O Dia de Finados é bíblico? Quem o criou e como surgiu?

estudo bíblico explica se o dia de finados, em 2 de novembro é bíblico e qual a sua origem

O que é o Dia de Finados e o que ele representa? O que significa este feriado de 2 de novembro para os evangélicos ou para os cristãos? É certo rezar ou orar pelos mortos nessa data? O Purgatório, onde estaria sendo purificada a alma dos mortos afim de irem para o céu, realmente existe? Qual a base bíblica para as práticas e crenças envolvendo tal feriado? Como sempre, vamos investigar o pano de fundo histórico de como e quando surgiu este feriado, por quais motivos, o que é feito nele, e assim vamos ter uma ideia madura a respeito deste tema.

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O que é o Dia de Finados e quando surgiu?

Segundo a Enciclopédia Católica, a comemoração de todos os fiéis defuntos (Dia de Finados) é celebrada pela Igreja no dia 2 de novembro ou, se for domingo ou solenidade, no dia 3 de novembro.

A base teológica para tal festa/feriado é a doutrina de que as almas que, ao deixarem o corpo, não estão perfeitamente purificadas dos pecados perdoáveis, ou não expiaram totalmente as transgressões passadas, podem ser ajudadas pelos fiéis na terra com orações, esmolas e especialmente com o sacrifício da Missa.

Nos primeiros dias do Cristianismo, os nomes dos irmãos falecidos eram inscritos nos dípticos (tabuinhas duplas em que escreviam os antigos).

Mais tarde, no século VI (6), era costume, nos mosteiros beneditinos, realizar uma comemoração dos membros falecidos no Pentecostes (a Festa bíblica das semanas). Tais mosteiros eram locais em que se conservavam os ensinamentos de São Bento de Núrsia (480-547).

Na Espanha, existia esse dia no sábado antes da Sexagésima (60 dias antes da Páscoa), ou antes de Pentecostes, na época de Santo Isidoro (falecido em 636). Na Alemanha, existia uma cerimónia consagrada pelo tempo de oração aos mortos no dia 1 de outubro (de acordo com o testemunho de Viduquinho, Abade de Corvey (Alemanha), c. 980). Isto foi aceito e santificado pela Igreja.

Santo Odilo de Cluny (França), falecido em 1048, ordenou que a comemoração de todos os fiéis falecidos fosse realizada anualmente nos mosteiros de sua congregação. Daí se espalhou entre as outras congregações dos beneditinos e entre os cartuxos (uma ordem religiosa católica em que se praticava uma espécie de isolamento social).

A Enciclopédia Britânica também esclarece que…

O Dia de Finados, no Catolicismo Romano, é um dia de comemoração de todos os fiéis falecidos; aqueles cristãos batizados que se acredita estarem no purgatório porque morreram com a culpa de pecados menores em suas almas.

Tal Enciclopédia ainda acrescenta que: a doutrina católica romana afirma que as orações dos fiéis na terra ajudarão a limpar essas almas, a fim de prepará-las para a visão de Deus no céu. Por isso este dia é dedicado à oração e à lembrança. Nessa ocasião, muitas pessoas visitam e às vezes decoram os túmulos de entes queridos.

Desde a antiguidade, certos dias foram dedicados à intercessão por determinados grupos de mortos. A instituição de um dia de intercessão geral no dia 2 de novembro deve-se a Odilo, abade de Cluny (que mencionamos mais acima).

A data, que se tornou praticamente universal antes do final do século XIII (13), foi escolhida para acompanhar o Dia de Todos os Santos (celebração pelos cristãos que já estariam no céu), no dia 1º de novembro. Tendo celebrado a festa de todos os membros da igreja que se acredita estarem no céu, a igreja na terra volta-se, no dia seguinte (2 de novembro), para comemorar aquelas almas que se acredita estarem sofrendo no purgatório.

Os sacerdotes celebram a missa usando vestimentas de cores variadas – preta (para luto), violeta (simbolizando penitência) ou branca (simbolizando a esperança da ressurreição).

Algumas passagens bíblicas supostamente dariam suporte para a intercessão pelas almas dos mortos que estariam o purgatório, necessitando de purificação e finalmente chegarem ao céu.

Entre elas, destacamos as seguintes passagens, extraídas da Bíblia de Jerusalém.

