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10 Características que os cristãos verdadeiros devem ter

Last updated on 17/04/2024

Os discípulos de Yeshua foram chamados “cristãos” pela primeira vez na cidade de Antioquia da Síria, conforme lemos em Atos 11:26, quase uma década depois dos eventos de Atos 2. Essa nomenclatura é proveniente do termo grego “christos” (cristo), um adjetivo que significa “ungido”; não é um sobrenome, como às vezes se imagina. Christos corresponde ao hebraico “mashiah”, de onde vem a palavra “messias”, significando “ungido”, da mesma forma que “cristo”. Portanto, o termo “christianos”, alcunhado aos discípulos ali naquela ocasião e traduzido por “cristãos”, possivelmente é uma junção do grego com o latim, e tem a ver com “discípulos ungidos”. Neste estudo bíblico veremos as características daqueles discípulos que foram chamados assim e extrair disso lições para nossa vida atual, dessa forma saberemos como realmente eram os cristãos verdadeiros.

Baixe este estudo em PDF para impressão aqui.

A origem do termo “cristãos”.

No hebraico, o termo que corresponde a “christianos” seria “mashihim” (מְשִׁיחִיִּים), mas como o grego era a língua predominante ali dentre os cidadãos de Antioquia – vide v. 20 – então eram chamados “christianos” mesmo, nome que posteriormente foi assumido pelos pais da igreja para definir seu novo estilo de vida religioso.

Vale ressaltar, primeiramente, que os discípulos foram chamados christianos (cristãos), ou seja, foram outros que deram tal nomenclatura para eles, e não eles mesmos. A conclusão a que estudiosos do texto bíblico tem chegado atualmente é que este apelido foi dado a eles de modo depreciativo. O comentário do William Barclay, por exemplo, diz:

… Esta palavra começou sendo um mote. O povo desta cidade era famoso pela facilidade com que encontravam motes risonhos. Mais tarde o barbado imperador Juliano visitou a cidade e o batizaram “O Bode”. A terminação — iani significa pertencente ao partido de… Por exemplo, caesarean significa pertencente ao partido de César. Cristãos significa: Esses amigos de Cristo. Era um mote meio zombador, risonho e depreciativo

A Bíblia King James Fiel de Estudo Holman também comenta:

O termo “cristãos” veio, provavelmente, de romanos que rotularam os seguidores de Jesus em Antioquia de “pequenos cristos“. embora seja provável que pretendia ser uma ofensa, o rótulo é realmente uma honra, pois indica que os discípulos estão se assemelhando a Cristo em seu viver.

Seja como for, aqueles discípulos estavam se parecendo com o Ungido, ou seja, com o homem que seus seguidores judeus alegaram ser o Messias prometido à nação de Israel. Estes discípulos de Antioquia também eram bem ensinados na palavra divina, seus líderes principais eram Saul, chamado Paulo, e Barnabé, sábios homens e mestres israelitas. Saul era da tribo de Benjamim, e Barnabé era um levita (Rm 11:1; At 4:36).

A comunidade de Antioquia da Síria nasceu com os eventos relatados em Atos 11:19-21, depois da perseguição que se desencadeou com a morte de Estêvão.

Nessa época, já fazia pelo menos 8 anos que a primeira comunidade de discípulos havia se formado depois da ressurreição do Senhor, em Atos 2:41-47.

O texto não menciona o nome das pessoas que pregaram a palavra de Deus aos de fala grega mencionados em Atos 11:20. Além disso, não se sabe ao certo se eles eram descendentes israelitas, isto é, judeus que haviam abraçado a cultura e língua grega, tendo perdido sua identidade e maneira de viver bíblica, ou se eram de fato estrangeiros. De toda forma, sendo um grupo ou outro, o fato é que eles confiaram na mensagem do Messias anunciada através daqueles homens, e agora estavam orientando suas vidas de acordo com este ensino, isto é, a interpretação das Escrituras que Yeshua transmitiu a seus discípulos.

(Veja com detalhes o significado da palavra Messias no Projeto Bíblico Ezra).

Diante do crescente número de pessoas abraçando a fidelidade ao Mestre em Antioquia, tal notícia chega aos ouvidos da liderança principal dos discípulos, que estava em Jerusalém.

