O dízimo de Malaquias 3 10: Perguntas que deveríamos nos fazer

Estudo bíblico explica tudo sobre o dízimo de Malaquias 3 10

Muitos tem se perguntado se é certo ser cobrado dos crentes o dízimo de Malaquias 3 10. Às vezes a pregação é tão forçada que deixa algumas pessoas incomodadas, constrangidas ou na dúvida. Mas qual será a verdade por trás deste tão famigerado versículo bíblico? Seria realmente correto fazer cobrança do dízimo utilizando deste texto nos templos religiosos atuais? Com as perguntas propostas em cada tópico abaixo, vamos examinar o contexto do que este profeta quis dizer e chegar à conclusão do assunto.

Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes.

(Malaquias 3 10 ACF)

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As perguntas que devemos saber a respeito deste versículo são:

1) Por que “dízimos” (no plural) e quais eram eles?

Hoje em dia é comum se conhecer apenas um tipo de dízimo, não é mesmo?! Que seria 10% do dinheiro/salário. Porém, o texto de Malaquias 3:10 fala de dízimos, no plural, e não dízimo, no singular. Responder somente esta pergunta já nos levará a uma realidade bem diferente do que vemos normalmente nas religiões que usam deste recurso com base em tal texto bíblico.

Então, quais são os tipos de dízimo na Bíblia? E qual deles Malaquias 3 10 está se referindo?

Basicamente, podemos destacar pelo menos 5 tipos de dízimo, são eles:

  1. O dízimo de todos os nossos bens. Este seria exemplificado por Abraão e Jacó. O primeiro patriarca de Israel venceu uma guerra e deu 10% dos despojos da mesma a um sacerdote de Deus, veja Gn 14:18-20. Jacó, por sua vez, oferece um décimo de seus bens (provavelmente animais e alimentos) em sacrifício queimado a Deus num altar em Betel, veja Gn 28:20-22 e 35:6-7. Aqui estão dois exemplos de dízimos de todos os bens materiais na Bíblia. Porém, vale ressaltar que nenhum deles foi um mandamento de Deus, porque ambos patriarcas o praticaram de forma voluntária, em agradecimento ao Eterno por suas bênçãos. Assim, baseado nestes exemplos, podemos dar 10% de nossos bens a Deus (inclusive dinheiro) voluntariamente. A tradição judaica orienta dar este valor para ajudar os pobres ou investir em trabalhos de ensino e divulgação da Torá, a Lei de Deus, doando-o para alguma Beit Midrash, isto é, uma escola de ensino das Escrituras. Essas orientações são baseadas na própria Bíblia, nestes textos já citados e em outros que você vai ler mais abaixo
  2. O dízimo dos levitas e sacerdotes. Deus ordenou que este tipo de dízimo fosse entregue regularmente aos levitas e seus sacerdotes, para a manutenção do culto ordenado por Ele mesmo nas Escrituras. Eram entregues, então, um décimo das produções agrícolas, animais do gado e do rebanho. Veja Lv 27:30-33, Nm 18:21-24, 2ºCr 31:4-5, Ne 10:37-38.
  3. O dízimo das festividades. Todo ano aconteciam três festas de peregrinação para Jerusalém (Êx 23:14-17). Para que houvesse alimento nessas festividades, o próprio dizimista reservava um décimo de suas colheitas e animais para comer com sua família na cidade santa. Veja Dt 12:7-15 e 14:22-26.
  4. O dízimo aos pobres. Trienalmente, armazenava-se um décimo das colheitas nas cidades israelitas para que os pobres se alimentassem, veja Dt 14:28-29; 26:12-15.
  5. O dízimo dos reis de Israel. Os israelitas também deveriam pagar um décimo de suas colheitas e de seus animais do gado e rebanho para seus monarcas; vide 1 Sm 8:15-17+.

Mas a qual destes tipos de dízimo Malaquias 3:10 está se referindo?

O texto de Malaquias 3:10 fala do dízimo para a “casa do tesouro”, mencionada também em Neemias 10:37 e 12:44. O profeta também fala de haver mantimento na Casa de Deus, ou seja, uma referência direta ao templo de Jerusalém. Portanto, na nossa lista acima, Malaquias 3:10 aborda o dízimo dos levitas e sacerdotes (item 2).

