Seria realmente o Natal a data de “aniversário” do Salvador? É mesmo verdade que Jesus nasceu em 25 de dezembro? Quando o Jesus realmente nasceu segundo a Bíblia? Seus discípulos comemoravam o Natal? O que a história tem a nos dizer? Essa é uma questão que tem intrigado muitas pessoas nos últimos tempos devido boatos de que Jesus definitivamente não nasceu nesse dia. Qual será a verdade afinal de contas? Tentaremos explicar neste estudo bíblico.
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Qual data Jesus realmente nasceu?
Eu já mostrei em outro estudo aqui no Blog Bíblia se Ensina que, definitivamente, Jesus não nasceu em 25 de dezembro, que corresponde ao mês de Kislev (ou Quisleu) no calendário hebraico (usado hoje em dia em Israel).
Ali foi verificado que, ao que indicam algumas informações bíblicas, sua verdadeira data de nascimento foi durante a Festa das Cabanas (Sukkot em hebraico), que geralmente acontece entre as últimas semanas de setembro e as primeiras de outubro.
No mês de Kislev (novembro-dezembro), que é o nono mês do calendário hebraico, é inverno nas terras de Israel, bem como em todo o hemisfério norte, incluindo EUA e Canadá, por exemplo. Nessa época geralmente faz frio, chove, e até nova nestas regiões, por isso é muito difícil fazer uma peregrinação, como a que houve na época do nascimento de Jesus, veja Lc 2:1-7 (cf. Ed 10:9; Jr 36:22-23). Além disso, haviam pastores apascentando suas ovelhas nos campos naquele dia, e isso não poderia estar acontecendo em tempos chuvosos e de frio (Lc 2:8).
Veja, por exemplo, essas fotos do monte Hermon, em Israel, capturadas em dezembro do ano de 2021:
(Fonte das imagens, Israel nas Notícias).
Ora, é possível que pastores estivessem alimentando seus rebanhos pelos campos nessas condições climáticas? Óbvio que não! Portanto, esta é uma das provas que a noite em que o Salvador nasceu certamente não era dezembro.
Os textos já referenciados acima, Esdras 10:9 e Jeremias 36:22-23, são prova de que durante este mês geralmente é tempo chuvoso e frio nas terras israelitas. Além disso, o texto de João 10:22-23 menciona a Festa da Dedicação (a atual Hanukkah), que acontece no nono mês bíblico, correspondendo aos meses de novembro e dezembro; ali também é dito que era inverno nessa época.
Não obstante a todas essas informações, que infelizmente passam desapercebidas por muitos de nós quando lemos a Bíblia de modo ligeiro, a data de 25 de dezembro continua a ser lembrada como o dia em que o Salvador teria nascido. Mas se ele não nasceu nessa data, como foi que isso tudo começou? Quem estabeleceu o 25 de dezembro como o dia do nascimento de Jesus e por quê? É o que pretendemos investigar a partir deste ponto neste estudo bíblico.
Quem realmente nasceu em 25 de dezembro?
Entre os romanos, os festivais eram muito populares. O período de fim de ano marcava a Saturnália, que era uma festividade em homenagem ao deus Saturno, celebrada desde tempos pré-cristãos. Essa festa ocorria em 17 de dezembro no Calendário Juliano e mais tarde se estendeu até o dia 25. Havia um banquete público, seguido de troca de presentes, além dos sacrifícios no templo do deus romano.
Mas a Saturnália não era a única festividade celebrada nesta época no mais poderoso império da época de Jesus.
Acontece que Roma, geralmente, tinha por costume absorver a cultura e crenças de outros povos que dominava, isso explica porque o profeta Daniel não conseguiu identificar o quarto animal de uma de suas visões, que representava essa nação na antiguidade (cf. Dn 7:7). Por isso, no século 3, a festa do sol invicto foi incorporada em seu calendário.
O deus persa Mitra, que era identificado com o sol, também cultuado por muitos romanos, teria nascido durante o solstício de inverno (17-25 de dezembro).
Divindades ligadas ao sol em geral eram celebradas no solstício também.
O culto a Mitra chegou na Europa por volta do século 4 AEC, quando Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio. Então, centenas de anos depois, soldados romanos viraram devotos da divindade, pois em 25 de dezembro de 274 EC, o imperador romano Aureliano tornou o nascimento do deus Sol invencível (natalis invicti Solis) uma festividade oficial do império, ao lado de outras que já eram tradicionais (Saturnália).
