O que é o textus receptus e porque todo cristão deve conhecê-lo

O Textus Receptus (texto recebido) é uma compilação dos textos gregos do Novo Testamento contidos nos manuscritos bizantinos, que são cópias provenientes dos próprios textos dos apóstolos.

Estes manuscritos foram intensamente utilizados pelas igrejas primitivas (até o século 19 era quase que o único texto utilizado, e ainda hoje é o texto mais completo do Novo Testamento).

Quais versões da Bíblia utilizam o textus receptus como base de tradução?

textus receptus erasmo
textus receptus erasmo

As duas traduções da Bíblia em português brasileiro que utilizam 100% do textus receptus como base são a King James Fiel 1611 (KJF) e a Almeida Corrigida Fiel (ACF).

A Almeida Revista e Corrigida (ARC) também o utiliza, mas num grau menor do que as duas anteriores, e a Almeida Revista e Atualizada (ARA) num grau menor ainda do que a ARC.

O item mais importante de se notar no textus receptus é de onde ele surgiu, pois antes de se existir textus receptus existiam os manuscritos bizantinos, e antes de se existirem os manuscritos bizantinos existiam, obviamente, os escritos originais dos apóstolos, e/ou os aceitos por eles.

As traduções modernas da Bíblia Sagrada como Nova Versão Internacional (NVI), Nova Almeida Atualizada (NAA), Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), King James Atualizada (KJA), Tradução do Novo Mundo (TNM), dentre outras, utilizaram como base para sua tradução (do Novo Testamento) principalmente o códice Vaticanus e o Códice Sinaiticus, mas alguns outros manuscritos também são usados.

Os problemas destes dois manuscritos são as muitas faltas que há em seu conteúdo, além de ambos contradizerem ou discordarem um do outro em centenas de passagens bíblicas.

Já foi constatado que só nos evangelhos eles possuem cerca de 3000 discordâncias entre si.

Diferentemente dos mais de 5000 manuscritos bizantinos, que tem somente 0,2% de variações em suas palavras (menos de 300 palavras, de 140.000 que compõem o Novo Testamento).

O teólogo Erasmo de Roterdão foi quem compilou, isto é, reuniu em um só texto, todos os textos destes manuscritos bizantinos, e fez a publicação de um único texto grego do Novo Testamento, em 1516.

A impressão dos textos foi realizada graças a prensa móvel, já utilizada desde o século anterior.

De onde vieram exatamente os manuscritos bizantinos?

Em 1453, eruditos saíram do Oriente Médio para o Ocidente (continente europeu), fugindo da perseguição islâmica. Eles trouxeram consigo um conjunto de mais de 5000 manuscritos, em que cada um continha partes ou todo o Novo Testamento.

Codex Boreelianus, manuscrito bizantino, membro da Família E
Codex Boreelianus, manuscrito bizantino, membro da Família E

Eles são chamados manuscritos bizantinos porque tem ligação com as igrejas que estavam no Império Bizantino (parte oriental do império romano, veja o mapa mais abaixo).

Estes manuscritos são provenientes de Antioquia da Síria, cidade que foi a segunda sede do cristianismo (depois de Jerusalém), que nasceu após a perseguição contra a igreja, depois da morte de Estêvão (At 11:19-24).

Em Antioquia da Síria foi também onde os discípulos foram pela primeira vez chamados de cristãos (At 11:26), onde também se reuniam vários apóstolos, mestres e discípulos de Cristo como Barnabé, Silas, o próprio apóstolo Paulo, dentre outros (At 13:1).

Foi lá que Paulo e Barnabé receberam seu chamado missionário, e era para onde voltavam depois de fazerem suas viagens missionárias (At 13:1,2; 14:23-28; 18:22-23).

A igreja de Antioquia também recebeu a visita do apóstolo Pedro por certo tempo (Gl 2:11-12), além disso tinha consentimento de todos os apóstolos e presbíteros de Jerusalém em suas atividades (At 15:1-2,4-6,22-2321:17-20);

é lá que foi decidido que os cristãos gentios não precisariam circuncidar-se e nem guardar outros costumes religiosos das leis do Antigo Testamento, visto que Deus já os havia aceitado, dando-lhes o Espírito Santo e justificando-os por meio da fé em Cristo, e não da prática de cerimônias religiosas do antigo pacto (At 15:5-35); mas deveriam, obviamente, conservar a pureza de coração, a santidade a integridade para com Deus (Estude Atos 15 e o contexto das viagens missionárias de Paulo para compreender melhor).