Por isso, pelo próprio texto, percebemos que não estava havendo mantimentos na casa de Deus (no templo de Jerusalém) para que os levitas mantivessem os trabalhos ordenados por Ele ali. Então, o templo estava sendo abandonado. Essa ocasião da mensagem de Malaquias é muito provavelmente a mesma de Neemias 13:4-12, ou pelo menos muito próxima.

Portanto, por estes textos concluímos que não é certo cobrar o dízimo de Malaquias 3:10 em templos de religiões diversas, pois aquele dízimo tinha destinatários certos para trabalhos específicos ordenados por Deus na Torá.

Vários destes trabalhos, naturalmente, não estão sendo realizados devido a atual falta do templo de Jerusalém, enquanto alguns outros são realizados de forma adaptada. Mas certos grupos de líderes filósofos e teólogos, que surgiram posteriormente à queda do 2º templo de Jerusalém, se apropriaram dos textos bíblicos, alegaram que os israelitas foram substituídos por outro povo e religião, e legaram ao mundo uma versão solapada não só do dízimo bíblico, mas de vários ensinamentos e relatos das Escrituras. Eles, na verdade, deixaram de reconhecer o sacerdócio de Israel, do qual Deus disse ser eterno (Êx 29:9; 40:15; Nm 25:13), e tentaram servi-Lo construindo religiões próprias.

Além disso, os dízimos requeridos nos templos das religiões geralmente não apoiam trabalhos de divulgação e ensino da Torá, a Lei do ETERNO, antes a ensinam de uma forma deturpada ou distorcida. Não obstante praticarem e defenderem alguns de seus mandamentos, alegam que ela foi abolida e infelizmente promovem a transgressão de outros mandamentos, sob justificativas de crenças diversas e interpretações bíblicas corrompidas, uma verdadeira contradição.

2) De que casa do tesouro Deus fala em Malaquias 3:10?

Essa pergunta já respondemos nos versículos citados e nos comentários feitos no tópico acima. Porém, vamos transcrever aqui o texto de Neemias 10:37-39, que deixará isso muito claro.

E que as primícias da nossa massa, as nossas ofertas alçadas, o fruto de toda a árvore, o mosto e o azeite, traríamos aos sacerdotes, às câmaras da casa do nosso Deus; e os dízimos da nossa terra aos levitas; e que os levitas receberiam os dízimos em todas as cidades, da nossa lavoura.
E que o sacerdote, filho de Arão, estaria com os levitas quando estes recebessem os dízimos, e que os levitas trariam os dízimos dos dízimos à casa do nosso Deus, às câmaras da casa do tesouro.
Porque àquelas câmaras os filhos de Israel e os filhos de Levi devem trazer ofertas alçadas do grão, do mosto e do azeite; porquanto ali estão os vasos do santuário, como também os sacerdotes que ministram, os porteiros e os cantores; e que assim não desampararíamos a casa do nosso Deus.

Neemias 10:37-39 Almeida Corrigida Fiel

Vamos recapitular algumas informações para ficar bem claro. Após ter sido liberto da escravidão egípcia, quando o povo de Israel ainda estava nos desertos com Moisés por volta dos anos 1446-48 AEC, sendo preparado para se tornar uma nação, Deus ordena que um décimo de suas colheitas, das crias do gado e do rebanho deveriam ser oferecidos a Ele (Lv 27:30-33). Depois, estes mesmos dízimos deveriam ser entregues aos levitas e seus sacerdotes para sua alimentação, a fim de que se dedicassem ao serviço do templo (Nm 18:21-24). É esta cena que estamos vendo acontecer no relato de Neemias, acima.

Logo, estes dízimos eram para alimentação deles, e os referidos versículos de Neemias deixam isso muito claro. Ou seja, os dízimos ordenados por Deus eram alimentos, basta conferir nas palavras que deixei grifadas na citação acima. Haviam outros momentos em que se dava dinheiro aos sacerdotes, mas não relacionado aos dízimos, veja Nm 3:44-51, por exemplo.