Quando tu e Sara fazíeis oração, era eu quem apresentava vossas súplicas diante da Glória do Senhor e as lia; eu fazia o mesmo quando enterravas os mortos.

Tobias 12:12

Depois, tendo organizado uma coleta individual, enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição.
De fato, se ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos.
Mas, se considerava que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado.

2º Macabeus 12:43-45

Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.

Mateus 12:12

Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão.
Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo.

Mateus 5:25-26

Assim, encolerizado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a sua dívida.
Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão.

Mateus 18:34-35

Se alguém sobre esse fundamento constrói com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha,
a obra de cada um será posta em evidência. O Dia torná-la-á conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo e o fogo provará o que vale a obra de cada um.
Se a obra construída sobre o fundamento subsistir, o operário receberá uma recompensa.
Aquele, porém, cuja obra for queimada perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo.

1ª Coríntios 3:12-15

Entre outras passagens bíblicas.

A Doutrina do Purgatório de acordo com a Igreja Católica.

Realizado entre os dias 7 de maio e 17 de julho de 1274, o Concílio Católico de Lyon II, definiu Purgatório da seguinte forma:

“Porque se eles morrem na caridade verdadeiramente arrependidos antes que eles tenham feito satisfação através de dignos frutos de penitência pelos pecados cometidos e omitidos, suas almas são purificadas depois da morte por punições purgatóriais ou depurantes…”

Papa Gregório X – Concílio de Lyon II, 1274 (Denzinger 464).

Sendo assim, tanto a Doutrina do Purgatório quanto o Feriado de Finados foram originados pela Igreja Católica Romana, a Igreja Cristã mãe, mas com base em outras crenças antigas, como mencionadas a seguir.

A origem do Dia de Finados antes da Igreja Católica Romana.

Segundo Léon Denis, um filósofo e pesquisador espírita de grande influência na Europa, que viveu entre os anos 1846 – 1927, o estabelecimento de uma data específica para a comemoração dos mortos é uma iniciativa dos druidas, que eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensino, jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta. Eles eram um povo do oeste europeu de aproximadamente século II antes de nossa era.

Eles acreditavam na continuação da existência depois da morte e reuniam-se nos lares, e não nos cemitérios, no primeiro dia de novembro, para homenagear e evocar os mortos. Fonte: Wikipédia.

É certo rezar/orar pelos mortos no Dia de Finados?

Agora, falando particularmente, sem dúvida alguma, todas as passagens bíblicas mencionadas acima, das quais algumas são usadas em sites católicos para defender a reza pelos mortos e a doutrina do purgatório, são utilizadas de modo divorciado de seu contexto.

Naturalmente, não existe nada de errado em honrar a memória daqueles que já se foram, recordando de seus bons feitos, ensinamentos bons, exemplos de vida a serem seguidos ou não, o motivo pelo qual morreram etc. Isso é muito feito em Israel; lá, por exemplo, honra-se a memória dos milhões de judeus que foram mortos nos campos de concentração nazistas, no século 20. O dia 27 de janeiro foi escolhido internacionalmente para se recordar deles. No Brasil, também há o Museu do Holocausto, em Curitiba.

Todavia, no que diz respeito a rezar, orar ou interceder pelos mortos, para que suas almas sejam finalmente purificadas, saiam de um suposto purgatório (purificação) espiritual e sejam enviadas logo para o céu, não existe um apoio bíblico para isso.

A começar pelo fato de que, na prática, essa crença de que a alma é uma entidade consciente que pode existir separadamente do corpo após a morte não é bíblica. Na verdade, isso parte de uma má interpretação das Escrituras. Tal mito se originou em crenças religiosas egípcias e gregas antigas (dentre outras). Nas bíblias em português, certos versículos que dão a entender isso são fruto de má tradução, porque o texto de Gênesis 2:7, por exemplo, diz que o ser humano é uma alma vivente (um ser vivo), e não que ele tem uma alma.

A crença na morada no céu também é fruto de má interpretação e consequentemente má tradução bíblica. Para explicar de modo simples, a Bíblia diz que, no desfecho desta era humana, o reino milenar do Messias (o 7º milênio), será aqui na Terra, onde existirão nações que aprenderão diretamente dele a palavra de Deus (Ap 5:9-10, 20:1-8). E, no fim deste milênio, a morada de Deus descerá aqui para nosso mundo, conforme lemos sem dificuldade no livro da Revelação (Apocalipse), capítulo 21:1-4, voltando ao cenário primitivo da criação do homem, no Éden (Gn 3:8).

