim, a Santa Ceia cristã, ou a Eucaristia, foi criada pelos padres católicos mais antigos (os pais da Igreja), e por isso, fatalmente, todas as igrejas cristãs evangélicas ou protestantes continuam a seguir sua Igreja mãe, e não o costume verdadeiro de Jesus. Pois o Senhor mesmo não repartiu o pão e o vinho em recordação de sua morte neste dia (no domingo), mas sim enquanto comia da Páscoa bíblica com seus discípulos, que tem dia e horário determinado para acontecer, como temos visto extensivamente aqui. Ele então ordenou que seus discípulos se recordassem de sua morte por eles enquanto comiam deste evento bíblico (Lc 22:15-19).

Mas talvez alguém que pratique a Eucaristia se pergunte: seria mesmo errado lembrar-se da morte do Senhor através de uma forma diferente, no domingo, dia em que ele teria ressuscitado?

Quem sabe, para responder a essa pergunta, podemos nos lembrar do exemplo do rei Saul. Ele quis “obedecer” a Deus do seu próprio jeito, sob pretexto de agradar ao Eterno, mas foi reprovado. Pois ele quis oferecer culto ao Soberano com os animais dos amalequitas que ele deveria matar, vide 1Sm 15:18-23.

Soma-se a isso a ordenança divina referente à Páscoa que já lemos em Números 9:1-3, onde é dito que tal evento deveria ser celebrado de acordo com suas ordenanças, costumes e tradições. Mas o que a interpretação cristã posterior fez foi divorciar o gesto do Messias de seu verdadeiro contexto, configurando-se claramente uma desobediência e obstinação.

A situação fica mais grave quando nos lembramos de certas palavras do Salvador, que dizia: “qualquer que desprezar um destes mandamentos, e assim ensinar os homens a fazer o mesmo, será considerado o menor no reino de Deus”? (Mt 5:19)

Como celebrar a verdadeira “Ceia do Senhor”, isto é, o jantar de Páscoa?

Finalmente, Jesus, o qual, devido a controvérsias como essa que abordamos aqui, estamos preferindo nos referir pelo seu nome original/verdadeiro, Ieshua, nunca instituiu a chamada Santa Ceia cristã ou Eucaristia. Esta é, na verdade, um produto dos pais da igreja, que divorciaram o Messias de sua verdadeira identidade bíblica-israelita, dada por Deus e, cada vez que este evento é praticado, uma série de mandamentos são colocados em desprezo, mandamentos estes que Deus afirmou ao seu povo: devem ser obedecidos para sempre! (Êx 12:14-17)

E, já que este mandamento é relacionado ao povo do Eterno, isto é, Israel, a forma correta de participar do mesmo é filiando-se a uma comunidade deste povo e recebendo orientação deles. Naturalmente, deve ser uma comunidade que tem Ieshua, o nazareno, como o Messias prometido. Se o leitor quer alguma indicação, por aqui estamos estudando (online) com a Comunidade Judaica Netzarim do Pará, mas existem outras, como a Sinagoga Sem Fronteiras e Ensinando de Sião (por exemplo); basta a cada um procurar, fazer contato e ver com qual se familiariza melhor.

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

2 comentários em “Santa Ceia cristã: o que é, quem criou e como surgiu?”

  1. Também concordo que a “santa ceia” é praticada de forma incorreta. E discordo que deva ser praticada de acordo com os costumes judaicos. Algum de vocês é circunciso? Paulo falou diversas vezes contra a circuncisão (Gálatas 5:2).

    Isso sendo dito. Acredito que a Ceia que Cristo estabeleceu, vai além de um ritual que só é praticado porque está escrito claramente na biblia. Não era para ser assim.

    A ceia de da igreja de Cristo tem como principal objetivo anunciar a sua morte, até que ele volte. Mas isso é feito através de comunhão com os irmãos, coisa que não é praticada nas igrejas.

    Ao invés disso, eis o que deveria ser feito:

    1) Cada um traz de casa o que tem de melhor
    2) Cada um não coma sua propria ceia, com diz Paulo, mas compartilhe tudo o que levar, para que seu irmão não passe fome enquanto você se satisfaz. Dessa forma, todos serão saciados ou todos passarão fomes juntos. Esse é o significado de comunhão
    3) Durante o jantar, sentem-se para conversar uns com os outros. Conheçam uns aos outros, falem da palavra de Deus e se encorajem a respeito das promessas de Cristo. De fato, anunciando-o até que ele volte.

    Faça isso e não tenho dúvidas de que estará seguindo a biblia.

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