Eles então enviaram Barnabé, um levita, para checar a situação. Ao chegar ali, ele fica maravilhado ao perceber que Deus realmente estava com aquela gente (vs. 22-24). Mas possivelmente Barnabé fica um pouco desorientado ao ver a quantidade de homens estrangeiros abraçando a fé no Messias de Israel, então ele decide chamar um homem mais experiente para lhe ajudar a orientar essas pessoas. Ele vai em busca de Saul, chamado Paulo para os romanos, um homem erudito judeu de cidadania romana; e ambos permanecem um bom tempo ali ensinando a palavra do Eterno e educando aquelas pessoas nas Escrituras.

E aqui, finalmente, chegamos.ao ponto central do nosso estudo, onde os discípulos foram chamados pela primeira vez de “christianos”, isto é, “cristãos” ou “ungidos”. Agora nós vamos explorar informações dessa comunidade de Antioquia da Síria, que também é mencionada em Atos 15, e buscar quais características a identificou com o Ungido, o Mestre de Israel, Yeshua o nazareno.

(Veja também o estudo “Como foi que Yeshua virou Jesus”).

1) Os cristãos verdadeiros dão ouvidos à palavra de Deus.

Menino com a Bíblia nas mãos orando a Deus

Nós começamos a listar as características dos cristãos verdadeiros com essa abordagem porque não há discípulo sem que antes se dê ouvidos à mensagem de um mestre. Neste caso, o texto de Atos 11:19-21 relata um grande número de pessoas dando ouvidos à mensagem de salvação de Deus através de seu servo, o Ungido. O próprio doutrinador dessa comunidade dizia que a confiança/fé vem através de dar ouvidos à palavra de Deus (Rm 10:17).

Ora, e se eles deram ouvido, é porque deram crédito a essa mensagem, isto é, a receberam como sendo a verdade de Deus. Além disso, eles decidiram se tornar seguidores do Messias e obedecer-lhe. Dessa forma, todo aquele que é cristão verdadeiro dá ouvidos à mensagem do Salvador, e fazem isso com a intenção de se tornarem discípulos dele.

2) Os verdadeiros crentes se voltam para Deus.

Dentre os chamados “gregos” mencionados no texto de Atos 11:20, possivelmente haviam descendentes de israelitas que já haviam perdido sua identidade bíblica dada a eles por Deus na Torá. Também havia estrangeiros, isto é, não israelitas, que naturalmente não seguiam ao Deus de Israel. E como lemos no v. 19 deste mesmo texto, a mensagem de Yeshua foi anunciada ali primeiramente aos judeus, ou seja, os discípulos diretos do Senhor estavam fazendo o que lhes foi ordenado desde Mt 10:5-6, que era restaurar os descendentes perdidos da casa de Israel e testemunhar aos judeus que o Messias havia se revelado. Isso nos indica que eles estavam falando em hebraico ou aramaico com essa gente.

(Veja também: Por que o idioma que Jesus falava era o aramaico e não grego).

No entanto, alguém talvez tenha visto potencial entre os de fala grega, fossem eles estrangeiros ou descendentes de israelitas, ou mesmo ambos. Então esses anunciadores das boas novas decidiram pregar a mensagem do Salvador a eles também, e quando estes ouviram, acreditaram em Yeshua, e com isso começaram a obedecer a Deus.

Dessa forma, os que são verdadeiramente “cristãos”, isto é, os que realmente creem no Senhor Yeshua, voltam-se para Deus e voluntariamente se dispõem para obedecer a palavra Dele! Ora, se alguém não está se submetendo ao Eterno ao ouvir sua palavra, não tem motivo para ser chamado de discípulo do Messias! (Veja João 15:10).

(Veja também: Yausha, Yahushua ou Yeshua, qual é o nome original do Salvador “Jesus’).

3) Os verdadeiros crentes se motivam uns aos outros.

Nós podemos ver este exemplo em Barnabé. O v. 23 de Atos 11 relata que ele motivava os irmãos a permanecerem firmes na caminhada com Deus.

Orientações como essa também foram dadas aos discípulos em outro momento, na carta aos Hebreus capítulo 12:15, onde o autor se inspira em Deuteronômio 29:18 para instigar os irmãos a serem perseverantes em seguir a ADONAI (cf. 10:23-25).

Logo, se os “cristãos” verdadeiros se motivam uns aos outros, não deve haver em nosso convívio sentimentos de intriga, inveja, vingança, etc.

