Last updated on 21/03/2022
Afinal de contas, o que é raiz de amargura de que fala Hebreus 12.15? “Eu tenho me sentido mal, será que estou sofrendo disso?” Talvez essas perguntas se passem pelo coração de um leitor, digamos, amargurado, que chegou até este estudo aqui procurando por respostas bíblicas. Vamos tentar explicar do que se trata isso segundo a Bíblia Sagrada.
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Em Hebreus 12, especialmente a partir do versículo 12, inicia-se uma série de instruções para a vida diária dos crentes. Dentre essas instruções encontra-se essa abordada em nosso estudo:
E estejais alertas, para que ninguém entre vós seja encontrado com falta da graça de Deus. Ou não seja que, brotando alguma raiz de amargura, vos cause prejuízo, e muitos sejam contaminados por ela…
(Hebreus 12.15 Bíblia Peshitta BV Books)
Talvez essa mensagem aumente o nosso medo, não só pela desconfiança de estarmos alimentando tal raiz de amargura em nosso coração, porém mais ainda depois de sabermos que ela pode contaminar outras pessoas também. E nós não queremos isso, não é verdade?!
Por isso, ao descobrirmos do que se trata esse mal poderemos limpar nosso interior dele também.
O que é a raiz de amargura de Hebreus 12.15?
Não adianta ficarmos conjecturando aqui e inventando significados, aliás fazer isso não é uma prática saudável e é por isso que incorremos em muitos erros de entendimento e interpretação das Escrituras Sagradas.
Então, como os leitores para quem essa carta foi enviada sabiam do que o autor estava falando, para que assim pudessem se proteger de tal “raiz” amarga?
Devemos nos lembrar que o nome dessa carta é “carta aos hebreus“, ou seja, ela tinha, na época em que foi escrita, um público alvo específico, que são os hebreus, isto é, os descendentes de Abraão, os israelitas, o povo de Israel (vide Gên. 14.13). E este povo era conhecedor das Escrituras Sagradas, isto é, da Torá (Lei de Deus), profetas e escrito históricos (Tanak), erroneamente chamado de “Velho Testamento” por muitos cristãos.
Logo, ao lerem o termo “raiz de amargura” ali na carta, os destinatários já sabiam do que se tratava, pois seu antigo líder Moshé (Moisés) já havia falado sobre isso em Deuteronômio 29.18, que diz:
Portanto, que não haja em seu meio homem, mulher, família ou tribo, cujo coração se afaste hoje de ADONAI, seu Deus, e sirva aos deuses dessas nações. Que não haja em seu meio pessoas que carreguem uma raiz desse tipo de veneno e amargura.
Deuteronômio 29.17(18) Bíblia Judaica Completa
(Observe com isso qual é a importância da Torá (também chamada Pentateuco ou Lei de Moisés) para toda a Bíblia).
Portanto, a raiz de amargura é o mau sentimento de afastar-se do Deus de Israel, o Criador do universo e de toda forma de vida existente, e servir a ídolos! Haja vista que a primeira parte de Hebreus 12.15 também diz “que ninguém entre vós seja encontrado com falta da graça de Deus”; ou seja, desanimado ou com uma pré-disposição a abandonar o Deus vivo!
Observe que é usado o termo “raiz” porque este sentimento vem de dentro, do interior das pessoas; ele pode começar a ser alimentado no pensamento, onde nenhuma outra pessoa está vendo, e se não for tratada pode começar a brotar e dar “frutos”, ou seja, podemos começar a demonstrar atitudes erradas devido àquele sentimento ruim no coração.
Como a raiz de amargura no coração contamina outras pessoas?
O texto de Deuteronômio chama a idolatria de uma raiz amarga e venenosa, ou seja, que pode matar! Isso é assim porque um coração inclinado e praticante da idolatria fatalmente desenvolve maus hábitos, más ações, como foi com alguns israelitas do passado, que chegaram ao ponto de sacrificar seus próprios filhos no fogo em cultos idólatras. Leia 2º Reis 17:6-17 por exemplo.