Desses eventos por diante, o dia 25 de dezembro foi inserido no calendário civil romano como o Dia do Sol Invencível, que triunfa sobre a escuridão. A data marcava a virada do solstício de inverno, quando a luz do dia começava a aumentar gradativamente, ou seja, o sol ficava brilhando por mais tempo no céu.
No decorrer do século 4, porém, com a oficialização do cristianismo como sendo a religião oficial e única do Império romano, o festival do nascimento do deus sol começou a mudar de homenageado.
A estória de que “Jesus nasceu em 25 de dezembro”, isto é, na festa do Natal, começou no século 4 com a Igreja Católica de Roma.
Depois de um forte período de confusão teológica e perseguição contra crentes de diversos formatos, sendo judeus ou não, o imperador Constantino (272 – 337) começa a favorecê-los. Em 313 então ele cria o edito de Milão, que lança proibição às perseguições religiosas. Daí por diante o Império Romano começa a simpatizar-se com o cristianismo, a religião mencionada pela primeira vez por Inácio de Antioquia em sua carta aos magnésios, no início do 2º século de nossa era.
Até que, no ano 325, como muitos cristãos já sabem, se realizou o primeiro grande concílio da Igreja Cristã, o concílio de Niceia. Ele foi idealizado pelo próprio imperador Constantino e sua intenção era unificar o pensamento cristão, que enfrentava fortes conflitos doutrinários até então. Nesta ocasião, vários bispos das comunidades foram chamados para debater algumas questões. A partir daí o cristianismo, agora a religião oficial do império, foi ganhando forma final, e logo seriam discutidas questões envolvendo a suposta data em que Jesus nasceu, o famoso 25 de dezembro.
Na verdade, a data do nascimento do Mestre judeu não era comemorada por seus verdadeiros discípulos, e por isso não tinha relevância o exato dia de seu nascimento. Entretanto, a Igreja romana queria fazer algo ante os festivais celebrados no solstício de inverno para oficializar sua nova religião, em detrimento das outras.
Então, ao que dizem algumas fontes, no ano 350 foi celebrado pela primeira vez o Natal cristão em Roma.
A escolha da data foi determinada pelo Papa Julius I (337-352). Em princípio era uma data pagã conhecida como “férias de inverno” em homenagem a Saturno, o deus da agricultura, como vimos antes. Um decreto do Papa Júlio I, porém, no ano 350 EC, teria determinado a substituição da veneração ao deus sol pela data em que teria nascido Jesus o Salvador. Assim ele decretou 25 de dezembro como dia da comemoração do nascimento de Jesus. No entanto, como se percebe, isso foi feito para coincidir com as festividades idólatras já em andamento no Império.
Por fim, o Sol Invicto foi absorvido e sua data de nascimento ganhou um novo personagem, Jesus Cristo. É até irônico, pois enquanto hoje em dia várias pessoas alegam que “o papai Noel” está roubando a data de nascimento do verdadeiro homenageado, Jesus Cristo, a muito tempo atrás parece que Jesus Cristo foi quem roubou a data de nascimento de outro, não?!
Mas é claro, não foi ele, e sim aqueles que construíram tal argumento.
Daí por diante, com a cristianização do Império romano, em vez de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol Invicto), a Igreja Oficial de Roma adotou o Natali Domini (nascimento do Senhor). Mas seria isso uma tentativa de mesclar as culturas ou de eliminar a idolatria do império?
Não obstante à resposta, isso nos leva a pensar em uma curiosidade: Por que existe um círculo solar em volta da cabeça dos “personagens bíblicos” pintados nos quadros católicos? Quando olhamos, pois, para um certo achado arqueológico do século 3 EC e as antigas celebrações ao deus sol invicto, podemos assimilar tudo e quase concluir que era uma tentativa de misturar as culturas/crenças e fazer adeptos para sua nova religião imperial! A isso damos o nome de “sincretismo religioso“.
