Dar o dízimo é gratidão a Deus?

dar o dízimo é gratidão a Deus?

Existe uma grande discussão em nossa atualidade a respeito do tema “dízimo“. Seria válido para os dias de hoje? Seria algo exclusivo da Lei de Moisés ou ainda é realmente um gesto de gratidão dar o dízimo? É verdade que só dá o dízimo quem é grato a Deus? Vamos fazer aqui sucintas, porém conclusivas citações bíblicas e históricas sobre o assunto,

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Qual versículo bíblico diz que é gratidão dar o dízimo?

Não há um versículo que fale isso usando exatamente essas palavras, mas várias pessoas e líderes religiosos gostam de usar como exemplo o dízimo de Abraão, citado na Bíblia em Gênesis 14:18-20, para afirmar que dar o dízimo é um sinal de gratidão a Deus.

Corações agradecidos, de fato, correspondem retribuindo de alguma forma a alguém que lhe ajudou. Abraão, depois de ter enfrentado uma guerra, deu o dízimo a alguém que veio lhe ajudar com alimentos (14:18).

Este exemplo inspirou a comunidade do povo de Israel ao longo das eras a aceitar o dízimo em dinheiro como uma tradição, pois na Torá Deus ordena dar dízimos somente em forma de alimentos (vide Lv 27:30-33; Dt 14:22-23, 26:12; Ne 13:10-12; Mt 23:23). O rabino Rony explica isso a partir dos 9 minutos e 51 segundos do vídeo abaixo:

Dessa forma, esse patriarca (dentre outros exemplos) nos deixou um legado de que dar, voluntariamente, um décimo de nossos ganhos “a Deus”, é sim um sinal de gratidão para com as bênçãos que Ele já nos tem dado.

Um resumo da história do dízimo de Abraão e como ele agiu com gratidão pela vitória.

Resumidamente, o patriarca volta de uma guerra trazendo os bens que havia recuperado de Sodoma e Gomorra (despojos). Veja Gênesis 14:14-16.

Estes despojos não incluíam somente dinheiro (ouro e prata), mas também pessoas, animais, alimentos, as armas dos inimigos e tudo mais que eles tinham quando foram vencidos em combate (14:21).

Abraão, primeiramente, dá uma parte deste despojo ao sacerdote que veio lhe ajudar, trazendo pão e vinho (14:18-20). Depois, destes mesmos despojos, dá a parte dos seus companheiros de combate (14:24). Por fim, sem ele mesmo ficar com nada, devolve o restante ao rei de Sodoma (vs. 22,23).

Quem sabe gestos como esse inspiraram até mesmo versículos como Provérbios 3:9-10.

Mas para quem devo dar o meu dízimo?

No vídeo acima já foi explicado com detalhes, e veremos mais em outro indicado mais adiante. Porém, vamos destacar mais algumas informações.

Naturalmente, é possível ver na Lei de Deus que não existe só um tipo de dízimo. Os dízimos da agricultura e pecuária foram destinados para o povo de Israel e tem a ver com sua terra (seu país), conforme lemos em Dt 14:22-29 e Nm 18:21 em diante, por exemplo (isso inclui o dízimo de Malaquias 3:10 e Mateus 23:23 também).

Dentre as funções destes tipos de dízimos, se destacam:

  1. Prover mantimento para as 3 festas de peregrinação a Jerusalém,
  2. alimentar os levitas e sacerdotes que trabalhavam no templo de Deus,
  3. além das viúvas, dos órfãos e estrangeiros pobres que vivem nas terras de Israel.

Já o dízimo exemplificado por Abraão e por seu neto Jacó em seu voto pessoal, que podem ser chamados de dízimo monetário (em dinheiro), são de caráter pessoal e voluntário. Não se trata de um mandamento expressamente bíblico, mas uma tradição que o povo de Deus adotou com base nos gestos destes dois patriarcas. Todavia, baseado no próprio exemplo deles, é sugerido que tal dízimo deve ser usado para ajudar pessoas pobres ou investido em trabalhos de divulgação e ensino da Torá, a Lei de Deus.

Veja mais explicações da aplicação deste dízimo no vídeo abaixo:

O dízimo dado nas igrejas é correto?

Vamos analisar isso do ponto de vista histórico para não gerar problemas.

Mas antes, precisamos considerar que os principais líderes de comunidade que Yeshua escolheu eram judeus, e continuaram a ser, bem como os primeiros milhares de discípulos dele (vide At 1:12-14; 21:18-24; 24:14; 25:8; 28:17; Rm 11:1). Sendo assim, eles certamente consideraram a lei do dízimo de acordo com o que o povo de Israel sempre fez até aquele tempo, do qual um pouco foi explanado nos vídeos referenciados acima.

Porém, em se tratando da Igreja Cristã, já que essa deve ser a dúvida de não poucos leitores aqui, devemos ter em mente que ela foi fundada pelos pais da igreja (daí o nome “pais“). A Igreja se envidencia na primeira década do 2º século, principalmente com as cartas de Inácio de Antioquia.

Tendo isso em mente, documentos da própria Igreja registram o desenrolar do dízimo em sua história. O mais destacado seria o antigo Documento 8 (ou Estudo 8), da CNBB, publicado pela primeira vez em 1975.

Ao introduzir o assunto, é dito o seguinte:

Na história do dízimo entre os cristãos, podem-se distinguir 3 fases:
1) até o século V [5];
2) do século VI [6] até a Revolução Francesa (1789);
3) da Revolução Francesa aos nossos dias.
1.1 – Até o século V
Embora a legislação sagrada dos judeus impusesse a Israel a prática do dízimo, entre os cristãos dos primeiros séculos prevalecia a consciência de que o Evangelho havia levado à consumação as obrigações rituais e disciplinares da Lei de Moisés, colocando o definitivo em lugar do provisório.