4) Os cristãos verdadeiros se dedicam à oração!

Eu devo aproveitar este tópico anterior para mencionar aqui uma característica fundamental dos verdadeiros cristãos, que sem dúvida era praticada pelos discípulos de Antioquia, isto é, a perseverança na oração!

Barnabé viu a graça de Deus entre aqueles irmãos e os anima a serem cada vez mais firmes no Senhor. Então, para ele ter visto a graça de Deus com aquelas pessoas, eles certamente se uniam a Ele, e isso envolve a perseverança em buscar ao Eterno com oração!

Além disso, os ensinamentos do Messias envolviam também tal perseverança, como lemos por exemplo numa parábola contada por ele em Lucas 18:1-8.

Logo, o conselho aqui é dedicarmos momentos de nosso dia para buscar a Deus em oração. Quem persevera em oração, é porque está se submetendo a Deus constantemente!

(Leia também: Por que oração e estudo bíblico devem ser praticados juntos?)

5) Os verdadeiros cristãos são pessoas de bem!

Essa característica é atribuída a Barnabé em Atos 11:24. Ali, no texto grego dos relatos dos discípulos, é usada a palavra αγαθος (agathos), que no texto hebraico corresponde “tov”. Essa palavra é a mesma usada em Gênesis 1 várias vezes enquanto Deus concluía as obras de sua criação. Ele via que tudo que tinha feito, e era bom (cf. vs. 10,12,21,25,31).

Podemos encontrar algumas definições da palavra “tov” no Dicionário Strong (H2895), dentre elas listamos:

  1. Agradável (uma pessoa boa de se lidar);
  2. Amável (pessoa agradável de se conviver);
  3. Excelente (pessoa que tem boas qualidades como honestidade, integridade, respeito, justiça, etc.);
  4. Conveniente (uma pessoa sábia e sensata, que sabe lidar com os conflitos, não se desespera diante dos problemas e consegue resolvê-los com a calma necessária);
  5. Benigno/generoso (pessoa que se compadece da necessidade dos outros e ajuda);
  6. Eticamente correto (o que é honesto, verdadeiro e respeita os semelhantes);

Obs.: Todas as descrições das características entre (parênteses) acima são definições interpretativas minhas e não do Dicionário Strong.

Por fim, as características descritas acima fazem parte de nosso ser e caráter? Se não fazem, de fato não temos motivos para nos considerar “cristãos” verdadeiros.

6) Os verdadeiros crentes são cheios da inspiração santa!

Imagem ilustrativa de alguém orando cheio do espírito santo

Aqui, eu ainda quero me estender mais um pouco na pessoa de Barnabé, pois o v. 24 de Atos 11, além de dizer que ele era um homem bom, ainda afirma que ele era cheio da inspiração de santidade. E ele era um dos “chefes” daquela comunidade de Antioquia.

Mas talvez você esteja achando estranho essa linguagem, pois nas traduções bíblicas mais populares costuma-se ler, cheio do Espírito Santo, não é mesmo?!

Eu não queria “complicar” as coisas entrando neste assunto agora, no entanto será necessário dar uma explicação, mesmo que breve, pois no meio cristão atual o termo “Espírito Santo” geralmente é atrelado a uma das três pessoas nas quais o Deus Eterno estaria dividido, segundo a doutrina do cristianismo. Entretanto, para ensinar aqui no Blog Bíblia se Ensina, eu procuro respeitar os significados originais das palavras usadas na Bíblia em seu idioma de origem. Neste caso, tanto o grego pneuma quanto o hebraico rúah significam, basicamente, “vento, sopro, respiração”. É de pneuma, por exemplo, que vem a palavra pneu [de carro], que é enchido com ar, e pneumonia, uma doença relativa à respiração e aos pulmões.

(Leia, Deus é três pessoas? O que “Jesus” realmente ensinou?).

Então, para traduzir tanto pneuma hagion (literalmente “vento santo”) quanto rúah hakodesh (“vento de santidade”), nós usamos termos que têm alguma conexão com o significado original dessas palavras.

E como “inspiração” é literalmente inserir o ar nos pulmões, mas de modo figurado é causar uma influência sobre alguém, entendemos que este é o termo mais adequado em vários trechos dos relatos bíblicos. O texto de 1 Sm 10:10 é um clássico exemplo disso, quando o rei Saul ao receber a inspiração (espírito) de Deus começa a profetizar (também em 19:23-24).

