O que é a Páscoa Bíblica, Semana Santa, Quaresma e Santa Ceia cristã?

Foto do seder de Pessach (refeição da páscoa bíblica judaica do Êxodo)

O que é a Semana Santa e a Páscoa bíblica para os cristãos e judeus? A Semana Santa é um momento sagrado para os cristãos. Nela se comemoram os mistérios da salvação a partir da recordação da última semana da vida de Jesus Cristo. A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, passa pela Sexta-Feira Santa (dia da crucificação e morte de Jesus) e termina no Domingo de Páscoa, quando se celebra a ressurreição do Cristo dos cristãos.

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Este evento é antecedido pela Quaresma, que é a designação do período de quarenta dias que antecedem a principal celebração do cristianismo: a Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo, que é comemorada no domingo. É uma prática presente na vida dos cristãos desde o século IV (4).

Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350, a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias, e foi assim que surgiu a Quaresma.

(Fonte: Significados.com.br)

A Igreja Católica, que é a Igreja mãe, ainda segue esses costumes estabelecidos por ela mesma no passado, mas as igrejas evangélicas, embora se trate do mesmo Cristo e vindas daquela, parecem não dar tanta importância litúrgica ao estabelecido, pelo menos a maioria delas.

Mas o que é a páscoa bíblica de verdade?

Todos sabemos que a verdadeira páscoa bíblica se inicia em meados do século 15 AEC, quando os hebreus são libertos pelo próprio Deus de um duro tempo de escravidão e maus tratos no Egito antigo. Portanto, tal evento tem a ver com um povo específico. Então, em Êxodo 12, e vários outros trechos relacionados da Torá, Deus dá aos israelitas as exatas coordenadas de como deveriam celebrar este evento ao longo de suas gerações, deixando claro que não existe prazo de validade para o mesmo (cf. v. 14).

Ora, o que vemos nos relatos dos discípulos do Salvador sobre “páscoa”, portanto, é uma realidade um tanto diferente da vivida hoje no cristianismo. Haja vista que tais costumes mencionados acima de celebração da páscoa cristã foram criados mais de 200 anos após os eventos com o Salvador, ou seja, fora do ambiente de seus emissários (apóstolos), que pelo que percebemos não se afastaram das tradições da Torá, como o cristianismo o fez ao longo da história, criando suas próprias liturgias, interpretações bíblicas, culto, costumes e religião (vide At 18:18-21; 21:23,24,26; cf. Núm. 6:18; At. 20:10-14; 28:17-21; Rm 3:29-31).

Logo, o que realmente seria a “santa ceia” e a “páscoa” que “Jesus” participou com seus discípulos na noite em que foi traído e morto?

Veio o dia dos Ázimos, quando devia ser imolada a páscoa. Jesus então enviou Pedro e João, dizendo: “Ide preparar-nos a páscoa para comermos”.

(Lucas 22:7-8 Bíblia de Jerusalém)
Mesa preparada para Seder de Pêssach (refeição da páscoa bíblica).
Mesa preparada para Seder de Pêssach (refeição da páscoa bíblica)

Mais à frente, em 1 Coríntios, por duas vezes o “apóstolo dos gentios”, Paulo, cujo nome original hebraico é Shaul, parece não se distanciar muito do que seu próprio Mestre fez, e recomenda aos seus leitores que continuem a fazer o mesmo. Pois escrevendo próximo da festa de Pêssah (páscoa bíblica ou páscoa judaica) ele diz aos seus liderados:

Purificai-vos do velho fermento para serdes nova massa, já que sois sem fermento. Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolado. Celebremos, portanto, a festa, não com velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade.

(1 Coríntios 5:7-8 Bíblia de Jerusalém)

É tão claro como água que quando o “apóstolo” diz “celebremos a festa”, está se referindo à festa dos pães sem fermento, isto é, dos ázimos. Basta ver a analogia que ele faz logo em seguida.

Além disso, os relatos dos discípulos são claros ao afirmar que o Mestre celebrou essa festa bíblica da Torá também (cf. Luc. 22:7-8; Mar. 14:12-16; Mat. 26:17-19).

Então Shaul diz para os discípulos continuarem fazendo esta mesma festa, mas de forma sincera e pura, sem as maldades que antes ele havia relatado neste mesmo capítulo (vs. 1,2). E ele ainda assinala que seu Mestre foi sacrificado durante o evento da páscoa bíblica, o que os relatos (evangelhos) nos mostram claramente (João 13:1-5).

