A marca da besta: o que realmente é e quem é?

Estudo bíblico explica o que é a marca da besta de Apocalipse capítulo 13.

Durante muito tempo, teólogos cristãos e estudiosos da Bíblia Sagrada têm especulado o que realmente é a marca da besta descrita em alguns versículos do livro do Apocalipse (Revelação), mas especialmente nos capítulos 13 e 14. Seria um chip inserido nas pessoas que as impedirão de fazer transações comerciais? Ou um tipo de sistema mundial anti-cristão? Aqui darei uma sugestão embasada no contexto do próprio texto bíblico e no decurso de nossa história.

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O assunto se estende por vários trechos do livro chamado Apocalipse (que significa “Revelação“), desde o capítulo 11 até o 20, envolvendo muitos simbolismos. Porém, para ser mais preciso nessa abordagem, manterei meu foco no capítulo 13, versículos 15 e 16, e no 14:9-12.

Em primeiro lugar, devo confessar que a tradução “besta” não me agrada muito. Essa palavra vem do latim bestia, -ae, que significa animal ou fera (Dicionário Priberam). Geralmente se referia a um animal quadrúpede que se pode cavalgar.

Trata-se de uma palavra antiquada já não usada com essa conotação na língua portuguesa. Além do mais, o texto aramaico traz o termo “Hayuwta“, da raiz “ḥay/ēwṯā“, significando um animal selvagem ou carnívoro qualquer. O texto hebraico, por sua vez, traz o termo “החיה” (hahayah), que significa um ser vivente, ou um animal vivente; é claro que trata-se de uma linguagem figurada para se referir a algo ou alguém. Mas para não complicar, por hora, ainda vou usar a linguagem com que as pessoas já estão acostumadas e me referir como “marca da besta” mesmo.

Qual a função da marca da “besta”?

Em primeiro lugar, devemos notar que a “besta” descrita em Apocalipse 13:15 exige ser adorada, ainda que para isso seja necessário forçar as pessoas. Devemos prestar atenção nessa informação para entendermos em que momento da história isso aconteceu, o qual mostrarei um paralelo intrigante mais a frente. Quem não adorasse este animal simbólico, seria certamente perseguido e morto.

O versículo seguinte, Apocalipse 13:16, mostra que a adoração a essa “besta” envolveria todo tipo de pessoa e seria muito abrangente, como também mostram os versículos 3, 7 e 12 deste mesmo capítulo. Ou seja, a adoração a este animal misterioso se alastraria por todo o planeta Terra. Isso se parece com o que profetizou Daniel, muito provavelmente a respeito deste mesmo ser, veja 7:23.

A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz com que lhes seja dada certa marca na mão direita ou na testa,

(Revelação [Ap] 13:16)

Mas por que uma marca na mão ou na testa?

Não vou falar a respeito do “número da besta” agora (666), para não alongar tanto nosso conteúdo e tentar ser mais direto nessa explicação. O que nos interessa nesse momento é ressaltar o motivo de uma marca na mão ou na testa. Por que nestes dois lugares do corpo?

É importante ressaltar que os leitores destinatários da Revelação que João recebeu ainda eram israelitas, bem como estrangeiros conversos a Deus que estavam unidos ao povo de Israel. Basta observar no livro linguagens que identificam os leitores com o povo eleito. Veja por exemplo que o Messias é chamado de Leão da tribo de Judá em 5:5, e o único que fez menção dessa linguagem figurada foi Jacó, o pai de Judá (de onde veio o Messias), em Gn 49:9. Logo, esta é uma linguagem profética relacionada ao povo de Israel.

Além disso, a partir do capítulo 7 e versículo 4, são relacionados um número de pessoas das tribos de Israel. Em 21:12 volta-se a falar das tribos de Israel. Logo, de que interessaria falar das tribos israelitas para leitores não israelitas?

Sendo assim, já podemos dizer que, para os israelitas, era comum o conhecimento de que a palavra de Deus, a Lei de Moisés ou a Torá, deveria estar sinalizada em sua mão ou em sua testa (entre os olhos). Isso está ordenado no trecho que contém o principal mandamento das Escrituras, em Deuteronômio capítulo 6, mais precisamente no versículo 8.

Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão sobre o teu coração. […] Também deve amarrá-las como sinal na sua mão, e elas lhe serão por frontal entre os olhos.

meninojudeu de frente para o Muro das Lamentações lendo a Torá e usando Tefilim.

Então, basicamente, o que a “besta” do Apocalipse está dizendo é: “tire o sinal da Lei do seu Deus da sua mão e da sua mente, e coloque o meu!”; Isto é, “renuncie os mandamentos de seu Deus e a identidade que Ele deu a você, e assuma a minha identidade e os meus ensinamentos”.

Em suma, se deixar ser marcado com o sinal ou a marca da “besta”/animal do Apocalipse, é negar os mandamentos de Deus na Torá, bem como a identidade (cultura, costumes, etc.) que Ele deu ao Seu povo.

Essa interpretação tem razão, e pode ser complementada pelo relato que se segue no capítulo 14:9-12, pois no último versículo deste trecho o mensageiro esclarece:

Outro anjo, o terceiro, seguiu-os e disse em alta voz: “Se alguém adorar a besta e sua imagem, e receber a sua marca na testa ou na mão, também beberá do vinho da fúria de Deus” […]
Nesse momento, é necessária a perseverança da parte do povo de Deus, dos que guardam seus mandamentos e são fiéis a Yeshua.

Revelação [Ap] 14:9-10a,12 BJC

Verifique nos versículos acima que a marca da besta está em oposição àqueles que guardam os mandamentos de Deus (como o próprio Yeshua guardou, vide Jo 15:10).

Bom, agora que já sabemos o que é a marca da “besta” e sua “proposta” (imposição), basta verificarmos em que momentos da história humana, posterior ao 1º século, isso se cumpriu. O cumprimento dessas profecias apocalípticas devem se situar após o 1º século EC porque, até então, o império romano, que era o dominador das terras de Israel na época, não obrigava os israelitas a se divorciarem de sua Lei, cultura e costumes, apenas lhes cobrava impostos e interferia em seu governo por meio da política.

E talvez pudéssemos listar muitas coisas, pessoas ou eventos históricos que agiram dessa forma (contra a Lei de Deus e os costumes que Ele deu ao seu povo) ao longo da história. E de fato podemos citar. Porém, precisamente, e por agora, quero destacar onde esse problema começou a acontecer em sua raiz, bem como mencionar um pouco de seu desenrolar histórico.

Para identificar isso, precisamos ter em vista estas três cenas:

  1. Pessoas que guardam os mandamentos de Deus na Torá;
  2. Algo ou alguém que esteja querendo se desfazer dos mandamentos da Torá e do povo eleito;
  3. Algo ou alguém que force os praticantes da Lei de Deus a renunciá-la, bem como a identidade que eles receberam dela, assumindo outra.

O início da “marca da besta”: uma nova religião.

Não muito longe do tempo dos chamados “apóstolos“, um novo grupo de líderes religiosos se evidenciou, e com eles a proposta de uma nova religião. Ao ler suas palavras, é possível notar que a nova religião criada por eles, baseada em uma reinterpretação do Messias da Bíblia, era o veículo que iria desprestigiar o povo de Deus e seus costumes. Veremos que os próprios escritos dos pais dessa religião falam por si mesmos, ao tentar descaracterizar a identidade bíblica que Deus deu ao seu povo, Israel, além de desmerecer mandamentos e tradições que Ele lhes deu.

Vamos verificar, então, um trecho dos ensinamentos de um dos primeiros líderes deste novo movimento religioso:

Não vos deixeis iludir pelas doutrinas heterodoxas, nem pelos velhos mitos sem utilidade. Pois se ainda agora vivemos conforme o judaísmo, confessamos não ter recebido a graça.
[…] Assim os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor, no qual nossa vida se levantou por Ele e por Sua morte, embora alguns o neguem. Mas é por esse mistério que recebemos a fé e por ele é que perseveramos, para sermos de fato discípulos de Jesus Cristo nosso único mestre. […]
Por isso, tornando-nos discípulos Seus, aprendamos a viver segundo o cristianismo. Pois quem usar outro nome fora desse não é de Deus.
Ponde assim de lado o mau fermento, envelhecido e azedado, e transformai-vos em novo fermento, que é Jesus Cristo. […]
É absurdo falar de Jesus Cristo e viver como judeu. O cristianismo não depositou sua fé no judaísmo, mas o judaísmo no cristianismo, junto ao qual se reuniram todas as línguas que creram em Deus.