Logo, Barnabé era um homem bom e cheio da inspiração de santidade, isto é, ele anunciava a mensagem de Deus verdadeiramente inspirado por Ele. Além disso, enquanto era guiado pela inspiração Dele, orientava sua vida de modo bom, íntegro e fiel, que será a próxima característica que abordaremos.

Concluindo, os verdadeiros “cristãos”, isto é, os verdadeiros seguidores do Messias, por obedecerem-no e se submeterem a Deus, tornam-se cheios da inspiração de santidade Dele! (vide At 5:32),

(Leia também, “o que é e como ser cheio do Espírito Santo”).

7) Os cristãos verdadeiros são confiantes e fiéis!

A última característica que Atos 11:24 revela acerca de Barnabé é a . No grego, o termo usado ali é “pistis”, que define alguém que tem inteira confiança em sua crença (em Deus), ou uma pessoa de fidelidade e lealdade; alguém em cujo caráter se pode confiar (Strong G4102).

Você já deve ter ouvido falar no termo original hebraico para essa palavra, que é אמונה (‘emunah). Seu significado não está longe do grego, que também envolve firmeza, fidelidade, estabilidade e confiança (Strong H530).

(Aprenda a ler a Bíblia no original hebraico com os cursos do Instituto de Estudos Bíblicos de Israel).

Em suma, uma pessoa cheia de emuná (fé) é;

  1. Confiante em Deus, seja em seu poder para prover suas necessidades ou para lhe salvar.
  2. Fiel, alguém que exerce fidelidade a Deus, obedece seus mandamentos e é verdadeiro para com Ele.
  3. Leal, uma pessoa que é íntegra para com seus semelhantes e fala a verdade.
  4. Confiável, uma pessoa em quem os outros podem confiar.
  5. Estável/constante, alguém que persevera em seguir aquilo que acredita.

8) Os verdadeiros crentes se unem ao Messias!

homem ajoelhado diante da cruz de Jesus

Já foi destacado que os irmãos de Antioquia foram chamados de “christianos”, que é uma variação greco-latina da palavra “christos”, devido de alguma forma eles serem reconhecidos como seguidores do Ungido (cristo ou messias). Geralmente, quando nos tornamos seguidores de certa pessoa, de uma religião ou até mesmo de um partido político, somos apelidados pelos outros com alguma palavra derivada daquilo. Vamos dar alguns exemplos. As pessoas que votam no partido político PT (Partido dos Trabalhadores) são chamadas “petistas”; os que votam no Jair Messias Bolsonaro são chamados “bolsonaristas“. É como se fosse dado um adjetivo pátrio para alguém: uma pessoa que nasce no Brasil é brasileira, por exemplo.

(Veja o significado da palavra “Cristo” no Projeto Bíblico Ezra).

Dessa forma, os seguidores do “christos” (Ungido) foram chamados “christianos” (ungidos?); cf. Strong G5547 e G5546.

Embora muito possivelmente esse apelido tenha sido dado a eles de modo depreciativo, havia um motivo pelo qual eles eram chamados assim.

Esse motivo pode ser devido a mensagem deles, que anunciava o Ungido (christos), salvador de Israel; talvez os cidadãos de Antioquia quisessem debochar de sua crença e mensagem, visto que em 1 Pe 4:16 essa mesma palavra é repetida por Simão em um cenário onde os discípulos de alguma forma atravessavam sofrimentos, eram depreciados.

Seja como for, aqueles discípulos eram realmente seguidores fiéis do Messias, e estavam intimamente unidos a ele pela fé. Isso não poderia ser diferente, pois eles estavam sendo doutrinados por um homem que teve contato direto com os principais discípulos de Yeshua (At 4:36), e por outro que teve um encontro pessoal, verdadeiro e sobrenatural com ele (At 26:9-18).

Desse modo, naqueles discípulos podemos ver as palavras do Senhor, que lhes ensinou dizendo: Basta ao discípulo ser como o seu mestre… (Mt 10:25).

O quanto temos conhecido de Yeshua e seus ensinamentos? Ou o quanto o temos seguido para dizer que somos verdadeiramente discípulos dele?

9) Os verdadeiros cristãos se unem ao povo do Messias!

