Se Deus “abandonou Jesus na cruz”, por que não te abandonaria também?

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Foi o brado de Jesus na cruz, mas o que isto realmente quer dizer? Seria verdade que Deus abandonou Jesus na cruz?

Interpretar o simples versículo de Mateus 27:46 (também em Marcos 15:34) tem sido um verdadeiro desafio para os estudiosos da Bíblia ao longo da história. Afinal de contas Deus abandonou Jesus ou não?

“E cerca da hora nona bradou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni, isto é, meu Deus, meu Deus, por que tu me abandonastes?” (Mateus 27:46 KJF)

Interpretações diferentes do texto dizem que Jesus carregava em si o pecado da humanidade, por isso Deus Pai o abandonou; por ser santo, Deus não poderia suportar tantos pecados que Ele levava sobre si (Isaías 59:1-2).

Mas se Jesus é o próprio Deus, como pode Deus deixar a si mesmo? Como poderia Ele separar-se de si mesmo? Ou como pôde o Pai abandonar seu Filho, se está escrito que ainda que uma mãe esqueça-se do filho que amamenta, Deus não se esqueceria do seu povo, quanto mais de seu próprio Filho? (Is 49:14-16; Sl 27:10)

Há ainda quem afirme que Jesus não tomou o pecado da humanidade no seu corpo, mas sim que Ele foi uma oferta pelo pecado, pois se o sacrifício para redimir a humanidade deveria ser puro, como o Cristo poderia estar em pecado ali naquele momento?

Outras interpretações afirmam que Deus não poderia abandoná-lo, conforme o próprio Cristo disse que o Pai não o deixaria sozinho, veja:

Eis que vem a hora, sim, agora é chegada, em que vós sereis espalhados, cada homem para o que é seu, e me deixareis só;
mas eu não estou só, porque o Pai está comigo. (João 16:32 KJF)
veja também 8:29.

Estudiosos ao longo da história tem tentado de maneira minuciosa interpretar este brado do Cristo, mas isto é ainda um desafio para muitos, e as opiniões sobre se de fato Deus abandonou Jesus ainda se diferem.

Eu li um comentário sobre Mateus 27:46 um tanto interessante, veja abaixo:

“Existe bastante coisas sobre o clamor Dele que é difícil de entender.

Eu lembro lendo em algum lugar que Luther ficou estudando por dias, sem comer ou mover-se, tentando a compreender o clamor do Salvador.

Ele finalmente realizou que ele humanamente não podia entender como o Pai e o Filho foram separados.
Como poderia que o Primeiro Ser da Trindade abandonou o Segundo Ser?

Ele finalmente desistiu a tentar, e saiu fora de seu quarto para comer jantar com sua esposa e crianças.

O grande mistério do clamor do Salvador foi expressado por comentarista puritano John Trapp (1601-1669), quem disse,

“Como homem, ele clama ‘Deus meu, Deus meu [por que me desamparaste],’ quando como Deus, ele concedeu paraíso ao arrependido ladrão”.

(John Trapp, A Commentary on the Old and New Testaments, Transki Publications, 1997 reprint, volume V, p. 276; note on Matthew 27:46).”

Fonte: sermonsfortheworld.com

O salário do pecado é a morte, então Deus abandonou Jesus porque Ele estava levando o nosso pecado sobre si?

Em Romanos 6:23 está escrito que o salário do pecado é a morte, deduzimos que a pessoa que continua habitualmente no pecado acabará morrendo.

Mas não meramente a morte física, de seu corpo, mas também a separação eterna de Deus, que é incomparavelmente pior do que a morte.

Veja abaixo também um comentário do site Respostas bíblicas, sobre se Deus abandonou Jesus ou não.

O pecado nos separa de Deus. Jesus estava se identificando com cada pecador quando disse que Deus o tinha abandonado. 

Quando Jesus disse “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”, ele tomou o lugar de cada um de nós.

Por causa do pecado, todos nós ficamos separados de Deus.

Mas agora, por causa do sacrifício de Jesus na cruz, podemos voltar a estar unidos com Deus:

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.” (Romanos 6:23 KJF)

“Mas onde está escrito que Jesus levou sobre si os meus pecados?”

Na passagem de Mateus 27:46, muitos dos estudiosos da Bíblia concordam que Deus abandonou Jesus só naquele momento, pelo fato de Ele estar carregando sobre si os pecados de toda a humanidade na cruz do calvário.

Aquele que em seu próprio corpo levou os nossos pecados sobre o madeiro, para que nós, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes curados.” (1 Pedro 2:24 KJF)

Entretanto, outros estudiosos da Bíblia afirmam que o brado do Cristo registrado no Salmo 22“Eloí, Eloí, lamá sabactâni?”demonstrava a agonia daquele momento que Ele sofria, e não exatamente que Deus abandonou Jesus.

Definitivamente não podemos afirmar que Deus virou as costas para Jesus na cruz, pois em nenhum lugar da Bíblia está escrito isso, nenhuma profecia o diz.

Mas podemos dizer que, assim como Davi parecia se sentir sozinho por causa de seus sofrimentos no Salmo 22, da mesma forma Jesus pareceu também pela grande agonia que passava; e como todo o salmo 22 era uma profecia a respeito dos sofrimentos do Messias que estavam se cumprindo ali naquele momento, Jesus o recitou.

Mas se Deus abandonou Jesus ou não, não é fato para questionarmos, mas sim nos alegrarmos, depois de reconhecermos nossos pecados contra Deus, pois Cristo é o substituto de todo pecador na cruz do calvário.