Portanto, a “casa do tesouro”, que ficava no templo de Jerusalém, era uma espécie de armazém para estes alimentos dos levitas, bem como para outros objetos sagrados do Templo.

Baseado nisso, é justo que alguém use do texto de Malaquias 3:10 para arrecadar dinheiro para uma “casa do tesouro” (tesouraria?) que não seja aquela?

3) Para quem eram os dízimos da Bíblia?

Todos os profetas que vieram posteriores a Moisés falavam com base na Lei de Moisés. Eles a defendiam e a ensinavam a Israel e às demais pessoas tementes a Deus. De fato, a Lei de Deus é o esqueleto de toda a Bíblia! De maneira que se a Lei não é mais válida, a Bíblia inteira então ficaria sem sentido…

Agora, as circunstâncias em que o povo de Israel e a humanidade se encontra, para aplicação de toda a Lei (Torá) exatamente como está escrito nela, já é assunto para outro momento. Porém podemos deixar claro que o contexto atual exige adaptações, e não anulações da Lei.

Nós já dissemos para quem os dízimos bíblicos eram destinados, mas vamos repetir, pois a repetição é a mãe do aprendizado.

O dízimo de Malaquias 3:8-11 nós já vimos que se refere àquele dado para os levitas, para que eles se dedicassem aos trabalhos do Templo, não precisando ir trabalhar nos campos. Mas havia ainda o dízimo destinado às festas de peregrinação (Dt 14:22-23), aos pobres (Dt 26:12), e aos reis (1Sm 8:15).

Mas se é assim, como dar o dízimo então?

Essa pergunta nós já respondemos, mas vamos frisar mais. O dízimo dos levitas ainda não é praticado na íntegra devido a falta do serviço no Templo e atividade do sacerdócio levítico nele. O dízimo dos monarcas não é praticado porque, obviamente, não há monarquia em Israel na ativa hoje, sendo seu próximo rei o Messias!

Mas uma pessoa pode dar o dízimo (um décimo ou dez por cento) de seu salário/dinheiro? Sim, pode, baseado nos exemplos de Abraão e Jacó, que dedicaram voluntariamente um décimo dos seus bens a Deus. Neste caso, porém, trata-se de um hábito voluntário aceito por tradição, e não necessariamente um mandamento bíblico. Todavia, os sábios de Israel orientam dar esse dinheiro para ajudar pessoas pobres, em dificuldades financeiras ou situações similares, ou investir em alguma escola de ensino na Torá. Como dissemos, isso é recomendado com base na própria Lei de Deus, basta ver textos como Dt 14:28-29 e 2ºCr 34:4-5.

Eu inseri aqui o vídeo de um rabino brasileiro explicando mais a respeito da prática do dízimo nos dias atuais e em Israel.

4) O dízimo de Malaquias 3:10 era dado em dinheiro também?

Essa pergunta nós também já respondemos nos primeiros tópicos de nosso estudo. Na verdade, o texto de Neemias 10:37-39, recitado no 2º tópico, já deixa essa questão muito clara. Porém podemos acrescentar ainda outro relato do próprio livro de Neemias aqui, para reforçar a questão.

Ora, antes disto, Eliasibe, sacerdote, que presidia sobre a câmara da casa do nosso Deus, se tinha aparentado com Tobias;
E fizera-lhe uma câmara grande, onde dantes se depositavam as ofertas de alimentos, o incenso, os utensílios, os dízimos do grão, do mosto e do azeite, que se ordenaram para os levitas, cantores e porteiros, como também a oferta alçada para os sacerdotes.
[…]
Então contendi com os magistrados, e disse: Por que se desamparou a casa de Deus?

Porém eu os ajuntei, e os restaurei no seu posto.
Então todo o Judá trouxe os dízimos do grão, do mosto e do azeite aos celeiros.

Neemias 13:4-5, 11-12

Os versículos citados acima não só mencionam que os dízimos bíblicos eram alimentos, como também tinham um destino certo. Entretanto, infelizmente, tudo isso foi desvirtuado por religiões atuais, que a muito tempo se apropriaram das Escrituras Sagradas e direcionaram o dinheiro do dízimo para outros fins.