Ao praticarem cultos idólatras hoje, ou seja, cultos que não são ao único Deus vivo e verdadeiro, quantas pessoas não estão causando males a si mesmas, ao seu próprio corpo e saúde?
Observemos que o texto de Deuteronômio 29.18 fala da inclinação à idolatria numa sequência: “que não haja em seu meio homem, mulher, família ou tribo, cujo coração se afaste de ADONAI, seu Deus…”.
Ou seja, a raiz amarga, a inclinação má e idólatra, começa a brotar no coração de um indivíduo só, seja um homem ou uma mulher, e este premedita afastar-se do Deus eterno. Depois de começar a colocar seu mau desejo em prática, este pode acabar contaminando sua família, sua “tribo” (parentes, amigos ou conhecidos), e assim por diante, pois o indivíduo quer arrastar os outros para suas paixões também. E este mal se alastra muito até que uma civilização inteira esteja cheia de hábitos idólatras. Não é assim que está boa parte de nossa sociedade hoje em dia, bem como estiveram as antigas? (cf. At. 17:16)
O que a amargura do coração causa?
Além da idolatria que lemos acima, outras coisas ruins também podem vir de um coração “amargo” ou “amargurado”.
O primeiro é que amargura é algo difícil de conviver, insuportável; assim como quando comemos uma coisa amarga, de sabor ruim, e por isso logo queremos rejeitar.
Além do mais, uma raiz amarga só pode produzir um fruto amargo. Sendo assim, quando uma pessoa tem uma amargura no coração, geralmente suas atitudes e palavras serão amargas também, e isso obviamente fará mal às pessoas de seu convívio, aquelas que “comerão de seu fruto”.
A amargura também pode vir quando sofremos alguma derrota, uma frustração, ao ser traído(a), sofrer a perda de um ente querido, quando uma expectativa não é atingida, etc. Também pode ser algo mal resolvido dentro do coração que ficamos ressentindo e trazendo dissabor à sua vida com isso.
Em Efésios 4.31 também são descritos vários outros sentimentos que procedem da raiz de amargura no coração. Vamos ler:
Tirai de vós toda amargura, fúria, ira, gritaria e blasfêmia (insultos), junto com qualquer maldade.
Efésios 4.31 Bíblia Peshitta BV Books – os (parênteses) são nossos para melhor compreensão
Um exemplo de amargura do coração na Bíblia é Caim, irmão de Abel.
Caim é um exemplo clássico de uma pessoa que permitiu que a raiz de amargura crescesse em seu coração, até dar um fruto mau. Com suas próprias atitudes este homem mau e de coração amargurado dá frutos amargos.
Primeiro ele, de mau jeito, dá uma oferta não cuidadosa para Deus, pois o Criador disse a ele, “se você fizer o que é bom, não deveria erguer a cabeça?” (Gn 4.7 BJC)
Ou seja, ele não havia se comportado bem, nem tão pouco deu uma oferta boa para Deus, porque o texto bíblico também diz, “ADONAI aceitou Hevel (Abel) e sua oferta, mas não aceitou Kayin e sua oferta”. (Gên. 4:4b-5a BJC)
Irado sem causa, Caim deixa que uma raiz de amargura seja alimentada em seu coração, mesmo depois de ser advertido por Deus que estava prestes a cometer uma loucura. A raiz cresce a tal ponto que ele assassinou seu próprio irmão por causa de seu ciúme doentio! (cf. Gn 4:7-8)
Mas é interessante observar que Caim teve algum tempo para tratar da raiz amarga que estava crescendo em seu coração depois de Deus adverti-lo. Isso nos ensina que nós precisamos tomar a decisão de nos cuidar e tirar de nós o mau. Lembre-se que em Efésios 4:31 é dito, “tirai de vós toda amargura”. Ou seja, nós é que somos responsáveis por manter nosso coração limpo e não ficarmos ressentindo coisas más e assim nos inclinando ao mau e ao erro também.