Um homem em pé de frente para a bandeira de Israel.
Foto por cottonbro on Pexels.com

Aqui eu quis dar um salto para o texto de Atos 15, onde esses crentes de Antioquia são novamente mencionados, para aproveitar a sequência do tópico anterior. Pois além de serem verdadeiramente unidos ao Messias, os verdadeiros “cristãos” também são unidos ao povo do Messias! E quando eu digo “verdadeiros cristãos”, estou me referindo ao perfil daqueles que estamos abordando aqui, isto é, dos discípulos de Antioquia da Síria. 

Eu destaco isso porque, infelizmente, há várias diferenças dos “cristãos”, dos seguidores ungidos daquela época, para o que se entende e o que se vê ser adepto do cristianismo hoje em dia.

Os cristãos atuais são herdeiros das doutrinas dos pais da Igreja.

Estes homens se evidenciaram no século II EC e desenvolveram uma série de interpretações das Escrituras e do Messias que não foram originadas por seus discípulos diretos e emissários (apóstolos). Eles foram também os fundadores da Igreja Católica Romana, que por sua vez deu origem às igrejas protestantes, do século 16, e por fim às evangélicas atuais. Ambas ainda permanecem com muito da base doutrinária e teológica, além de vários costumes e liturgias de sua Igreja mãe.

(Veja mais detalhes no estudo “O que é o cristianismo, quem o fundou e como surgiu”).

Os “cristãos” (discípulos ungidos) de Antioquia da Síria, por sua vez, e como já dissemos, foram doutrinados por homens que tiveram contato com o próprio Senhor, ou com os discípulos dele. E estes homens permaneceram fiéis ao povo do Messias, sem desmerecer as tradições que receberam da Lei de Deus, basta conferir isso em At 24:14 e 28:17. Além do mais, Paulo promovia uma unificação dos gentios (crentes estrangeiros) ao povo de Israel, pois ele sabia que essa também era a finalidade da morte do Messias, e que nenhum povo poderia servir a Deus com integridade estando desconectado da raiz! Vide Ef 2:11-13 e Rm 11:16-18.

Sendo assim, como os “cristãos” de Antioquia da Síria aprendiam a Bíblia?

Fazendo uma abordagem simples e objetiva do texto de Atos 15, até mesmo para não alongarmos demais nosso presente estudo, verificamos que de fato lá em Antioquia havia discípulos estrangeiros ou descendentes israelitas que não viviam mais sua verdadeira identidade bíblica descrita na Torá. Não é difícil concluir isso, pois o texto começa descrevendo homens não circuncidados fazendo parte da comunidade de discípulos (vide vs. 1-2).

Um grupo de fariseus então, que havia abraçado a fé em Yeshua, tentou impor a circuncisão àqueles homens (v. 5). Mas não era dessa forma que Saul e Barnabé estavam trabalhando com aqueles discípulos, isto é, através da imposição ou coação.

Depois de muita discussão para resolver o assunto, foi determinado que aqueles discípulos não circuncidados deveriam obedecer primeiro a um padrão mínimo de conduta, para que a partir disso continuassem sendo discipulados ali (vs. 19-20). Entretanto, neste ponto entra um dos maiores enganos cometidos por várias pessoas religiosas de nossa atualidade, e para ser sincero é aqui que se encontra a maior diferença entre aqueles “cristãos” e os que surgiram depois deles, que é o seu repúdio ao povo de Israel!

Basta ver o v. 21 de Atos 15, onde é dito: “Porque Moisés tem quem o proclame desde os tempos antigos em cada cidade, sendo lido nas sinagogas todo o dia do shabat.”

Ora, se a questão discutida em quase todo este capítulo é o modo com que os discípulos estrangeiros (gentios) que estavam em Antioquia deveriam ser doutrinados, e é mencionado que Moisés era lido todo dia do shabat (sábado pela manhã) nas sinagogas judaicas, é porque era lá, e neste dia, que eles estavam aprendendo as Escrituras com o povo de Israel!

O modelo de ensino que eles participavam, mencionado aí no v. 21, era a leitura das porções semanais da Torá (chamadas “Parashá” no hebraico). Modelo este introduzido por Esdras no século 5 AEC, e praticado pelo próprio Senhor e seus discípulos; veja Ne 8:1-8, Lc 4:16 e At 13:14-15.

(Veja um estudo sobre O que é Parashá no Projeto Bíblico Ezra, onde publicamos resumos das porções).