Ele sofreu essa “teórica separação” para que nós nunca vivêssemos sozinhos, sem a presença de Deus.

“E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não pelos nossos apenas, mas também pelos pecados de todo o mundo.” (1 João 2:2 KJF)

Propiciação quer dizer basicamente oferta pelo pecado, uma oferta propícia à trazer até nós o perdão de Deus sobre nossas ofensas e transgressões. Jesus é essa oferta que nos reconcilia com nosso Pai celestial (2 Coríntios 5:18-19).

Também podemos ver em Isaías 53: 5-6 que Jesus carregou sobre si as nossas iniquidades.

“Porquanto, aquilo que a Lei fora incapaz de realizar por estar enfraquecida pela natureza pecaminosa, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do ser humano pecador, como oferta pelo pecado. E, assim, condenou o pecado na carne,” (Romanos 8:3 KJA)

Ainda conferimos em 2 Coríntios 5:21 que Cristo é nosso substituto na cruz do calvário, ele é uma oferta pelo nosso pecado;

Vemos o Senhor como substituto pelo nosso pecado também em Gálatas 3:13.

Ele não tinha o próprio pecado, mas Ele levou sobre si o pecado da humanidade, ou seja, não foi Ele quem pecou, mas a humanidade; porém como sacrifício Jesus se tornou uma oferta pelo pecado, para nos redimir (Mateus 26:27-28).

O brado do Cristo na cruz foi um sinal para que as pessoas entendessem que Ele realmente era o Messias.

Através do brado do Cristo na cruz os líderes religiosos judeus, que não criam nele, assim como seus discípulos, deveriam perceber que tudo que estava escrito no Salmo 22 a respeito dos sofrimentos do Messias estava se cumprindo nele, isto é, Ele estava demonstrando que Ele é o Messias prometido, o qual os líderes religiosos judeus esperavam, mas não creram.

Antigamente a Bíblia não tinha capítulos e versículos como temos atualmente. E até hoje, na Bíblia hebraica, o nome dos livros não é o mesmo que os nomes que conhecemos em português. Desde tempos antigos os livros levam os nomes das primeiras palavras que aparecem no conteúdo de seu texto.

Por exemplo, o nome do livro de Deuteronômio que conhecemos é “As palavras” na Bíblia hebraica, pois o versículo começa assim:

Estas são as palavras que Moisés falou a todo o Israel além do Jordão, no deserto, na planície defronte do Mar Vermelho…

Por isso, quando o Senhor estava na cruz não tinha como dizer “leiam o Salmo 22!”, pois como eu disse não haviam capítulos e versículos naquela época. Então ele recitou as primeiras palavras deste salmo. Ele fez isto para que seus ouvintes se lembrassem de todo o contexto do Salmo e, ao se lembrar, logo identificassem os sofrimentos do salmista ali com os dele. Isso os faria perceber que Jesus era o Ungido prometido de Israel nas Escrituras. Dessa forma todos deveriam crer nele.

Um breve estudo do Salmo 22 vai nos apontar quais eram os sofrimentos descritos nele que se cumpriram em Jesus.

  • Salmo 22:6-8 concorda com Isaías 53:3 a respeito do Senhor sofrer rejeição, tanto dos líderes religiosos quanto dos soldados romanos, que zombavam dele e o maltratavam (Tudo isso se cumpriu em Mateus 27:39-43);
  • Salmo 22:16 é uma profecia exata sobre de que maneira Jesus morreria, com as mãos e pés perfurados, isto é, crucificado (Lucas 23:33);
  • Salmo 22:18 é uma profecia sobre os soldados lançando sortes (sorteando) a túnica de Jesus; essa profecia se cumpriu em João 19:23-24.

Concluindo, Deus não abandonou Jesus na cruz. O mesmo Jesus já havia dito ao menos duas vezes que o Pai não o abandonava e nem tão pouco o abandonaria (João 8:29; 16:32).

Para concluir, quero explicar a pergunta do título deste estudo: “se Deus abandonou Jesus na cruz, por que Ele não te abandonaria também?”

Porque Deus nunca abandona seus filhos! (Hebreus 13:5)

Deus não abandonou Jesus, como lemos mais acima. Além disso, no próprio Salmo 22 Davi já registra que não foi abandonado por Deus, embora seus sofrimentos fizessem parecer que ele estava sozinho (v. 23,24). A prova de que Jesus foi ressuscitado é outro fato que comprova que Deus não o abandonou (At 2:27).

Deus nunca nos abandona simplesmente porque Jesus se deu como oferta pelo nosso pecado, Ele morreu em nosso favor, para que não soframos eternamente a separação de Deus também, mas antes, recebamos a vida eterna (João 3:16).

Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará gratuitamente também com ele todas as coisas? (Romanos 8:32 KJF)

Todo aquele que meu Pai me dá, virá a mim; e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora. (João 6:37 KJF)

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

25 comentários em “Se Deus “abandonou Jesus na cruz”, por que não te abandonaria também?”

  1. Hebreus 13:15 o mesmo Deus declara que “nunca, jamais te abandonarei”. Deus não mente, então, ou só Jesus “foi abandonado”, porque só Ele poderia suportar isso, ou é forma de expressar o momento e sentimento crucial. A mente e a Teologia humana têm que se resolver, e de preferência com Deus quanto a certas controversas aparentes

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