E para quem diz que antigamente não existia dinheiro ou não era muito usado, por isso Deus teria pedido dízimos somente em forma de alimentos, podemos afirmar com toda certeza que o dinheiro era sim muito usado, inclusive para comprar até mesmo água, como é hoje em dia. Basta dar uma olhada nos seguintes textos: Dt 14:23-26; Êx 12:44; 21:32-35; 22:7, 16-17,25; 30:16; Lv 22:11; 25:47-51; 27:14-15, 18-20; Nm 3:45-51; 18:15-16; Dt 2:4-6; 21:14.

5) Os chamados “apóstolos” fundaram a Igreja Cristã e ordenaram dar o dízimo em dinheiro nelas?

Em primeiro lugar, eles (os apóstolos e demais discípulos de Yeshua) não eram uma igreja evangélica; eles não cultuavam no domingo, abrindo mão do dia santificado por Deus desde a criação. Eles também não adoravam um deus dividido em três versões, nem alimentavam diversos outros costumes que colocaram em desprezo uma série de mandamentos da Lei divina para Seu povo, costumes e liturgias que se começassem a ser citados aqui, fugiria ao assunto de nosso estudo.

Mas é importante destacar, brevemente, que o Mestre nazareno e seus discípulos cultuavam somente ao Deus de Israel, pois para eles este é o único Deus verdadeiro (veja Lc 4:8, Jo 17:3, 1 Co 8:5-6, Ef 1:17 etc.). Eles também continuavam santificando o sétimo dia da criação de Deus para descanso e conexão com Ele (cf. Lc 23:54-56, At 13:14-15, 17:1-2,10-11 etc.). Além disso, continuaram frequentando o templo dos judeus em Jerusalém o tempo todo (At 2:46), dentre vários outras coisas. Ou seja, eles continuaram sendo uma comunidade do povo de Israel! O próprio Paulo comenta que essa comunidade de discípulos continuavam concordes com toda a Lei e os profetas, vide At 24:14.

Por isso, e naturalmente, consideravam o dízimo como já orientado na Torá (Lei), de acordo com o que estamos expondo acima.

Para ratificar tais declarações, podemos citar brevemente o acontecimento do casal Ananias e Safira, mencionado em Atos 5:1-10.

Nesta cena, o casal vende uma propriedade, retém parte do valor da venda e vai até os líderes da comunidade afirmando que aquela parte era o valor total. Simão, porém, sendo divinamente avisado da cena mentirosa que o casal estava armando, faz duas perguntas a Ananias quando ele vem primeiro apresentar o valor:

Então Simão lhe disse: Ananias, por que Satanás encheu teu coração desta maneira para que mentisses ao Espírito de Santidade e ocultasses uma parte do dinheiro do preço do campo? Acaso não era teu antes de venderes? E uma vez vendido, não terias autoridade também sobre seu preço? …

(Atos 5:3-4a Bíblia Peshitta BV Books)

Observe as duas perguntas que Simão faz:

  1. “O campo não era teu antes de o vender?” Ou seja, Ananias poderia não tê-lo vendido, e ninguém o estava o constrangendo a isso.
  2. “Uma vez vendido, não tinha autoridade sobre seu preço?” Ou seja, você poderia fazer o que bem entendesse com o dinheiro depois de ter vendido o campo.

A resposta consequente da pergunta 2 é bem diferente do ensinamento comum propagado por vários líderes religiosos da atualidade. Pois Simão deixa esclarecido que Ananias não era obrigado nem mesmo a dar dinheiro de dízimo do valor da venda de sua propriedade, antes ele poderia fazer o que quisesse com o dinheiro; o contrário ensinariam muitos chefes de congregações atuais.

Em suma, este relato da primeira comunidade de discípulos do mestre Yeshua só confirma o que já dissemos até aqui: que os discípulos dele consideravam o dízimo como na Lei, bem como o destino deste, e o dízimo em dinheiro era voluntário, uma tradição aceita devido os exemplos dos patriarcas.

6) Jesus aprovou o dízimo de Malaquias 3:10?

Naturalmente sim, porque se ele é o Messias, então não poderia falar contra nenhum mandamento da Lei Divina. Portanto, essa estória de que ele aboliu a Lei é certamente uma má interpretação do texto bíblico, pois ele afirmou muito contrário disso (vide Mt 5:17-19).