Logo, não houve um rompimento entre os discípulos não judeus e os judeus do 1º século de nossa era. Na verdade, havia uma unificação, em que aqueles crentes permaneciam sendo educados e orientados nas Escrituras pelo povo escolhido de Deus, pois a este povo Ele deu tal tarefa, como lemos em Rm 9:4

Então os verdadeiros cristãos, isto é, os verdadeiros discípulos ungidos do Senhor, além de se unirem a ele, também se unem ao povo dele a fim de serem participantes das mesmas bênçãos, promessas e alianças (cf. Zc 8:20-23; Is 56:3-8).

Aqui no Blog Bíblia se Ensina, nos tornamos alunos da Comunidade Judaica Netzarim do Pará (Facebook Kehilat Netzarim-PA). Você também pode unir-se a eles, seja só ou em comunidade, e receber aprendizado do Messias em seu devido contexto original. Envie mensagem pela página.

Obs.: Para entender mais do assunto “judaísmo x cristianismo”, consulte a obra Judaísmo e Cristianismo: as Diferenças, de Trude Weiss-Rosmarin.

10) Os verdadeiros discípulos ungidos são submissos aos seus líderes.

Neste último tópico, retomando o texto de Atos 11, podemos ver nos vs. 25-26 que Barnabé e Saul ensinaram juntos àquela comunidade de discípulos em Antioquia da Síria. Podemos ler nestes versículos que eles ficaram ensinando numerosa multidão e isso, direta ou indiretamente, indica que havia submissão ao ensino daqueles dois homens israelitas.

Podemos nos recordar de que Saul, chamado Paulo, era fariseu e educado por um dos mestres mais influentes de seu tempo, Gamaliel. Este era um homem justo e extremamente fiel ao Deus de Israel e à Sua Lei (At 22:3). Foi ele que percebeu na comunidade de discípulos de Yeshua um mover de Deus, por isso os favoreceu em certa ocasião (At 5:34-39). Já Barnabé, por sua vez, e como já dissemos, era um levita e, portanto, envolvido diretamente com o serviço a Deus no templo (At 4:36). Logo, aqueles discípulos de Antioquia estavam de fato bem servidos, e isso sem mencionar os demais líderes que havia entre eles, mencionados em Atos 13:1.

Ademais, ao mencionar a submissão aos líderes, queremos nos referir àqueles que são realmente fiéis a ADONAI, o Eterno, Deus do Senhor Yeshua, pois assim era o perfil de Saul, Barnabé e seus companheiros de ministério.

A fidelidade desses líderes ao Messias era tanta, especialmente no caso de Saul, que ele pôde ser capaz de dizer:

“sejam meus imitadores/seguidores, como eu sou do Ungido” e,
o que também aprenderam, receberam e ouviram de mim, e o que viram em mim, isso ponham em prática; e o Deus da paz estará com vocês.”

(1 Co 11:1; Fp 4:9)

É claro que esses homens também tinham falhas, como todos nós temos, entretanto, sua busca pela união com o Messias e sua inspiração nele como exemplo de fidelidade e obediência a Deus, era o que os tornava líderes exemplares. A estes tipos de líderes, pois, devemos buscar nossa inspiração e sermos submissos. A submissão a esse tipo de liderança, consequentemente, é a nossa submissão ao ensino de Deus!

Lembrem-se dos seus líderes, daqueles que lhes transmitiram a mensagem de Deus. Reflitam sobre o resultado do estilo de vida deles e imitem sua confiança.

(Hebreus 13:7 BJC)

É claro que, ao longo dos relatos bíblicos, são listadas dezenas de outras características dos verdadeiros discípulos de Yeshua, como o amor que devem ter uns pelos outros, que na verdade é a principal de todas essas características (Jo 13:35; Rm 13:8-10), a pacificidade (Mt 5:9; Mc 9:50), o cuidar da família (1 Tm 5:8), a pureza na vida sexual (1 Ts 4:3), a santidade (Rm 6:4-7) e muito mais. Entretanto, por agora, eu quis me resumir ao contexto da comunidade de Antioquia da Síria relatada em Atos capítulos 11 e 15, devido a nomenclatura abordada neste estudo ter sido atribuída a esses primeiro. Além do mais, se fôssemos comentar cada uma das características, seria necessário escrever um livro!

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