Carta de Inácio de Antioquia aos magnésios, início do século II; fonte cristianismo.org.br.

Estima-se que a palavra “cristianismo” foi citada pela 1ª vez na história nessa carta de Inácio aos magnésios (habitantes da antiga cidade grega chamada Magnésia). A carta foi redigida entre os anos 98 e 107 EC.

É nítida a maneira que Inácio trata o “judaísmo”, ou seja, a maneira de viver bíblica que Deus deu para o povo que Ele mesmo escolheu e criou.

Inácio chama esse modo de vida de:

  • doutrina heterodoxa (herética ou contrária ao que é “certo”, padrão e comum);
  • velhos mitos sem utilidade;
  • velha ordem das coisas;
  • não é de Deus;
  • mau fermento, envelhecido e azedado,
  • modo de vida absurdo.

Ele ainda despreza o dia que Deus santificou e ordenou ao seu povo que fizesse o mesmo (Êx 31:16-17), afirmando que havia um novo dia para se “observar”/guardar. Não é isso uma clara tentativa de desmerecer e subverter um mandamento do próprio Deus que fazi parte da identidade de Seu povo?

Inácio ainda completa dizendo que este modo de vida bíblico-judaico deveria ser esquecido e substituído por outro, que é o da religião que ele estava criando. Não era essa exatamente a proposta da marca da besta, retirar “da mão e da testa” a marca de Deus (seus mandamentos) e colocar outra?

Além disso, no final deste trecho, é possível constatar que o messias anunciado por Inácio não é o Messias da Bíblia, pois este era judeu, vivia como judeu, mantinha a cultura judaica/israelita e defendia a Lei dos judeus (isto é, a Lei que Deus lhes deu). Basta ver textos como Mt 5:19, Lc 2:41-42, 4:16, Jo 2:13, 4:22, 7:2,10, etc. Logo, este bispo de Antioquia está afirmando que a função de seu messias era desvirtuar o modo de vida bíblico que o próprio Messias da Bíblia viveu.

Além do mais, ele destaca que todos (supostamente) estavam aceitando essa religião, ou deveriam aceitá-la, inclusive os judeus! Isso não faz lembrar as palavras referentes à marca da besta? Vide Apocalipse 13:3,7,12,15,16.

Então, este homem justificava que o povo israelita deveria abandonar as tradições que Deus lhes transmitiu em Sua Lei, e que deveriam assumir uma nova identidade e religião. Não poderíamos, com isso, dizer que Inácio de Antioquia foi um dos principais precursores da imposição da marca da besta? Já que a proposta daquela marca seria subverter os mandamentos de Deus e a identidade bíblica que Ele deu ao Seu povo, e Inácio estava justamente promovendo isso.

A “teologia” e doutrina que ele pregou, bem como a reinterpretação que fez do Messias israelita, ganhou força após este momento da história, dando cumprimento às predições do próprio Senhor e de seus discípulos, como Mt 7:15,21-23, 24: 4-5,23-25, At 20:29-30 e 2 Ts 2:3-7.

Assim, a nova religião que Inácio utilizou como veículo contrário ao judaísmo e seus costumes pela Lei de Deus, foi se alastrando pelo mundo e ganhando novos adeptos.