Além do mais, textos como Mt 23:23 e Lc 11:42 deixam muito claro que ele aprovava sim o dízimo das Escrituras. Mas como os próprios textos citados sugerem, ele aprovava o dízimo que está na Lei, dado em forma de alimentos, por isso ele menciona hortaliças em seu discurso nos referidos versículos. E, como vimos, esses dízimos tinham seus destinos certos e finalidades definidas, já abordadas aqui antes. Não é justo alguém se aproveitar dessa passagem bíblica para converter tais dízimos em dinheiro e desviá-los de suas finalidades e destinatários orientados nas Escrituras, os quais já mencionamos.

7) Os pais da igreja cristã aprovaram o dízimo de Malaquias 3:10?

Não! A história registra que nos 5 primeiros séculos de nossa era, nem mesmo os fundadores da Igreja cristã praticavam o dízimo da Bíblia, pois eles consideravam certas práticas judaicas como antiquadas e heterodoxas. A doutrina que eles legaram ao mundo, na verdade, foi a de praticar os mandamentos das Escrituras que lhes eram convenientes, e descartar outros conforme sua interpretação pessoal ou suas crenças religiosas sugeriam. Isso se reflete indiscutivelmente no cristianismo até os dias de hoje.

Um deles, Irineu, bispo de Lyon, em sua principal obra intitulada “Contra as Heresias”, escrita por volta do ano 180 EC. relata o seguinte:

“… E, em vez da lei que ordena a entrega dos dízimos, [Ele nos disse] para compartilhar todos os nossos bens com os pobres”.

(Contra Heresias IV.13.3)

Notamos de imediato que a tentativa de Irineu era colocar as palavras do Messias contra as ordenanças do próprio Deus nas Escrituras, pois ele tenta explicar que em vez do mandamento bíblico do dízimo, o Messias teria ordenado outra coisa.

Ou seja, a Lei caiu em desuso, e supostos costumes novos substituíram seus mandamentos. Era a construção de uma nova religião que não tinha mais a Lei de Deus como sua base principal. Era a divulgação de um messias que desconstruiu a imagem bíblica que Deus havia dado ao seu povo.

Mas o seu relato continua:

“E por isso eles (os judeus) tinham de fato os dízimos de seus bens consagrados a Ele, mas aqueles que receberam a liberdade, puseram de lado todas as suas posses para os propósitos do Senhor, dando alegremente e livremente não as porções menos valiosas de sua propriedade, uma vez que eles têm a esperança de coisas melhores [futuramente].

(Contra Heresias IV.18.2)

Novamente ele deixa claro sua subversão à Lei de Deus. Porque ele afirma que “os judeus tinham”, como se não tivessem mais, e completa, “mas aqueles que receberam a liberdade”. Ou seja, em oposição aos judeus, que ele parece dizer que eram escravizados por uma lei, outras pessoas receberam a “liberdade”. Mas se é assim, então o que dizer de versículos como o Salmo 119:45?

Infelizmente, ao divorciar alguns relatos bíblicos de seu devido contexto, e ávidos por criar seu próprio estilo de vida religioso baseado em crenças que lhes agradavam, certos homens que, embora conservassem algumas atitudes piedosas, promoviam o detrimento de vários mandamentos de Deus, coisa que os discípulos diretos do Senhor jamais fizeram! (cf. At 21:20-24, 24:14, 25:8, 28:17)

8) Então por que a Igreja da atualidade cobra o dízimo?

Isso é respondido em documentos históricos da própria Igreja cristã mãe, a de Roma! No antigo Documento 8 da CNBB é dito o seguinte:

Na história do dízimo entre os cristãos, podem-se distinguir 3 fases:
1) até o século V [5];
2) do século VI [6] até a Revolução Francesa (1789);
3) da Revolução Francesa aos nossos dias.