Se continuarmos estudando os capítulos seguintes de Gênesis, veremos que os descendentes de Caim acabaram herdando a inclinação para o mal de seu coração, proveniente da amargura que ele permitiu ser alimentada (cf. 4:23,24).
Nabal morre depois de sentir uma amargura muito forte em seu coração também.
A morte de Nabal está registrada em 1º Samuel 25:36-38. Mas para compreender como ele sentiu tal amargura que o levou à morte, é necessário ler todo capítulo 25; portanto vamos resumi-lo aqui.
Junto com Davi estavam alguns pastores de Nabal que receberam dele todo cuidado de que necessitavam (1 Sm 25:4-7,14-16).
Quando Davi precisou de ajuda com mantimentos enviou mensageiros até Nabal para que lhe pedissem, mas ele respondeu a Davi de forma grosseira e negou ajudá-lo (1 Sm 25:10-11).
Davi então, e não sem razão, ficou furioso com a resposta e determinou ir até Nabal matar não só a ele, mas a todos os demais homens dele (v. 12,13).
No entanto, quando a mulher de Nabal, Abigail, soube de toda situação, enviou alguns servos com presentes a Davi e foi até ele logo em seguida para lhe apaziguar. Ela então rogou que Davi não fizesse mal a ele, pois era um homem grosso e insensato, e lhe pediu perdão (v. 21-31).
Davi ouviu a súplica de Abigail e voltou atrás com o que faria (diferente de Caim, por exemplo, Davi não alimentou a raiz de amargura no coração).
Ao retornar ao seu marido e lhe explicar toda situação, veja onde a amargura que Nabal sentiu por seus erros o levou.
Quando Abigail retornou a Nabal, ele estava dando um banquete em casa, como um banquete de rei.
1 Samuel 25:36-38
Ele estava alegre e bastante bêbado, e ela nada lhe falou até o amanhecer.
De manhã, quando Nabal estava sóbrio, sua mulher lhe contou tudo; ele sofreu um ataque e ficou paralisado como pedra.
Cerca de dez dias depois, o SENHOR feriu Nabal, e ele morreu.
Nabal morre devido à amargura de seu erro!
Note que Nabal só morreu 10 dias depois de ter conversado com Abigail. Este foi justamente o tempo em que ele permitiu à raiz de amargura crescer em seu coração a ponto de matá-lo. Em vez disso, não poderia ele ter se arrependido e ir até Davi pedir perdão?
Nabal era insensato, grosso e orgulhoso. Quando ele sabe o perigo que corria e que foi salvo pela vida de sua mulher, isto foi como uma grande humilhação para ele.
É importante notar ainda que a raiz de amargura nunca anda sozinha, ela sempre traz consigo diversos outros sintomas que contaminam quem está a nossa volta também, como já lemos em Hebreus 12.15.
Em suma, quem se afasta de Deus tem inclinação a alimentar um coração amargurado!
Conforme lemos também em Deuteronômio 29.18, a raiz de amargura nasce e cresce no coração quando se tira Deus do centro dele e alimenta-se sentimentos idólatras ou uma dor pessoal, não confiando no mandamento de Deus de nos cuidarmos (veja Mat. 18:23-35). Ora, um coração egoísta é como um baú que guarda muitas amarguras.
Nosso mestre Yeshua como exemplo de quem venceu a amargura de coração.
Felizmente, o Mestre nos deu o exemplo e venceu toda amargura que poderia ter sentido em seu coração contra muitos, pois tinha sua mente voltada para Deus, nosso Pai.
Simão o negou (Jo 18:27), Judá o traiu (Mt 27:3), seus discípulos o decepcionaram (Mt 17:15-17) e por fim o abandonaram (Mt 26:56).
Dentre muitas outras coisas, ele também foi capaz de perdoar aqueles que zombaram dele e o crucificaram (Lc 23:34).