Conclusão:
Embora vivamos na era da informação e do conhecimento, não são muitos os cristãos que sabem destes fatos históricos do passado. Mas ao tomar conhecimento deles, a quem realmente veneramos no Natal? Pois o Messias Yeshua, chamado Jesus, o Cristo, não nasceu nessa época, sendo a data mais provável de seu nascimento entre o final de setembro e o início de outubro, como mostramos em outro estudo aqui no Blog Bíblia se Ensina.
Por acreditarem que tudo que é ensinado na doutrina cristã a respeito de Deus e de Jesus é a mais pura verdade, geralmente as pessoas não imaginam os questionamentos que podem fazer. Por isso, frequentemente, quando descobrem que algo não está certo, já se passaram anos desde o primeiro contato com a fé.
Na verdade, pode ser que o grande problema mesmo esteja na figura distorcida do Salvador judeu (Jo 4:22) que foi criada pelas interpretações bíblicas dos pais (fundadores) da Igreja Cristã. Pois, de acordo com Inácio de Antioquia (35-107), um dos primeiros deles, o Ungido (Cristo) veio para se desfazer da Lei de Deus, a Torá, e assim descaracterizar vários costumes que o povo de Israel (judeus) recebeu da parte de Deus em sua Lei, basta ver sua carta aos Magnésios, caps. 8 até 10; este argumento continuou a ser alimentado pelos pais cristãos posteriores, não obstante Deus ter afirmado em sua palavra que jamais se esqueceria dos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, e que não violaria sua aliança com eles (Salmo 89:30-34; Jr 31:35-37; Rm 11:1-5).
Agora eu gostaria de saber a sua opinião: você acha que a Igreja Cristã mãe, a Igreja Católica de Roma, em seu princípio, ajudou a destruir cultos idólatras antigos ou só promoveu um sincretismo religioso, insultando a Deus e distorcendo a figura do Messias? Escreva nos comentários mais abaixo.
Fontes de Consulta:
- A primeira celebração do Natal: Blog Ensinar História – Joelza Ester Domingues.
- Solstício de Inverno: Enciclopédia Britânica.
- Super Interessante: A verdadeira história do Natal.
- Toda Matéria: A história do Natal.
- Marcos Felipe Pimentel Arruda: Estudo sobre o Natal, devo celebrar?
- Conexão Israel: O outono judaico.
- Biblia.com.br: Quando, historicamente, nasceu Jesus.
Eu pensando por esse lado também não me sinto bem comemorando essa data sabendo que tem uma misturada dessas.
Penso que seria bom se fizessem uma reavaliação das datas comemorativas cristãs..
É muito difícil assimilar tudo isso devido ao contexto social e histórico que nos é imposto desde sempre. Correto mesmo seria uma reavaliação das datas comemorativas cristãs pelo papa atual .. eu particularmente não me sinto bem em comemorar o natal sabendo que não é a verdadeira data do seu nascimento ..
Oi Flávia, obrigado por comentar. Eu concordo contigo nessa questão. Desde o século 4 a Igreja Católica Romana mudou tudo com o poder do Império. Muitas pessoas dizem que a profecia de Daniel 7:25, de que leis e datas seriam mudadas, se refere à igreja Católica Romana.
A questão é que todo continente europeu, americano e na américa latina tem forte influência do Catolicismo Romano. Toda nossa sociedade foi construída com base nas tradições e doutrinas dessa Igreja Medieval, portanto ficamos um tanto distantes das verdades a respeito do Senhor. Sua identidade judaica está quase que completamente perdida ou deturpada. É tão complicado que por aqui eu tenho descoberto algumas verdades e as tenho mencionado com meus conhecidos, porém não tenho sido bem compreendido, pois o povo já está tão acostumado ao que nos foi transmitido tradicionalmente que quando a gente fala a verdade dos fatos mesmo muitas pessoas acham estranho.
Eu estou prevendo que a igreja cristã já está em conflitos e entrará em mais conflitos daqui para frente, pois muitos conhecimentos que não eram acessíveis antes da década de 90 agora são devido o acesso à internet, e cada vez mais pessoas vão ficar inconformadas com a transmissão de conhecimentos errados que os líderes evangélicos vem reproduzindo.
Eu sempre me senti diferente em relação ao que nos e transmitido pela Igreja x’. O que me parece que eles usaram todo esse conhecimento para manipular a grande massa. Seus textos são edificantes, e muito exclarecedores, parabéns pelo seu trabalho .