Por volta do início do século 4, Eusébio de Cesareia, embora um bom historiador, alimenta as reinterpretações de inácio (dentre outros) e também promove a anulação da Lei (Torá) e a substituição do povo judeu por novo povo e nova religião. Em sua famosa obra, História Eclesiástica, continuando a alimentar a descaracterização do povo de Deus, algo inerente da marca da besta, ele registra as seguintes interpretações bíblicas:

“Caso alguém, a começar em Abraão e retrocedendo ao primeiro homem, considerasse cristãos de fato, embora não de nome, os que tiveram o testemunho da justiça, não estaria longe da verdade. Pois visto que o nome cristão pretende indicar a própria verdade de que um homem, pelo conhecimento e pela doutrina de Cristo, distingue-se pela modéstia e justiça, pela paciência e uma fortaleza virtuosa, e por uma profissão de piedade com respeito ao único e supremo Deus; tudo isso não foi cultivado com menos diligência por eles que por nós.
Eles, portanto, não consideravam a circuncisão, nem observavam o sábado, como também nós; nem nos abstemos de certos alimentos, nem consideramos outras imposições que Moisés subsequentemente entregou para serem observadas em tipos e símbolos, porque tais coisas não dizem respeito aos cristãos.”

(Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, Livro I, Capítulo IV, pág. 24, CPAD, versão Kindle.

Neste trecho é possível verificar que, com palavras aparentemente boas, Eusébio afirma que Abraão e seus antepassados não consideravam certos costumes ordenados por Deus (embora a Bíblia diga o contrário; cf. Gn 17:9-13,23; 26:5). Ele afirma ainda que ele mesmo, juntamente com os demais cristãos de sua época, “de igual modo” desprezavam tais “imposições” da Lei de Moisés (palavras dele mesmo). Ele finaliza afirmando que tais costumes como circuncisão, guarda do dia de repouso, dieta alimentar, etc., não dizem respeito aos cristãos. Ou seja, se um grupo de pessoas despreza mandamentos de Deus para Seu próprio povo, é justo que se chamem de povo de Deus?

Mas mesmo assim, tanto Eusébio, como Inácio e tantos outros teólogos que professavam a mesma religião, insistiam que uma maneira de viver deveria ser substituída pela outra. Com isso, não é possível identificar aqui, mais uma vez, uma abordagem da marca da besta?

Recapitulando até o momento: a marca da besta tinha como proposta ser inserida “na mão” ou “na testa” das pessoas (simbolicamente), em especial daqueles que guardam os mandamentos de Deus.

Compare Ap 14:9-12 e relembre Dt 6:8. Com isso, a tentativa era causar desprezo à Lei de Deus, a Torá, e assumir uma nova identidade.

Até o século 4, porém, este conceito só era, de fato, um conceito, embora algumas perseguições ao povo de Deus já tivessem acontecido até esse tempo. Porém, após o século 4, quando o império romano assumiu uma única religião como oficial e começou a perseguir todas as outras, as coisas começaram a mudar, e dali para muitos anos depois no decurso da história.

Mais especificamente, este momento de canonização religiosa e perseguição aos contrários, se concretiza por volta do ano 381, com a publicação do édito de Tessalônica. Neste édito, além da formulação final da doutrina da santíssima trindade, consta a imposição da nova religião do Império romano. Vejamos um trecho dele abaixo:

De acordo com os ensinamentos apostólicos e a doutrina do Evangelho, que nós creiamos em uma só divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em igual majestade e em uma Santíssima Trindade.
Nós autorizamos que os que obedecerem a essa lei assumam o título de Cristãos Católicos. Porém, para os outros, uma vez que em nossa opinião, são loucos tolos, nós decretamos que recebam o nome ignominioso de heréticos, os quais não deverão ter a presunção de dar aos seus conventículos o nome de igrejas. Eles irão sofrer em primeiro lugar o castigo da condenação divina e, em segundo lugar, a punição que a nossa autoridade, de acordo com a vontade do Céu, decidir infligir.

Fonte: Histórias de Roma, o Édito de Tessalônica.

Nós vimos em Apocalipse 13:15 que aquela “besta” exigia adoração. Agora, é meio intrigante ver como Teodósio impõe que as pessoas aceitem a nova religião do Império, sob pena de suposta condenação divina e punição imperial. Isto é, todos deveriam se tornar seguidores devotos dessa religião (adorá-la?). Ademais, tal exigência por parte deste mesmo poder político-religioso tende a piorar em momentos futuros da história, o que veremos abaixo.