Com todo este histórico, é de se esperar que os textos contidos nos manuscritos bizantinos eram de maior confiança do que quaisquer outros, pois eram cópias dos escritos dos apóstolos e tinham rotatividade por toda aquela região, tendo aprovação direta dos apóstolos e dos mais fiéis discípulos do Senhor.

Império Romano nos tempos de Cristo

Diferentemente dos códices Vaticanus e Sinaiticus, que além do problema das contradições entre si mesmos, tiveram sua origem em Alexandria, no Egito, local onde não houve presença dos apóstolos em seu tempo;

Por isso tratam-se de cópias mal construídas, pouco utilizadas e praticamente descartadas pelas igrejas primitivas, por isso são tão antigos (aproximadamente do século 4), mas ainda assim consideravelmente conservados.

Além disso também tinham textos de má qualidade devido a certa quantidade de palavras faltando, linhas, passagens e até livros inteiros do Novo Testamento (que é o caso do Códice Vaticanus, que não tem o livro de Apocalipse, as cartas pastorais – 1ª e 2ª Timóteo e Tito, além de Filemom – nem o final do evangelho de Marcos, isto é, capítulo 16 à partir do versículo 9 não existe).

Você pode ver uma gama de comparações de versículos entre as principais traduções da Bíblia Sagrada em português no e-book gratuito As verdades por trás das traduções da Bíblia que você precisa saber (escrito por mim mesmo).

Ambos os códices alexandrinos foram encontrados inutilizados!

O códice Vaticanus foi encontrado por volta do século 15, abandonado num monastério no Vaticano, mas hoje faz parte de sua biblioteca; e o códice Sinaitucus foi encontrado por volta de 1844-1850, no Mosteiro de Santa Catarina, na península do Sinai (e está atualmente no Museu Britânico).

Situação bem diferente dos manuscritos bizantinos, que ainda eram largamente utilizados pelas igrejas, e até o século 19 era o texto padrão do Novo Testamento, e apesar do texto não ter perdido seu valor, as traduções bíblicas modernas tem preferido basear-se nos dois códices citados (dentre outros) por serem (supostamente) mais antigos do que os manuscritos bizantinos, portanto julgam serem mais fiéis aos escritos originais.

Veja no mapa abaixo a origem dos dois grupos de manuscritos: os bizantinos (Antioquia da Síria) e os alexandrinos (de Alexandria, no Egito):

mapa do império romano e bizantino - fuga dos discípulos de jerusalém para Antioquia da síria

Toda a área de rosa fazia parte do império bizantino (Roma Oriental) no tempo de Cristo e dos apóstolos.

O nome império bizantino era derivado de sua capital, a cidade de Bizâncio, também destacada em vermelho no mapa, que em 330 d. C. passou a chamar-se Constantinopla.

Note pela seta vermelha indicativa para onde os discípulos fugiram com a perseguição à igreja em Jerusalém, após a morte de Estêvão, isto é, foram para Antioquia da Síria, onde uma nova sede do cristianismo surgiu, além das cidades aos arredores (Atos 11:19-24).

Em direção oposta onde ficava Alexandria do Egito.

A cidade de Antioquia da Síria é a atual Antáquia, na Turquia.

Por este “caminho” surgiu o textus receptus, a “reunião” dos textos dos manuscritos bizantinos em um único texto impresso contendo todo o Novo Testamento em grego koiné, a língua oficial do tempo dos apóstolos (também a que escreveram suas cartas e os evangelhos).

Erasmo, por Hans Holbein, o Jovem.
Erasmo, primeiro a compilar o textus receptus, por Hans Holbein, o Jovem.

Sob a base do mesmo texto, João Ferreira de Almeida fez sua tradução da Bíblia entre 1681 e 1753, em português; sendo que a única tradução 100% baseada no textus receptus é a Almeida Corrigida Fiel (a Almeida Revista e Corrigida é quase 100% baseada nele, a Revista e Atualizada é menos ainda).

Da mesma forma, o rei James (1566-1625 d.C.), da Inglaterra, publicou sua tradução (King James Version) em 1611, que até hoje é a Bíblia mais lida no idioma inglês, praticamente a Bíblia padrão deste idioma.

