Não existe ditongo no hebraico, os nomes bíblicos que o tem foram adulterados?

O Alfabeto hebraico possui apenas 22 consoantes e nenhuma vogal, em vez disso existem sinais vocálicos inseridos nas consoantes que orientam nas pronuncias das palavras. Uma de suas regras gramaticais é que não existe ditongo no hebraico, isto é, o encontro de duas vogais numa sílaba.

Sendo assim, os nomes próprios que lemos nas traduções bíblicas em português que possuem ditongos foram adulterados?

Torah em hebraico, o livro da lei de Moisés
Foto da capa da torah, as leis de Moisés, por cottonbro em Pexels.com

Com o avanço da tecnologia, a globalização e o fácil acesso ao conhecimento em muitas partes do mundo por meio da internet, muitas pessoas tem conhecido os idiomas originais da Bíblia Sagrada e um pouco de suas regras gramaticais; isso é bom no final das contas.

No entanto, certos tipos de pessoas, ao perceberem que diversos nomes e substantivos foram grafados em outros idiomas diferentemente do que seria hipoteticamente correto na transliteração hebraica, acabam se tornando críticos severos pela mudança que se fez, e dão ouvidos a várias teorias e estórias “macabras” de adulteração do texto bíblico, o que tem gerado certa confusão à mente de não poucas pessoas.

No caso abordado aqui neste estudo agora, por exemplo, que traz a tona a informação de que não existe ditongo no hebraico, o que dizer de nomes como Neemias ou Saulo, onde vogais se encontram? Estaria transliterado errado? Foram mudados de forma maldosa? O que dizer então do nome do patriarca Abraão, que em vez de um ditongo possui até um tritongo?

Certos nomes bíblicos em português foram adulterados só porque não existe ditongo no hebraico?

Os novos entusiastas aprendizes da língua hebraica, e até alguns veteranos, afirmam que transliteração é, unicamente, trocar os caracteres do alfabeto de um idioma por outros de outro idioma que corresponda ao som.

O nome de Neemias, por exemplo, no hebraico é נְחֶמְיָה (Nechemyah), e o de Abraão seria אַבְרָהָם (Abraham, translitera-se com “b” (letra bet – ב), mas pronuncia-se com “v”, Avraham, de acordo com a Gramática Instrumental do Hebraico do Renato Gusso, pág. 33).

Como você pode notar, se apenas trocarmos as letras do alfabeto hebraico por letras de nosso alfabeto, por exemplo, a regra de não haver ditongo no hebraico é obedecida, entretanto um dos processos da transliteração, principalmente na antiguidade, era adaptar certas partes dos substantivos à grafia do idioma para o qual se estava transportando um texto, o que alguns tradutores chamam de verter, isto é, criar versão para.

Eu já mostrei aqui no blog Bíblia se Ensina como foi o processo de verter o nome יֵשׁוּעַ (Yeshua) do hebraico para o grego, por exemplo, ficando Ιησους (Iesous, pronuncia-se Iesus), e assim derivando-se o nome aportuguesado Jesus.

Criar uma versão do nome adaptada de um idioma para outros é um costume antigo que mesmo o historiador Flávio Josefo, do 1° século d.C., menciona em sua obra História dos Hebreus, dizendo:

Antes de retomar o fio de minha narração acrescentarei uma coisa que talvez os gregos ignorem: esses nomes foram mudados segundo a maneira de falar, para tornar a pronúncia mais agradável, pois entre nós [os hebreus] não serão jamais mudados.

Até hoje este processo existe e estamos repletos dele em nosso vocabulário sem perceber, veja exemplos:

  • New York = Nova Iorque.
  • London = Londres.
  • England = Inglaterra
  • Elizabeth = Elizabete.
  • George = Jorge.
  • Football = Futebol.
  • Baseball = Beisebol.

Em todos estes casos não se trata de uma tradução do nome, mas de uma adaptação da grafia e da pronuncia para que este se adapte às regras gramaticais da língua portuguesa e assim torne a pronúncia maís fácil ou mais amigável.

No caso da palavra “Iorque”, por exemplo, o “Y” foi substituído pela letra “I” e o “K” pelas letras “qu” muito provavelmente porque até o ano 1990 não existiam as letras “k”, “y” e “w” no alfabeto português, então a transliteração e adaptação à grafia do idioma exigia tal mudança.

Assim acontece também no caso do nome de Deus, Yahweh, que aparece nas Escrituras hebraicas cerca de 6828 vezes, representado pelas consoantes yud, he, vav e he de novo (יהוה = YHWH, no hebraico se lê da direita para a esquerda); a forma aportuguesada deste Nome é “JAVÉ“, pois até antes do século 16 a letra “j” era a letra “i” consoante (vide semelhança entre ambas), e inicialmente tinha som de i. Até que gradativamente foi ganhando novos fonemas em idiomas oriundos do latim, até que foi classificada como uma nova letra em meados do século 16.

Assim, embora no hebraico não exista ditongo, se explica o fato de nomes bíblicos hebraicos em português terem-no.

É claro que os nomes originais, isto é, não adaptados, conservam com mais integridade e clareza os significados dos mesmos, e eu bem quisera que se mantivessem assim, entretanto, devido ao complexo sistema linguístico, as dificuldades de pronúncia e a estranheza de certos substantivos às regras gramaticais e fonéticas em outros idiomas, se faz uma adaptação do mesmo para que se torne mais fácil seu uso geral.


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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

Um comentário em “Não existe ditongo no hebraico, os nomes bíblicos que o tem foram adulterados?”

  1. artigo muito bom e mostra a verdade dos fatos, quero indicar um site catolico que faz pesados ataques contra os evangelicos que precisa se refuntados.WWW.CAIAFARSA.WORDPRESS.COM, fiquem na paz de jesus.

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