Depois dessa época, com o poder do Império em suas mãos, a situação de muitas pessoas ficou crítica, em especial do povo judeu, até chegar ao ápice da imposição de algo que se identifica muito com a proposta da marca da besta…

A “Santa” Inquisição, a verdadeira marca da besta!

Não adianta ficar conjecturando que a marca da besta seria um chip inserido na mão ou na testa das pessoas, com supostos vínculos demoníacos anti-cristãos, que as impediriam de realizar transações comerciais. Pelo contexto do livro do Apocalipse, isto é, da Revelação, e pelo significado de sua linguagem simbólica, podemos perceber mais claramente o que de fato é este sinal e qual sua função. Com isso, conseguimos detectar momentos exatos quando tal coisa entrou em cena na história.

Sinceramente, eu ainda não vi algo que se identifique tanto com esse sinal da besta quanto às inquisições promovidas pela Igreja Católica Romana medieval (não julgo a Igreja de hoje, estou apenas recitando dados históricos). Na verdade, as perseguições e tentativas de desvirtuar e destruir o povo de Deus se estenderam até os tempos modernos.

Desde a diáspora judaica, com a destruição de Jerusalém e seu templo no ano 70 EC, os judeus ocuparam diferentes regiões pelo mundo, convivendo em pequenas comunidades. Apesar de não possuírem um Estado (território), eram considerados uma nação (povo) e procuravam conservar sua identidade cultural por meio da língua, religião, costumes e hábitos.

Na Europa medieval, ocuparam principalmente a região da Península Ibérica (Portugal e Espanha). Antes do ano 1000, tinham liberdade religiosa e influenciaram o desenvolvimento cultural e científico. No ano de 1095, começaram a ser perseguidos pelos cristãos, porque a Igreja Católica julgou os judeus como responsáveis pela morte de Jesus Cristo. A partir desse fato, a civilização judaica sofreu constantes ataques nas cidades europeias; enclausurando-se nos guetos, milhares de judeus foram vítimas da Santa Inquisição (Tribunal da Igreja Católica que julgava os hereges).

Fonte: Mundo Educação – UOL.

Mas o que exatamente foi a Inquisição?

A Inquisição foi criada pela Igreja Católica, durante a Idade Média (476-1453)  — especificamente na Baixa Idade Média (séculos XI e XV) — e Idade Moderna (1453-1789). Era um tribunal que julgava hereges (pessoas não adeptas ao cristianismo), porém esses julgamentos se tornaram também parte de um movimento político e econômico da época.

Inicialmente, as averiguações incidiram na Alemanha, França e Itália; em seguida, Espanha e Portugal, e, assim, alcançaram os países da América colonizados. O movimento, já abrandado na Idade Moderna, teve um novo apogeu durante a Reforma Protestante (1517), e retornou também durante a formação dos Estados Nacionais (século XVIII).

Apesar de existirem poucos estudos a respeito, existiu Inquisição no Brasil, onde chegou a abrir mais de 1000 processos. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram em todo o período inquisitório no mundo, mas os números vão de 100 mil a milhões. O Tribunal da Santa Inquisição foi extinto em 1891.

Os judeus … passam a ser muito perseguidos pela Igreja … e tornaram-se cristãos-novos (isto é, convertidos à fé católica, em sua maioria de maneira forçada). Pois, na visão católica, eles tinham prosperado bastante [na Europa] e deviam impostos, que faltavam cada vez mais desde a Reforma Protestante.

… A Santa Inquisição esteve em terras brasileiras durante os séculos XVI a XVIII. Suas principais investigações diziam respeito aos cristãos novos, em outras palavras, judeus que haviam se convertido. A maioria dos inquisidores saía de Portugal, da Holanda e da França para o Brasil, um de seus destinos favoritos.

Fonte: Brasil Escola – UOL.

Cristãos-novos foi o nome atribuído aos judeus e mulçumanos que eram convertidos ao cristianismo católico de maneira forçada. Ou seja, eles deveriam “desassumir” a identidade de sua fé original e assumir de outra, negando os mandamentos de seu Deus. Não é essa a proposta da marca da besta, como vimos inicialmente?