Se a comemoração da páscoa tal como é no cristianismo só começou uns 200 anos após a morte do Salvador, obviamente o evento que ele participou foi a Pêssah, isto é, a páscoa bíblica do Êxodo, a qual sofreu modificações ao ser introduzida naquela religião.

Pêssach (פסח): páscoa bíblica judaica do Êxodo.
Pêssach (פסח): páscoa bíblica judaica do Êxodo.

Ora, a Pêssah é a mesma “páscoa” que os judeus (povo de Israel) continuam participando até hoje, pois como vimos anteriormente, não existe prazo de validade para a mesma (Êx. 12:14,17). Haja vista que o próprio Salvador revela que ele mesmo comerá dessa mesma Pêssah com seus discípulos quando vier o reino de Deus, vide Lucas 22:15-16. Então, naquela ocasião em que esteve aqui na terra, o Senhor, junto de seus discípulos, só estava sendo obediente ao mandamento de Deus (cf. Jo. 15:10).

(Diante disso fica a pergunta: por que os cristãos pararam de participar (ou nunca participaram) de tal evento bíblico, visto que alegam ser o povo de Deus?)

Retomando o texto de 1 Coríntios, desta vez no capítulo 11, verificamos que Shaul (Paulo) fala mais uma vez da refeição de Pêssah, quando os discípulos se reúnem para comê-la, assim como fez o Senhor com os seus.

Em 1 Coríntios 11:20 tal refeição foi traduzida como “ceia do Senhor” nas bíblias cristãs. Mas é óbvio que não se trata do mesmo evento celebrado pela cristandade hoje em dia, cujo pedaço de pão é conhecido como “hóstia“. Pois o versículo seguinte a este mostra que havia comida o suficiente para todos.

Cada um se apressa por comer a sua própria ceia, e, enquanto um passa fome, o outro fica embriagado.

(1 Cor. 11:21 BDJ)

Após censurar os discípulos por seu egoísmo e desorganização nesse evento, o emissário começa a explicar o gesto que o Salvador fez na noite em que foi traído, que foi repartir o pão e o cálice com seus discípulos (1 Cor. 11:23-25). Ou seja, todos deveriam fazer o mesmo ao se juntarem para comer daquela refeição de Pêssah, repartindo o alimento, e não serem meros comilões que não entendem o sentido daquele evento.

Shaul explica ainda que a refeição de Pêssah (páscoa bíblica) deveria recordar a morte e o retorno do Senhor com a vinda do reino de Deus, bem como ele havia predito para seus discípulos (cp. 1 Cor. 11:25-26; Luc. 22:15-19; Mar. 14:22-25; Mat. 26:26-29).

Então é errado celebrar a Páscoa e a Santa Ceia cristã?

A Santa Ceia e a Páscoa tal como conhecemos hoje nas igrejas são, por si só, liturgias do cristianismo, a religião fundada pelos pais (padres) da igreja a partir do século 2 EC.

Essas liturgias não podem ter sido fundadas pelo Messias porque, como vimos e veremos mais adiante, ele continuou a realizar as liturgias bíblicas da Torá. Porém, quanto aos pais da Igreja e seu cristianismo, eles fizeram nova interpretação do Messias bíblico e criaram novas liturgias, formas de culto, teologias e tudo mais. Logo, dentre essas novas interpretações está a Páscoa cristã tal como é celebrada hoje em dia e sua Santa Ceia, que nasceu de dentro da Páscoa.

Mas quem quer seguir o Messias da Bíblia e participar da mesma Páscoa que ele participou, não deveria fazer tudo da forma que ele fez?! (cf. 1 Jo. 2:6)

E como o Messias fez a Páscoa bíblica? (Pêssah)

Os relatos dos discípulos (evangelhos) não mostram os detalhes litúrgicos desse evento porque não tinha necessidade, pois isso já estava na tradição do principal povo leitor dos relatos. Não obstante, sempre houve toda uma liturgia envolvendo o jantar de Pêssah. Esta é registrada parcialmente em Êxodo 12 e outra parte pela tradição do povo de Israel.

