Como interpretar a Bíblia evitando 4 erros muito comuns

Imagem ilustrativa de 4 pessoas lendo e tentando interpretar a Bíblia Sagrada.

A Bíblia Sagrada é um livro milenar, sua história ultrapassa os tempos de Moisés, por volta do ano 2448 da criação (1446 AEC), quando a sua principal parte começou a ser escrita, a Torá (Lei). Então, o que é preciso para interpretar a Bíblia? Um livro tão antigo que começou a ser dado de forma oral ao ser humano desde os dias da criação, depois entregue a um determinado povo para que fosse preservado, praticado e transmitido ao mundo. Neste simples estudo bíblico, compartilharei 4 erros de interpretação bíblica que tenho notado na atualidade, e que nos fazem incorrer em muitos equívocos e enganos em nosso entendimento das Escrituras Sagradas.

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O que é uma interpretação bíblica?

De acordo com o Dicionário de Português, a palavra “interpretar” tem origem no latim “interpretare” e significa “determinar com certeza o sentido de um texto; explicar o que é obscuro, atribuir valor, sentido, significação, etc.” Na Bíblia original hebraica, “interpretar” aparece como a palavra פָּתַר (pâthar), pela 1ª vez no texto de Gênesis 40:8, como se segue:

Eles responderam:
— Tivemos um sonho, e não há quem o interprete.
José lhes disse:
— Não pertencem a Deus as interpretações? Contem-me o sonho que tiveram.

Neste passagem dois homens prisioneiros com José, filho de Israel, tem um sonho cada um, e não sabem o que significava. Então o hebreu afirma que as interpretações são provenientes de Deus, e mediante isso interpreta, isto é, esclarece os sonhos de ambos.

Então, como interpretar a Bíblia corretamente se não por meio de revelação e sabedoria provenientes do próprio Deus? Além disso, o Soberano já nos deu suas Escrituras por meio de seus profetas, basta a nós estudarmos com afinco e em união com Deus, para entendermos adequadamente.

A respeito disso, estas 4 situações abaixo estão nos impedindo de fazer interpretação bíblica corretamente.

1º Erro: Menosprezar o idioma original da Bíblia.

Infelizmente, não são poucas pessoas, e nem poucos líderes, que baseiam suas interpretações da Bíblia somente pelos textos que lemos na língua portuguesa. Ou seja, eles ignoram, deliberadamente ou não, quase que completamente a língua que Deus falou quando deu as Escrituras Sagradas, o hebraico.

Isso é um grave problema, que faz até mesmo pessoas que exercem fé sincera em Deus defenderem ensinamentos corrompidos como se fossem verdadeiros. Comumente, a justificativa é que não entendem o idioma original da Bíblia, e por isso infelizmente continuam se apoiando no que está diante de seus olhos, não tentando refletir mais a fundo no assunto. Porém, hoje em dia, há tantos recursos, além de contato facilitado com pessoas estudadas que podem explicar. Se conseguirmos as ferramentas e as pessoas certas para conversar, alcançaremos interpretações mais assertivas da Bíblia, ainda que versículo por versículo.

No vídeo abaixo, por exemplo, eu ensino como instalar um Dicionário Bíblico gratuitamente em um aplicativo de smartphone.

Como ter o Dicionário Bíblico Strong gratuitamente com o app MyBible.

Vou deixar aqui alguns estudos com temas que abordam erros de entendimento da Bíblia devido ignorar-se o idioma bíblico original:

2º Erro: Basear-se só em interpretações subjetivas.

Vejo muitas pessoas defendendo certas doutrinas que pensam ser verdadeiramente apoiadas pela Bíblia Sagrada, mas não são. Essas pessoas não têm má intenção, pois estão apenas defendendo o que aprenderam a acreditar, e acreditam porque pensam ser a verdade. Porém, o erro de várias interpretações bíblicas surge tanto por se embasarem apenas no que está aparente na tradução, quanto por se dar asas à imaginação na hora de explicar alguma coisa. Ou seja, cada um interpreta o que quer, o que pensa ou o que entende, e assim cada um acredita na própria verdade inventada.

Então, quais são as formas básicas de se interpretar a Bíblia para não incorrer em certos erros? Algumas dicas básicas podem ser úteis aqui, como as seguintes:

  1. Faça perguntas ao texto.
  2. Qual o contexto imediato? Ou seja, o que vem antes e depois do trecho que está sendo lido?
  3. Qual o contexto histórico? Isto é, qual era a situação vivida em volta da cena em questão?
  4. O que está escrito no idioma original? Será que foi traduzido aqui corretamente?

Vamos dar um exemplo simples com base nas dicas acima de como fazer uma interpretação bíblica, para que fique mais claro.

E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?

Faça perguntas ao texto:

  1. Quem eram os escribas?
  2. Quem eram os fariseus?
  3. E os publicanos, quem eram?
  4. O que é um pecador e o que significa pecado?
  5. Por que se queixavam de comer com essas pessoas?