Muitos deles deveriam confessar publicamente que eram cristãos, que haviam abraçado a fé católica. Com isso eles tinham que manifestar publicamente muitos comportamentos contrários à fé das Escrituras, embora dentro de suas casas tentavam continuar a prática do modo de vida bíblico-judaico.

A Inquisição e a descaracterização da identidade bíblica do povo de Deus.

É claro que a Inquisição não perseguiu só a judeus, mas negros, índios, muçulmanos e até mesmo os próprios cristãos que não concordavam com a doutrina da Igreja mãe de alguma forma. Mas os judeus certamente foram o povo mais sofrido, pois descaracterizar o judaísmo, convertendo seus adeptos ao catolicismo, era uma das principais metas dessa obra maligna chamada de “santa”.

As informações a respeito das investidas inquisitórias contra o povo de Deus são muitas, por isso, não será possível transcrever tantas aqui agora. No momento, além dos breves relatos acima, vou me resumir a apenas um trecho da história, extraído de um livro. Leia abaixo e observe como isso se identifica com a descaracterização da identidade bíblica do povo de Deus promovida pela marca da besta.

O Tribunal [da Inquisição] alegava que a condição de cristão-novo determinava a prática judaica. Como hereges em potencial, os cristãos-novos (judeus que foram forçados ao cristianismo da época) foram perseguidos pelo simples fato de terem ancestrais judeus. Desde a conversão forçada, a religião judaica estava proibida. As sinagogas foram fechadas, muitas transformadas em igrejas, e os livros e a língua hebraica foram proibidos.

Referência: Os Judeus que Construíram o Brasil, por Anita Novinsky, 3ª Edição, pág. 67.

A Editora Sefer publicou muitos livros com relatos históricos a respeito da Inquisição. Quem sabe você mesmo que está lendo esse estudo agora seja descendente de alguma família judia perseguida naquela época. Visite a sessão “Inquisição” no menu “Livraria” do site da Sefer para conferir as obras.

O que aconteceu com a religião do Inácio de Antioquia nos dias de hoje?

A Inquisição acabou, mas como está a religião de Inácio, Eusébio e Teodósio (por exemplo) nos dias de hoje? Ela ainda descaracteriza a identidade bíblica que Deus deu ao Seu povo? Cada um pode chegar às suas próprias conclusões comparando os ensinamentos daqueles homens com os que são correntes hoje em dia em quase todo o mundo. Aqui vou expor alguns.

  • Israel foi ensinado que Deus é um só, como lemos em Dt 6:4 e Mc 12:29, versículos que foram distorcidos na maioria das traduções bíblicas conhecidas; mas também lemos isso em Jo 17:3, 1Co 8:5-6, dentre outros, em qualquer tradução. Teodósio, porém, afirma que Deus é três, não mais um só, distorcendo um ensinamento bíblico crucial. Isso continua a ser reproduzido na religião dele hoje em dia?
  • O Messias ensinou a cultuar ao único Deus, o Pai, vide Lc 4:8. Mas no édito de Tessalõnica, pelo contrário, é ensinado a prestar culto a três supostas versões de Deus. Nos ambientes religiosos que vieram daqueles homens, cultua-se só ao Pai?
  • O povo que Deus criou e escolheu foi ensinado a santificar um determinado dia de descanso e conexão com Ele (Dt 5:12-14). Mas como vimos, tanto Inácio quanto Eusébio desprezaram isso e realizaram modificações de acordo com suas próprias interpretações pessoais. Na religião legada por eles hoje em dia, tal “mudança” da Lei Divina continua a ser praticada e reproduzida?
  • Deus ordenou ao seu povo celebrar festas que recordam seus feitos por ele (Êx 23:14; Lv 23:2+; Dt 16:16). Inácio, porém, ensina que viver praticando isso, ou seja, viver como judeu, é absurdo, pois tal estilo de vida seria um mau fermento, envelhecido e azedado. A maior religião do mundo hoje continua a desprezar as festas bíblicas ordenadas por Deus ao Seu povo?
  • O povo de Deus recebeu dele uma dieta alimentar específica, que santifica este povo (Lv 11). No entanto, Eusebio expõe como que ele e seus co-religiosos não se abstinham mais destes alimentos que Deus proibiu para seu povo. O mesmo continua a ser ensinado e reproduzido em tal estilo de vida religioso?
  • O Messias ensinou seus discípulos a obedecerem os mandamentos e se recordarem do sacrifício dele por eles durante o jantar de uma certa festa bíblica (vide Lc 22:15-19, Nm 9:1-3). Porém, mais uma vez, Inácio afirma que costumes como esse fazem parte da “velha ordem das coisas”. Ele e sua religião divorciaram o Messias do contexto deste evento e criaram outro desvinculado dos mandamentos divinos para Seu povo. A religião que o bispo de Antioquia legou obedeceu ao Messias, ou subverteu o mandamento que ele obedeceu?

