Last updated on 04/10/2022
Quase totalidade dos cristãos acreditam que o Cristianismo e a Igreja Cristã nasceram em Atos capítulo 2, nos eventos de “Pentecostes“. Afirmam ainda que seu principal fundador foi “Jesus Cristo“, e o texto base usado para defender isso é (também) Mateus 16:18, onde o Salvador supostamente diz, “sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. E isso sem mencionar o texto de Atos 11:26, onde os discípulos são pela primeira vez chamados “cristãos“. No entanto, será que isso tudo é realmente verdade? Teria o Messias fundado uma nova religião chamada “cristianismo” e escolhido um novo povo para lhe servir, sob pretexto de que a antiga Lei foi abolida ou caiu em desuso? Enquanto isso, será que os israelitas deveriam aderir à essa religião, ou foram rejeitados dos planos de Deus para salvação?
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Vamos começar abordando o texto de Atos 2, para saber se é verdade que o cristianismo e a igreja cristã surgiram ali.
A Igreja Cristã surgiu em “Pentecostes”?
Antes de tudo, é necessário entender o que viria a ser esse famoso “Pentecostes”. Muitos cristãos falam desse evento e mal sabem do que realmente se trata.
De acordo com o Dicionário Bíblico Strong, um dicionário cristão, “Pentecostes” significa “quinquagésimo dia”, ou seja, dia de número 50. Mas do que se trata isso e por que “dia 50”?
Na Torá (Pentateuco), Deus ordena ao seu povo que conte 50 dias após a páscoa bíblica (Pêssach), que é comemorada no dia 14 do mês nissan (Lv 23:15-16). O povo de Israel até hoje segue obedecendo este mandamento. A contagem é chamada “contagem de ômer“. No hebraico, “Pentecostes” é chamado “shavuot“, que significa “semanas”, pois essa é a “festa das semanas” ordenada na Bíblia por Deus ao seu povo (Deut. 16:9-12).
Na Bíblia Judaica Completa, tradução do David H. Stern, o termo foi transmitido de acordo com o original hebraico em Atos 2:1.
Mas o que isso tudo tem a ver com a fundação da Igreja Cristã e do Cristianismo?
Simples: os judeus e prosélitos que estavam reunidos em Atos 2, bem como os discípulos do Senhor (porque eles eram judeus), estavam ali para celebrar essa festa bíblica, em obediência aos mandamentos do Eterno para o seu povo. É por isso que eles estavam “reunidos em um mesmo lugar” (At. 2:1). Shavuot (também conhecida como festa das colheitas ou das primícias) era uma das festas de peregrinação para Jerusalém (cf. Êx. 23:14-17; cf. At. 2:5).
Logo, até aqui, não vemos nada relacionado à Igreja Cristã ou ao Cristianismo; o contexto ainda é completamente judaico, ou seja, bíblico.
Após isso, os discípulos abandonaram os costumes judaico-bíblicos para fundar o cristianismo e a Igreja?
Vejamos, pelo próprio contexto do Livro dos Atos, se os discípulos e apóstolos realmente fundaram a Igreja cristã atual e iniciaram o cristianismo tal como o conhecemos hoje.
Em que dia eles continuaram a se reunir para cultuar a Deus e aprender as Escrituras? Resposta: Ainda no shabat bíblico, vide Atos 13:14,44; 16:13; 17:2.
Apenas uma vez é mencionada uma reunião ocasional no 1º dia da semana, vide Atos 20:7. Além disso, em 1 Coríntios 16:1-2 “Paulo” diz para os crentes separarem uma coleta para os pobres no 1º dia da semana; obviamente porque era o dia depois do shabat, que era o repouso (cf. Lc 23:54-56).
Os emissários (apóstolos) separaram-se dos judeus e fundaram uma nova comunidade não vinculada ao povo de Israel?
Resposta: Mesmo os discípulos estrangeiros conviviam com os judeus nas sinagogas, aprendendo e seguindo os mandamentos de Deus da forma que foram dados para seu povo, Israel, e na língua hebraica; cf. Atos 14:1; 17:4; 18:4; 20:21. Aliás, a mensagem do próprio Paulo, cujo nome original é Shaul, era para que os estrangeiros (gentios) se unificassem ao povo de Israel, vide Rom. 11:13-18, Ef. 2:11-13.