Por isso, para que vençamos certas situações que poderiam nos levar a alimentar a raiz de amargura no coração, somente buscando forças no exemplo de nosso Salvador! (cf. Heb. 12:1-2)
Somente o amor e o perdão tem a força suficiente para limpar do coração toda raiz de amargura e, felizmente, a palavra de Deus nos dá a orientação correta para essas situações também. Leia Efésios 4:32 -até 5:2.
Por isso, é necessário arrependimento, confissão dos nossos pecados a Deus e a quem for preciso (cf. Pv 28:13; 1 Jo 1:8-9; Tg 5:16). É preciso pedir perdão e liberar perdão também.
Mas o amargurado continuará rejeitando a Deus enquanto não for curado pelo perdão ao ter um coração sensível.
Considere também a leitura de outras obras sobre raiz de amargura, depressão e coração amargurado, como essas:
- Superando a Tristeza e a Depressão com a Fé, por Richard Baxter.
- A Depressão de Spurgeon, por Zack Eswine.
Você conhece outros meios de se vencer a amargura? Role a página mais para baixo e compartilhe nos comentários. Deus abençoe sua vida!
69 Comments
Mensagem muito edificante que Deus continue te iluminando sempre em tudo
Amém, aleluia!
Muito bom Estudo. Excelente, ótima reflexão com bons exemplos bíblicos.
Muito edificante!
A raiz de amargura só pode ser extirpada do coração quando a pessoa decide mudar e busca a Deus com humildade. Único caminho. Psicólogos, psiquiatras, remédios para depressão, conselhos, nada adianta se a pessoa não quiser mudar. Tem pessoas que não querem mudar, como os personagens bíblicos citados acima. Acredito que orar pela pessoa é o melhor que podemos fazer.
Concordo! A mudança de atitudes.auto destrutivas como a amargura, o rancor, o revanchismo , o egocentrismo, a cólera ,a raiva etc… têm que necessariamente passar pelo caminho do reconhecimento de que a tirania e prepotência de nosso “eu”sem Cristo causam males profundos não apenas em nós … são males psico-sociais que como bolsões invisíveis de veneno destilados em doses homeopáticas geram tristeza, desamor, dissensão, separação , doenca e morte! Portando levemos TODO O PENSAMENTO CATIVO A JESUS, diz o apóstolo Paulo.
Vale ainda lembrar :“ É a bondade do Senhor que nos leva ao arrependimento”
Preciso muito em meu viver diário, do antídoto preparado na Cruz de Cristo contra esse veneno mortal!
Que sejamos prontos em discernir o mal quando este se aproxima de nós é minha prece em O nome de Jesus de Nazaré
Lindas, sabias e verdadeiras palavras
Chorei com esse tema vejo q tenho muitas atmagura em meu coração preciso ..mim limpa desse maldito mau. …
Que nosso Senhor Deus te ajude e te console,
Tenho um coração amargurado
Me ajudem em oração.
Muito bom mesmo
Palavra extraordinária, estou edificado com ela.
Amém irmão Nilson, Deus seja louvado 🙂
Somente agradece a Deus
Esse estudo graças a Deus me ajudou a compreender muitas coisas… continue com isso ajudando as pessaas, pois sei que Deus fica muito contente com sua ação, Deus o abençoe…
Amém irmão Thiago, fico muito feliz que tenha te ajudado, Deus continue lhe abençoando.
Excelente estudo ! Parabéns! Gostei do conteúdo! Obrigada. Abraço.
Obrigado Ivanilda, fico muito feliz em ter ajudado. Que nosso Deus continue abençoando sua vida.
Texto maravilhoso, cujo conteúdo nos leva a meditar na nossa necessidade de crescimento espiritual . Eu digo ainda , que precisamos nos convencer do “peso” que é a nossa carne . Essa é que nos serve de tropeço na hora de sermos humildes e projeta em nós o sentimento de arrogância e falsa superioridade em relação ao nosso próximo . Assim no momento em que temos consciência de que somos semelhantes ao nosso semelhante , fica mais fácil estender a mão e depois selar tudo com um abraço caloroso e sincero.