O que é o culto racional de Romanos 12:1?

Muitas especulações se fazem a respeito do que seja o culto racional mencionado por Paulo em Romanos 12:1. As propostas para uma explicação plausível são muitas. Será que os leitores de Roma, para quem Paulo escrevia, estavam fazendo algum tipo de culto estranho a Deus e por isso o “apóstolo” precisava corrigi-los? Na verdade, não é necessário ir muito longe para descobrir isso, pois tal resposta encontra-se no próprio versículo. Aqui neste breve estudo bíblico abordaremos o que é apresentar nossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o que é o nosso “culto racional”.

Eu vos suplico, pois, meus irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, em culto racional.

(Romanos 12;1)

Baixe este estudo em PDF para impressão aqui.

Sacrifício vivo.

A palavra original aramaica para “sacrifício” aqui é “deḇḥṯā“. Esta aparece em outros textos como Mat. 9:13, 12:27, Lucas 2:24 e Atos 7:42. Se lermos tais referências, observaremos que Paulo possivelmente está fazendo uma alusão do corpo, isto é, da disposição humana como se fosse um sacrifício de animal oferecido de acordo com a Lei (Torá).

Ou seja, de imediato podemos perceber que o ensinamento aqui em Romanos 12:1 é para apresentar a vida em dedicação completa, isto é, totalmente entregue a Ele.

A palavra “vivo” aqui no original aramaico é “Hayta“, muito similar ao hebraico “hayah” (חָיָה), que significa “vida, viver, estar vivo”. Logo, um sacrifício vivo só pode significar alguém bem disposto e animado para viver para Deus e realizar sua obra!

Sacrifício santo.

Aqui não há espaço para sermos subjetivos. Geralmente diz-se que santo é alguém separado do pecado, ou separado/dedicado para viver para Deus, e não necessariamente alguém perfeito. Essa descrição, de fato, não está errada, no entanto precisamos ser mais precisos nessa explicação. Então vamos nos perguntar: O que é pecado?

De acordo com 1 João 3:4, o pecado é a transgressão da Lei! Ou seja, quando alguém desobedece mandamentos de Deus, está pecando. Mas o que isso tem a ver com ser santo? Acontece que a santidade é exatamente o oposto disso, isto é, a santidade está diretamente relacionada com a obediência aos mandamentos de Deus, basta ver Levítico 20 versículos 7 e 8, que dizem assim:

Portanto, consagrem-se – vocês devem ser santos, pois eu sou ADONAI, o Deus de vocês. Guardem meus regulamentos e a eles obedeçam; eu sou ADONAI, que os separa para serem santos.

(Levítico 20:7-8 Bíblia Judaica Completa)

Este texto, dentre outros dois de Levítico (11:45; 20:26) são citados por Simão (Pedro) no capítulo 1:15-16 de sua 1ª carta, citações que todo leitor da Bíblia conhece.

Simão orienta seus leitores a terem uma maneira de viver santa. E ao ler as citações que ele faz de Levítico, concluímos que uma maneira de viver santa trata-se daquela dedicada à obediência dos mandamentos de Deus. Então, apresentar o corpo como um sacrifício santo a Deus é justamente colocar os mandamentos Dele em prática, obedecendo-os!

Sacrifício agradável.

No aramaico, a palavra original é “mǝqabbal“, e significa “aceitável”. Em Levítico 19:5-8 lemos que os israelitas deveriam oferecer sacrifícios aceitáveis a Deus. Mas o que seria um sacrifício aceitável? O próprio Deus responde no mesmo texto de Levítico, pois um sacrifício aceitável é aquele que é feito da maneira que Ele determinou que seja.

Então aqui não entra espaço para cultos ou modos de viver subjetivos. Não há brechas para se adorar a Deus como se quer ou viver para Ele do modo que cada um bem entender e achar correto. Nem escolhendo quais mandamentos de sua palavra devem ser obedecidos ou não. Na verdade, cultuar e viver para Deus tem a ver com fazê-lo do modo que Ele determina; afinal de contas, um sacrifício é entregue de modo completo no altar, e não parcialmente.

Então, apresentar o corpo como um sacrifício agradável, isto é, aceitável a Deus, é viver e dispor-se para Ele do modo que Ele determina em Sua santa palavra.

Em suma, um culto racional significa apresentar a si mesmo para Deus bem disposto, santificado e obediente para cultuá-lo, viver para Ele e servi-lo.

Já que a palavra original no texto aramaico que aparece como “culto” nas bíblias comuns é “teshmeshtá” (תֵ̅שׁמֵשׁתָּא), significando um serviço, uma ministração. Ela também aparece em textos como Lucas 10:40, onde Marta servia seus convidados, Atos 1:17, que fala do serviço que Judá de Queriote prestava ao Senhor e Atos 6:1, onde é relatado o serviço de assistência social às viúvas da comunidade de discípulos.

Então “culto” aqui em Romanos 12:1 não se refere exatamente a um momento de louvor e adoração a Deus numa reunião de irmãos; porém está mais relacionado à dedicação de uma vida a Ele.

Infelizmente, ao longo do tempo, em diversos ciclos religiosos, várias maneiras de cultuar a Deus e viver “para Ele” foram criadas pelos homens. E, com base em interpretações bíblicas pessoais influenciadas de formas diversas, foram escolhidos os mandamentos e as tradições das Sagradas Escrituras legadas por Deus ao Seu povo que deveriam ser praticadas ou não.

Mas prestar a Deus um culto racional vai além de momentos sentimentais em uma reunião (culto); vai além de êxtases emocionais em ocasiões diversas. Prestar um culto racional a Deus é dedicar todo o nosso ser a Ele, caminhando do modo que Ele quer e determina em Sua Lei. É tornar visível ao mundo, na prática, a sabedoria, misericórdia e luz de Deus, que é sua palavra! (Sl 119:105)