Separamos o vídeo abaixo da Aline, que é uma pessoa que vivencia a Pêssah de acordo com a tradição do povo judeu, para saber melhor como o jantar (seder) é feito. Além disso, mais abaixo vamos comentar que semelhanças tem essa tradição milenar com o que o Senhor fez com seus discípulos ao examinar o texto de Lucas 22:7-21, João 13:21-26, dentre outros.

A Páscoa judaica foi a do Messias?

Vemos aos 1:33 minutos que a primeira coisa que se faz na cerimônia do jantar é o Kidush, isto é, a reza/oração do vinho. Assim, lemos em Lucas 22:14-18 que o Mestre abre o jantar da mesma forma, pois ele reparte o vinho entre seus discípulos e dá graças.

A Aline nos diz também, aos 2:04 minutos que são bebidas 4 taças de vinho ao longo do jantar, e no v. 20 de Lucas 22 veremos o Senhor tomando mais uma taça de vinho com seus discípulos. É em uma dessas quatro que ele faz a assimilação de seu sangue com a aliança renovada.

Aos 3:10 minutos do vídeo vemos o Karpas, que é algo comestível molhado na água com sal. É interessante notar que durante o jantar o Senhor também pega o mesmo elemento, molha e dá a Judá de Keriote, que o traiu, cf. João 13:21-26.

Por fim, aos 3:57 minutos ela diz que músicas são cantadas durante o jantar, e os relatos bíblicos também registram que o Mestre fez o mesmo (Mat. 26:29-30; Mar. 14:25-26).

Em suma, ao conhecer toda a liturgia do jantar de Pêssah, vemos que o Jesus bíblico (cujo nome original é Yeshua) fez exatamente o que a tradição judaica mantém até hoje.

Quem deve participar da Pêssah?

Agora, o interessante a se observar é que este evento é completamente ligado ao povo de Israel, pois este é o povo que Deus separou, dentre todos os outros povos da terra, e deu a eles uma identidade para diferenciá-los (Deut. 7:6; 14:2). Por isso que o jantar de Pêssah (da Páscoa bíblica) deve ser feito de acordo com as tradições desse povo, o que o Messias também o fez.

E por ser estritamente ligado à identidade de um povo específico, quem não é parte deste povo não tem a obrigação de fazê-lo. Mas se é temente a Deus e quer participar, deve ser de acordo com o rito já determinado dentro do povo que Deus o fez seu, pois foi isso que Ele mesmo ordenou em Números 9:14.

A Páscoa e a Santa Ceia cristã feitas hoje em dia são o mesmo evento que o Salvador fez com seus discípulos?

Vamos chegar à resposta dessa pergunta com outras perguntas:

  1. A Páscoa e a Santa Ceia cristã (que veio de dentro da Páscoa) feitas nas igrejas, acontecem na mesma data ordenada por Deus ao seu povo? (vide Êx. 12:14,17-18; Lv 23:5; Nm 9:2-3; 28:16)
  2. São feitos os preparativos específicos para o momento, conforme as ordenanças bíblicas e as tradições do povo no qual a Páscoa bíblica se originou? (cf. Nm 9:3)
  3. A Santa Ceia cristã nos leva a participar do mesmo evento que o Messias participou com seus discípulos, e ordenou-os a continuar fazendo? (Lc. 22:1,7-8,15-16; 1 Cor. 11:23-25).

Os sites cristãos geralmente explicam que o Salvador instituiu a Santa Ceia (ou Eucaristia) naquela noite em que comia a Páscoa com os discípulos e com isso se desfez do mandamento “velho” de Êxodo 12. Porém, se o Messias estava fazendo a páscoa bíblica-judaica com seus discípulos (Lc 22:1,7-8), e disse que comeria dessa mesma com eles no reino dos céus (vs. 15-16), será mesmo que foi ele quem mudou de um evento para o outro, de um povo para o outro?

Deixo aos leitores responderem essas perguntas.

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

7 comentários em “O que é a Páscoa Bíblica, Semana Santa, Quaresma e Santa Ceia cristã?”

  1. Páscoa católica sempre foi um mistério pra mim pq cada um fazia a páscoa de um jeito. E real que a igreja evangélica não dá muita importância. Fazemos uma vez por mês, lembro disso, mas algo vago só para em memória do Senhor. Obrigada pelo estudo, isso esclareceu muita coisa ao qual tinha dúvidas!

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