Se as respostas para todas as perguntas acima forem contrárias aos ensinamentos da Lei divina, então é realmente verdade que tal religião, em proporção maior ou menor, de maneira maquiada, continua a promover a “marca da besta”!

E tantas outras coisas que poderíamos mencionar que, como claramente se vê, são deformações da fé e dos costumes originais que o povo do ETERNO recebeu nas Escrituras.

Concluindo, a marca da besta do livro da Revelação (Apocalipse), não é somente a antiga “santa” Inquisição, mas todo um sistema opositor da Lei de Deus e de seus costumes, bem como das pessoas que a praticam, sendo muito mais abrangente do que simplesmente o presente texto mostra.

A respeito de tudo isso lemos uma advertência em Ap 18:4.

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Autor: Gabriel Filgueiras

Um caco de barro que com trabalho duro está sendo moldado pelo Criador.

4 comentários em “A marca da besta: o que realmente é e quem é?”

  1. Puro extremismo dar ênfase às mortes de judeus através da S.Inquisição..
    Se derem um Google aí vcs verão que o autor fez um verdadeiro malabarismo informativo, pra canonizar o judaísmo, que na mente dele CERTAMENTE ELE É UM DESCENDENTE (a julgar pela indicativa do livro OS JUDEUS QUE CONSTRUÍRAM o Brasil) …
    Essa é mais antiga que minha vó!!
    Muito mais cristãos foram mortos no curso da história recente mundo a fora, mais do que qualquer outra religião…
    Não repúdio o judaísmo, mas repúdio proselitismo enrustido fajuto que cauteriza a mente dos mais fracos..
    Estes sofreram a condenação como Jesus disse..
    Mt 23.15

  2. Lc 6.1-10
    Jo 5.5-10-16,17 e claramente o 18
    MT 12.5-8
    Jo 9.14 e o 22 que é muito importante!!

  3. Olha só, achei interessante a parte sobre o poder inquisidor que operou na perseguiçao ao povo de Deus lá atrás, nao so perseguiu judeus mas muitos cristãos morreram por querer seguir somente a Palavra. E o fato desse poder poder ser a marca da besta, pois mesmo hoje tenta tomar para si obediência incondicional e atributos divinos mas não é so isso, alem deles serem um tipo de marca da besta um dia irao fazer do domingo um dia obrigatório de guarda e isto será a etapa final onde todos que aceitarem o que esse sistema impõe que vai contra a lei de Deus será marcado ou por suas ações ou por sua convicção de pensamento, por isso a marca na mao e na testa. Isso ainda nao aconteceu, neste momento estao trabalhando pra isso usando o nome de domingo climático. Dando a desculpa de salvar a “mãe” terra pra cometer seus abusos e aqueles que quiserem ser obedientes a Deus serao perseguidos, essa sera a última perseguição aquela como nunca houve que Jesus relata na biblia. Ainda diz lembrem-se, o servo não é maior do que o seu Senhor, se me perseguiram tbm perseguirão vocês. Estou falando de perseguição global, martírio como foi com Jesus. Infelizmente isso será implacável mas Aquele que for fiel até o fim será salvo pois o Próprio Deus os defenderá da espada.

  4. O maior rival de Israel nos tempos modernos sempre foi a religião do Islã.
    E eles ainda adoram uma pedra preta. Bate bastante. Apenas uma ressalva.

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