Cf S. Irineu (+ 202 aprox.) Adv. Haer. IV 18,2 e Santo Agostinho (+430) …
Os pastores da Igreja, portanto, não pensaram a princípio em impor aos cristãos o pagamento do dízimo.

A frase final da citação acima nos dá uma informação importante: A Lei de Deus orientou o dízimo aos judeus/povo de Israel, mas os pastores da Igreja não impuseram-no aos cristãos num primeiro momento histórico do cristianismo. Isso já diferencia estes da comunidade de discípulos do Salvador, que como mencionamos acima, continuaram fiéis ao povo de Israel e às tradições e mandamentos da Torá.

Os pais cristãos, portanto, criaram um novo movimento religioso divorciado do povo israelita, desmereceram certos mandamentos de Deus em Sua Lei e não cobraram o dízimo de seus fiéis, considerando que este era coisa judaica que havia sido finalizada por seu cristianismo. Mas então por que se dá dízimo em quase todas as igrejas cristãs da atualidade?

Uma série de concílios históricos, realizados por motivos específicos, retomaram a prática do dízimo para com os fiéis sob domínio da antiga Igreja romana.

Para ser mais preciso, e resumidamente, as seguintes ocasiões se destacam neste processo:

  • No século 6 (ano 567, no concílio de Tours), foi promulgado que quem não desse o dízimo “como Abraão” deu, jamais poderia “reinar com o Cristo“;
  • No ano 585, em Macon, também região francesa, foi determinado que seria excluído da comunhão da Igreja quem se recusasse a pagar o dízimo;
  • Na transição do século 7 para o 8, com o imperador Carlos Magno, a prática do dízimo foi expandida. Nesta ocasião, quem se recusasse pagar o dízimo à Igreja seria multado pelo governo.
  • Finalmente, no século 12, nos concílios de Latrão, o dízimo foi padronizado e tornou-se doutrina oficial da Igreja Católica Romana Medieval.

Por fim, como todos sabem, da Igreja Católica surgiram as igrejas protestantes, no século 16, e destas as igrejas evangélicas e suas ramificações atuais. Por isso, todas juntamente herdaram o costume de cobrar dízimos de sua Igreja mãe.

Seria certo, então, dar dízimo nas igrejas?

É claro que, se você prestou atenção nas informações compartilhadas aqui, perceberá que quando falamos disso, estamos nos referindo ao dízimo monetário, isto é, dado em dinheiro, recebido por tradição inspirando-se nos patriarcas Abraão e Jacó. Pois o dízimo bíblico, ordenado a partir de Lv 27:30, é em forma de alimentos.

Do ponto de vista bíblico histórico, e pela tradição do povo que escreveu a Bíblia, este dízimo deve ser destinado a ajudar pessoas pobres ou que estejam de alguma forma em dificuldades financeiras, bem como pode ser aplicado em trabalhos de divulgação da palavra de Deus, a Torá.

Sendo assim, o ambiente no qual é dado o seu dízimo divulga a Lei de Deus ou defende que ela foi abolida? Defende e incentiva a prática dos mandamentos de Deus, ou desmerece vários deles através de justificativas, interpretações e teologias diversas? O dinheiro dado nesta instituição é revertido para ajudar pessoas pobres? Seria realmente gratidão a Deus dar o dízimo em lugares onde Sua cultura e leis são desmerecidas? Avalie essas coisas e tire a conclusão por si mesmo(a).

Há muito mais aprendizado no livro 7 Contradições Sobre o Dízimo, de minha autoria.

Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

4 comentários em “Dar o dízimo é gratidão a Deus?”

  1. Enrolou enrolou e não saiu de cima do muro, sim dízimo é voluntário ou por gratidão, agr não vamos ser hipócritas, vamos ser sinceros, se vc não dizimar na igreja o pastor não vai querer saber o seu problema e vai tirar vc da comunhão com a igreja vai proibir de ceiar vai tirar seu cargo e etc…, enfim sejamos transparentes no tempo que vivemos hoje o dízimo estabelecido pela igreja cristã é uma farsa .

  2. Estou comentando novamente por que tem um limite de palavras nos comentários….
    Os apóstolos não ensinavam os irmãos a darem o dízimo judeu por que esse não era uma assunto para a igreja.
    Hoje o dízimo de Malaquias 3:10 é impraticável até para os judeus, por causa da destruição do templo em 70 depois de Cristo, portanto nem eles dizimam.
    Uma observação:
    Aquele templo onde era entregue o dízimo também nada tem haver com a igreja de Cristo.

  3. Um ótimo texto, só não aprende quem não quer, ou talvez já esteja acomodado e não se quer dar ao trabalho de sair do engano, pois muitas vezes manter as coisas como estão é mais confortável. Entretanto a verdade não pode ser negociada.
    Então quero fazer algumas observações de acordo com o texto.

    O dízimo nunca foi, e nunca será uma doutrina para a igreja de Cristo.
    O dízimo nacional judaico, nada tem haver com a igreja de Cristo,

  4. É engraçado agente paga um monte de imposto no Brasil (para que o país desenvolva etc.) e fica aguardandando o retorno que nunca acontece e ninguem diz nada.
    Mas com relação a Igreja de Deus sempre tem um que fica perdendo tempo com esse tipo de assunto querendo fazer com que os crentes que já acham que o dinheiro cai do céu (o meu Pastor que o diga), dizímo, oferta, dê o nome que vc quizer, temos sim que gratos a Deus e ajudar sua obra!!!

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