Sua versão em português é a King James Fiel, publicada pela editora BV Books.

Você também pode ler aqui no blog Bíblia se Ensina o estudo 4 Razões porque a KJF é a melhor tradução da Bíblia.

A única diferença “gritante” entre os manuscritos bizantinos e o textus receptus é um trecho de 1 João 5:7-8, que não continha nos manuscritos bizantinos, mas foi trazido para o textus receptus de outro(s) manuscrito(s).

Veja o trecho em destaque vermelho abaixo:

Porque três são os que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água, e o sangue; e estes três concordam em um. (versão KJF)

Cerca de 99% dos manuscritos da carta de João trazem o texto conforme você vê, por exemplo, na NVI, leia abaixo:

Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes.

Claro que há muito mais informações sobre o textus receptus e os manuscritos bizantinos, você pode começar a vê-las no Wikipedia ou no artigo O Senhor deu a Palavra, no site da Sociedade Bíblica Trinitariana.

Conte-nos nos comentários como este artigo te ajudou a compreender mais sobre como as traduções da Bíblia são construídas, e também se você vai mudar a versão da Bíblia que está usando atualmente para a KJF ou a ACF 🙂


Estudos bíblicos pelo Whatsapp - blog Bíblia se Ensina - Gabriel Filgueiras


Nota: “seria errado usar as versões modernas da Bíblia?”

Para finalizar este estudo bíblico, quero esclarecer que não é de todo ruim usar traduções modernas da bíblia sagrada, eu uso a NVI e a KJA por exemplo, dentre outras, pois elas trazem alguns versículos de forma mais clara e fácil de entender.

Eu gosto de ler a NVI, por exemplo, porque ela tem uma leitura nem um pouco cansativa, se comparada às versões tradicionais de Almeida (ARC e ARA). que usam um português mais antigo, com palavras antiquadas e com uma gramática mais difícil de entender.

Tanto a NVI como a KJA (e também a NAA), na minha opinião, são ótimas para uma leitura devocional e para uma leitura de fácil entendimento ao público.

Para saber um pouco mais, leia o estudo 2 motivos porque a Bíblia NVI é boa, e 2 porque não é.

Quero dizer, porém, aos obreiros(as) que trabalham com o ensino/pregação da Palavra, que considero indispensável conhecer as principais diferenças entre as traduções bíblicas para utilizar apenas os textos mais fiéis ao texto original grego/hebraico, então use as traduções modernas com cuidado, conhecendo os textos que estão ausentes de certos conteúdos (baixe aqui o ebook que vai mostrá-los).

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

12 comentários em “O que é o textus receptus e porque todo cristão deve conhecê-lo”

  1. o texto recebido muito bom mais tambem tem erros de traduçao, acrecimos e subtraçoes , mais isso nao pode e nao deve abala nossa fe em nosso DEUS ,unico e verdadeiro fiquem na paz de jesus nosso salvador.

    1. Paz, quero deixar minha opinião. Infelizmente achei o texto um pouco parcial demais, não tem fontes, citações, referências bibliográficas nem nada de carácter acadêmico que comprove as alegações feitas.

      1. Oi Miquéias. Obrigado por sua opinião amigo. Você tem toda razão!
        Quando eu escrevi este texto havia estudado pouco, hoje tenho mais informações e por isso eu preciso revisar este conteúdo. Eu estou revisando cada estudo aqui do blog porque tem muitos deles precisando ser atualizados e corrigidos.

  2. Irmão, eu entendo tudo isso sobre o receptus ser mais confiável, só tem duas questões que me incomodam, porque a ACF e KJF traduzem Isaías 14:12 por Lúcifer que é uma palavra do Latim e passa a idéia de nome próprio? e porque traduzem por inferno todas as expressões como: tartaro, hades e geena? sendo que muitas vezes significam, Sepultura, abismo, mundo dos mortos etc… e também é uma palavra do latim, exemplo salmo 16:10. obrigado.

  3. “Toda a área de rosa fazia parte do império bizantino (Roma Ocidental) no tempo de Cristo e dos apóstolos.”: não seria Roma Oriental?

  4. Glória a Deus, eu tenho as duas melhores traduções segundo vocês, e consegui graças a uma matéria escrita nesse mesmo site.

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