Ao responder essas simples perguntas, o entendimento do texto ficará esclarecido e se aprenderá muito mais do que meramente lemos.

Agora, vamos dar um exemplo de erros de tradução e consequentemente entendimento do texto por se dispensar deliberadamente uma pesquisa no idioma original.

E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.

Mateus 10:28 Almeida Corrigida Fiel (ACF)

Agora, porém, vamos ler este mesmo versículo numa das bíblias mais renomadas no meio cristão:

Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Tomei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena.

Mateus 10:28 Bíblia de Jerusalém 2002.

Que diferença estranha para o texto que estamos acostumados a ler, você não acha?! Talvez você nunca tenha ouvido falar em “Geena“, estou certo?! Mas foi exatamente a isso que o Senhor quis se referir no idioma original no qual pregava sua mensagem, o aramaico, e não ao inferno no conceito que conhecemos hoje.

Na verdade, Geena é uma palavra grega proveniente da aramaica “guehanna” que, por sua vez, é proveniente do hebraico Guey-Hinom. Traduzindo literalmente é Vale de Hinom. Trata-se de um vale que existe até hoje ao sul da cidade de Jerusalém onde na antiguidade eram feitos sacrifícios infantis aos deuses em que acreditavam as nações. Este vale é mencionado várias vezes nas Escrituras Sagradas, e até mesmo reis israelitas perversos desviaram-se nessa loucura idólatra, basta ver Js 18:16, 2º Cr 28:3 e 2º Rs 23:10 (por exemplo).

foto do vale de Hinom (Geena no grego), localizado ao sul da cidade de Jerusalém

Depois que o rei Josias profanou este vale para que ninguém mais queimasse seus filhos no fogo em sacrifícios idólatras (último versículo referenciado acima), o local foi transformado em uma espécie de lixão, onde acrescentava-se enxofre para que o fogo queimasse até virar cinzas o que ali era jogado.

Entender este contexto histórico por trás das palavras de Jesus nos leva a uma interpretação bíblica mais madura e interessante. O texto de Matias/Mateus 10:28 diz que Deus pode fazer alguém perecer no Vale de Hinom, claramente uma linguagem simbólica para se referir à destruição completa de alguém (“virar cinzas”). Mas já escrevemos sobre Geena em outro estudo aqui no blog, não vamos nos alongar nisso.

3º erro de interpretação bíblica: Divorciar-se do povo eleito.

Como dissemos nos primeiros parágrafos deste texto, a Bíblia é um livro milenar que primeiro foi transmitido oralmente ao ser humano. Naturalmente, um grupo de pessoas reproduziu os ensinamentos de Deus ao longo da história, até chegar no tempo de Moisés, quando foram escritos em maior escala. Foram pessoas como o próprio Adão, o 1º ser humano, Seth, Enos, filho de Seth (Gn 4:26), Jerede, Enoque, Matusalém, Lameque, Noé, Héber, Abraão, Isaque e Jacó (dentre outros), que preservaram o ensino oral de Deus transmitido à humanidade desde os dias da criação (embora já existissem alguns escritos no decorrer desse tempo).

Todavia, quando Deus escolheu dentre todas as nações da Terra um povo para ser exclusivamente Dele e representá-lo, o incumbiu de carregar suas leis e seus mandamentos, bem como praticá-los (Dt 4:1-8; 7:6; 14:2; 33:4). Assim, foi revelando-se a eles, ensinando-os e corrigindo-os ao longo do tempo.

Este povo, não obstante aos erros que muitos entre eles cometeram no passado, têm preservado os escritos e ensinamentos divinos por milênios, e a Bíblia só chegou até nós por causa da fidelidade e esforço de alguns deles ao transcrevê-la. Foi esta nação que recebeu a palavra diretamente do próprio Deus, e por isso não deve ser menosprezada no que diz respeito a interpretar a Bíblia de modo correto, mas infelizmente é.

Qualquer pessoa pode interpretar a Bíblia?

Talvez muitas pessoas possam alcançar significativos progressos na interpretação correta da Bíblia sozinhas. No entanto, certamente, mais cedo ou mais tarde, encontrarão questões de difícil resposta se não conhecerem a tradição e interpretação de um povo que existe a mais de 3000 anos. E quando a maior religião do mundo, que faz uso extensivo da Bíblia Sagrada, o Cristianismo, surgiu no século II com os pais da Igreja, o povo israelita já existia, ensinava e registrava as Sagradas Letras a mais de 1500 anos.

Eu tenho visto, infelizmente, várias pessoas, algumas até de bom caráter, cometerem erros de interpretação da Bíblia simplesmente porque não têm um contato mais próximo com o povo judeu. Inclusive, a própria estória de que este povo foi substituído por outro povo e outra religião, surgiu como consequência de uma série de erros interpretativos da Bíblia, alguns inocentes, porém outros mau intencionados.