1.1 – Até o século V
Embora a legislação sagrada dos judeus impusesse a Israel a prática do dízimo, entre os cristãos dos primeiros séculos prevalecia a consciência de que o Evangelho havia levado à consumação as obrigações rituais e disciplinares da Lei de Moisés, colocando o definitivo em lugar do provisório. Cf S. Irineu (+ 202 aprox.) Adv. Haer. IV 18,2 e Santo Agostinho (+430) …
Os pastores da Igreja, portanto, não pensaram a princípio em impor aos cristãos o pagamento do dízimo…

A praxe de contribuir para cobrir as necessidades da Igreja ia se difundindo no Ocidente. Havia, porém, exceções da parte dos contribuintes.
Em vista disto, os Concílios foram intervindo nesse setor. O Sínodo Regional de Tours (Gália) [região da atual França], em 567, promulgou, por exemplo, a seguinte determinação:

“Instantemente exortamos os fiéis a que, seguindo o exemplo de Abraão, não hesitem em dar a Deus a décima parte de tudo aquilo que possuam, a fim de que não venha a cair na miséria aquele que, por ganância, se recuse a dar pequenas oferendas… Por conseguinte, se alguém quer chegar ao seio de Abraão, não contradiga o exemplo do Patriarca, e ofereça a sua esmola, preparando-se para reinar com Cristo”.

O relato deste documento, elaborado pela 10ª Assembleia Geral de bispos de 1969, em São Paulo, é autoexplicativo.

Primeiro os fundadores da Igreja cristã, os pais da Igreja, consideravam que o tal “Evangelho” (seu novo estilo de vida religioso) havia colocado um fim nas obrigações disciplinares da Lei de Moisés (ou seja, a Lei de Deus). Mas os líderes posteriores, a partir do ano 567, começaram a cobrar dízimos dos bens de seus fiéis alegando punições para os desobedientes, como perder o seu lugar no “reino de Cristo”. Depois disso a doutrina do dízimo foi sendo ratificada e formulada na Igreja, nos concílios que se seguiram, o que relatei com mais detalhes no estudo “O dízimo bíblico e o dízimo medieval“.

Sem dúvida alguma, é daí que vem o dízimo cristão. Todas as igrejas chamadas “evangélicas” da atualidade, ou seja, as divorciadas da Igreja Católica, herdaram essa prática dela mesma, pois todas vieram desta.

Concluindo: o dízimo de Malaquias 3 10 deve ser dado hoje em dia ou não?

Depois de toda essa explicação, resta-nos repetir o que já dissemos em alguns tópicos anteriores, e isso nos servirá de orientação para a prática do dízimo em nossos dias.

O dízimo de Malaquias 3:10 tem relação direta com o povo de Israel e o serviço do sacerdócio levítico, portanto é obrigatório para este povo e esta finalidade em específico. Mas isso não impede alguém de consagrar a Deus 10% de seus rendimentos, voluntariamente, de acordo com os exemplos dos patriarcas Abraão e Jacó. Neste caso, porém, e como já dissemos mais de uma vez, os intérpretes do povo de Israel, com base nos relatos da própria Escritura, orientam doar tal valor aos pobres, pois sempre agradou a Deus ajudá-los (Êx 23:10-11; Lv 19:10; 25:35; Dt 15:7-11; 24:15; 26:12). Também podem investir este recurso em trabalhos onde hajam verdadeiros professores da Torá, porque ela tem orientações divinas não só para os judeus, mas para o mundo todo! (Gn 14:18-20; 2 Cr 31:4-5).

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

3 comentários em “O dízimo de Malaquias 3 10: Perguntas que deveríamos nos fazer”

  1. Glórias a Deus estudo maravilhoso, tudo que eu estava procurando,tinha muitas dúvidas sobre o dízimo pregado nas igrejas de hoje, não concordava com muitas coisas, más hoje Deus iluminou a minha mente e me deu a resposta que eu tanto buscava, assim como Deus abriu a minha mente,me fazendo entender o verdadeiro significado do dízimo escrito em Malaquias 3.10 eu creio que muitos também será abençoados com esse estudo, que Deus continue abençoando a sua vida meu irmão e te enchendo de sabedoria cada vez mais para que através desses estudos que vocês fazem,tirem as dúvidas de muitos assim como eu que busco pela verdade que está em Cristo Jesus nosso único e verdadeiro senhor e salvador que Deus abençoe a todos nós em Cristo Jesus Amém 🙏

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