E além disso, as Escrituras registram, em vários versículos, que os mortos estão, simplesmente, mortos, e não passando por uma espécie de purificação ou um sofrimento agonizante.

Pois na morte ninguém se lembra de ti, quem te louvaria no Xeol (sepulcro)?

Salmo 6:5 Bíblia de Jerusalém (BDJ)

Mostrarás tu prodígios aos mortos ou os finados se levantarão para te louvar?
Será referida a tua bondade na sepultura? A tua fidelidade, nos abismos?
Acaso, nas trevas se manifestam as tuas maravilhas? E a tua justiça, na terra do esquecimento?

Salmo 88:10-12

Os mortos já não louvam a Iahweh, nem os que descem ao lugar do Silêncio.

Salmo 115:17

Tudo o que te vem à mão para fazer, faze-o conforme a tua capacidade, pois, no Xeol (sepultura) para onde vais, não existe obra, nem reflexão, nem conhecimento e nem sabedoria.

Eclesiastes 9:10

Com efeito, não é o Xeol (sepulcro) que te louva, nem a morte que te glorifica, pois já não esperam em tua fidelidade aqueles que descem à cova.
Os vivos, só os vivos é que te louvam, como estou fazendo hoje.

Isaías 38:18-19

 Ainda falava, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, dizendo: Tua filha morreu. Por que perturbas ainda o Mestre?…
Chegaram à casa do chefe da sinagoga, e Ele viu um alvoroço. Muita gente chorando e clamando em voz alta.
Entrando, disse: Por que este alvoroço e este pranto? A criança não morreu; está dormindo.

Marcos 5:35,38-39

Disse isso e depois acrescentou: “Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo”.
Os discípulos responderam: “Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar!”
Jesus, porém, falara de sua morte e eles julgaram que falasse do repouso do sono.

João 11:11-13

E, como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o julgamento.

Hebreus 9:27

Com efeito, em Romanos 14:12, a Bíblia deixa claro que cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus. Por isso, interceder por um morto não pode surtir nenhum efeito, pois cada um de nós seremos julgados de acordo com nossos feitos nessa vida, cada um de acordo com sua própria consciência (vide Ap 20:12-13).

Portanto, segundo essa análise bíblica básica, não poderia existir um purgatório, isto é, um lugar onde nossa alma, após a morte, ficaria sofrendo um castigo temporário (ou passando por uma purificação), até que seja redimida e vá para o céu.

Como dissemos, trazer à tona as boas lembranças e lições que aprendemos com pessoas que já se foram é normal e até saudável, veja Eclesiastes 7:12 e Jacó (Tg) 5:11, por exemplo.

Mas devemos ajudar uns aos outros enquanto ainda estamos em vida, veja Atos 20:35 e Gálatas 6:10. Devemos valorizar as pessoas enquanto estão em vida (Jo 13:34; Rm 12:10), porque depois da morte será tarde demais (Hb 9:27).

Não devemos nos culpar se lutamos por alguém ainda em vida, e esta pessoa não escolheu andar no bom caminho, veja Ezequiel 33:9. Mas o que fazer então, pois aquela pessoa era amada e era desejo nosso que ela fosse salva? Neste caso, só a Deus compete decidir salvá-la ou não, isto não é um conhecimento que possamos alcançar, porque só Ele conhece a consciência, os pensamentos e as dificuldades de cada um; Ele é o justo juiz.

Jó, por exemplo, foi um homem que lutou por seus filhos enquanto estes estavam vivos, fazendo de tudo para aproximá-los de Deus e purificá-los. Dessa forma, quando seus filhos morreram, ele não sentiu remorso, pois apesar da dor de perdê-los, ele certamente ficou com sua consciência em paz, veja Jó 1:5, 18-22.

De igual modo, o rei Davi jejuou e orou por um de seus filhos que havia ficado enfermo, na esperança de que Deus pudesse curá-lo. Porém, quando a criança morreu, ele parou de interceder por ela, porque já não havia mais o que fazer (2Sm 12:18-23).

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

13 comentários em “O Dia de Finados é bíblico? Quem o criou e como surgiu?”

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