O próprio Jesus era um homem judeu, que viveu o tempo inteiro como tal, e que defendeu a doutrina reproduzida pelos judeus (aquela recebida da parte de Deus) como a correta, basta ver João 4:22, por exemplo.

E mesmo nos escritos dos discípulos dele, esse povo continuava sendo valorizado como o portador oficial da palavra divina, basta conferir textos como At 24:14, Rm 3:1-2, 9:4.

Mas, não poucas pessoas gostam de interpretar a Bíblia de acordo com seus “achismos”, suas interpretações pessoais, ou por meio de construções teológicas/doutrinárias de religiões que voluntariamente continuam se desvinculando do povo eleito. Não obstante a própria Bíblia que leem o tempo todo ressaltar a importância de Israel para o entendimento das Escrituras, como em versículos iguais a este abaixo:

Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel.
Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem. Louvai ao ETERNO.

Salmo 147:19,20

Portanto, por aqui, nós não ousamos mais caminhar sem uma conexão com o povo de Israel! E para tanto nos unimos à Comunidade Judaica Netzarim do Pará, através de estudos bíblicos online.

4º Erro ao interpretar a Bíblia: não começar pela Torá (Pentateuco).

Não poucos orientadores, ao recomendarem por qual livro alguém deve começar a ler a Bíblia, geralmente dizem que deve-se começar pelo chamado “Novo Testamento“. A justificativa é que a coisa mais importante a se conhecer primeiro seria a história e os ensinamentos de Jesus. Para ser sincero, eu também recomendava isso, e de fato isso é importante.

Todavia, podemos dizer que a Torá, conhecida como Pentateuco no mundo cristão, que representa os cinco primeiros livros da Bíblia, escritos por Moisés. é o esqueleto da Bíblia, e ninguém nunca viu um corpo andar sem um esqueleto, certo?! Podemos provar isso por um versículo que o próprio Jesus/Yeshua recitou dela, vejamos:

Chegou um dos escribas e, tendo ouvido a discussão e vendo que Jesus lhes havia respondido bem, fez-lhe esta pergunta:
Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
Respondeu Jesus:

O primeiro é: Ouve, ó Israel, o SENHOR é nosso Deus, o SENHOR é um só;

Marcos 12:28,29 Tradução Brasileira, Sociedade Bíblica Britânica.

Se o próprio Jesus/Yeshua disse que o primeiro/principal mandamento da Bíblia está na Torá (Dt 6:4), então deveríamos ter em pouca estima seu estudo?

Poderíamos citar inúmeras outras passagens dos Escritos Nazarenos (chamados erroneamente de “Novo Testamento”) que ressaltam a importância que a Torá/Lei de Moisés tem, como por exemplo, a ocasião em que Yeshua foi tentado pelo caluniador no deserto, onde ele recitou três vezes trechos do livro de Deuteronômio para se defender (Mt 1:1-11).

Logo, como estudar e interpretar a Bíblia corretamente se não começar pelos livros que deram base a toda mensagem dos profetas, de Yeshua e seus discípulos, os chamados “apóstolos”?

Ora, recomendamos o livro Torá: a lei de Moisés, por Meir Matzliah Melamed, uma literatura proveniente do povo de Israel, para se começar a ter um entendimento correto das Escrituras.

Além disso, também recomendamos a todo crente sincero para com Deus, que acompanhe com o povo Dele as porções semanais da Torá. Trata-se de um método sistematizado milenar de leitura e estudo da Lei de Deus, praticado pelo próprio Jesus e seus discípulos, basta ver Lc 4:16, At 13:14-15, 15:19-21. Estamos compartilhando sugestões de leituras diárias dessas porções em nossos canais no WhatsApp e no Telegram. Também escrevemos resumos delas em nosso site de tradução bíblica, biblia.pro.br/tag/parasha.

Em suma, o que é preciso para interpretar a Bíblia corretamente?

Do nosso ponto de vista, e resumidamente, enumeramos estes 4 itens:

  1. Ter conhecimento, ao menos básico, dos idiomas originais da Bíblia (hebraico e aramaico);
  2. Estudar a Bíblia em seu devido contexto doutrinário e histórico;
  3. Conseguir auxílio de professores e mestres do povo de Israel;
  4. Estudar a Torá mais a fundo.

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

4 comentários em “Como interpretar a Bíblia evitando 4 erros muito comuns”

  1. Gabriel grande guerreiro em prol do conhecimento genuíno das Escrituras. Em que pese todo o seu incansável combate, nem todos têm essa facilidade em aprender a versão original das Escrituras. Então devemos orar em comunhão com o Espírito, que certamente Ele nos trará o necessário para alcançarmos a maturidade cristã tão necessária a nossa salvação. Deus te abençoe pir seu esforço.

  2. Meu querido irmão, é bom demais ter o conhecimento de nosso criador, afinal é nisso que se encontra toda a gloria dos homens, mas se já é difícil entender a palavra em português, sendo que não falamos nem o mesmo corretamente, imagine em Hebraico e Aramaico ai nem uma carne se salvará.

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