Além do mais, um crente estrangeiro foi impelido por Deus a procurar um líder da comunidade judaica fundada pelo Senhor e orientar sua fé por meio deste, submetendo-se ao seu ensino (At. 10:1-5). Outro crente estrangeiro viajava para Jerusalém afim de celebrar uma das festas bíblicas de peregrinação; ele já era temente a Deus (por isso foi à festa), e por meio de Filipe foi ensinado acerca do Messias (At. 8:27-35).
E por fim, questões envolvendo a comunidade de discípulos estrangeiros eram decididas pela liderança judaica, que estava em Jerusalém (At. 15:1-2). Essa mesma liderança explicou que os judeus que creram no Messias não divorciaram-se da Lei (Torá) e de seus costumes, dados a eles por Deus (At. 21:18-20).
Ora, vendo tudo isso, e de fato, não vemos nenhuma fundação do cristianismo no Livro dos Atos até aqui.
Mas podemos ir mais além com nossa investigação bíblica no livro dos emissários (apóstolos).
Shaul, chamado Paulo no mundo cristão, que foi considerado um dos grandes líderes da comunidade de discípulos do Senhor (At. 24:5), afirma que essa comunidade, que chamavam Caminho ou “nazarenos” (netzarim), concordava com tudo que estava na Lei (Torá) e nos profetas (Atos 24:14). Além disso, ele mesmo afirma que não havia lutado contra as tradições que recebeu da Lei de Deus (At. 28:16,17).
Outros líderes da mesma comunidade do Senhor também testemunharam que, o que diziam a respeito de Shaul lutar contra os costumes da Lei do Eterno, eram mentiras (At. 21:24).
Além disso, relatos bíblicos dizem que ele continuava a cumprir votos ensinados por Deus na Torá (At. 18:18), celebrando as festas bíblicas-judaicas (At. 18:21; 1 Cor 5:8), reconhecendo que o povo de Israel jamais fora desamparado por Deus (Rm 11:1-5), que os assuntos relacionados ao Ungido tratavam-se (principalmente) da esperança de Israel (At. 28:20) e que os discípulos estrangeiros deveriam se ligar a Deus e serem abençoados juntamente com os israelitas (Rm 11:17-18; Ef 2:11-14).
Sendo assim, não vemos nada de cristianismo no decorrer de todo o Livro dos Atos.
Todavia, além de tudo isso, podemos acrescentar aqui uma pergunta não pouco importante: Eles passaram a crer no “Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo”, e adorar a “Trindade“, como se faz hoje nas músicas evangélicas e cultos cristãos?
Essa resposta o próprio Salvador nos dá em um versículo só:
Mas Jesus respondeu: — Está escrito: “Adore o Senhor, seu Deus, e preste culto somente a ele.”
(Lucas 4:8 Nova Almeida Atualizada)
Pare e pense: neste versículo, a quem o Mestre está atribuindo divindade, adoração e culto?
Então quando o cristianismo surgiu, afinal de contas?
A primeira vez que o cristianismo de fato foi mencionado na história se situa por volta dos anos 103-107, na carta de Inácio de Antioquia aos magnésios. E o mais intrigante é que ele o cita como em oposição à “religião” bíblica, isto é, aquela vivência e identidade que o povo israelita, bem como os estrangeiros (gentios) monoteístas, receberam de Deus (cf. Deut. 7:6; 14:2; 26:18).
Eis o que afirma Inácio sobre o cristianismo:
Não vos deixeis iludir pelas doutrinas heterodoxas, nem pelos velhos mitos sem utilidade. Pois se ainda agora vivemos conforme o judaísmo, confessamos não ter recebido a graça. […]
Carta de Inácio aos Magnésios 8.9.10; fonte: ecristianismo.org.br.
Assim os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor, no qual nossa vida se levantou por Ele e por Sua morte, embora alguns o neguem. Mas é por esse mistério que recebemos a fé e por ele é que perseveramos, para sermos de fato discípulos de Jesus Cristo nosso único mestre. […]
Por isso, tornando-nos discípulos Seus, aprendamos a viver segundo o cristianismo. Pois quem usar outro nome fora desse não é de Deus. Ponde assim de lado o mau fermento, envelhecido e azedado, e transformai-vos em novo fermento, que é Jesus Cristo. […]
É absurdo falar de Jesus Cristo e viver como judeu. O cristianismo não depositou sua fé no judaísmo, mas o judaísmo no cristianismo, junto ao qual se reuniram todas as línguas que creram em Deus.
Vamos destacar algumas coisas de que este homem chama os ensinamentos de Deus e Sua Lei:
- velhos mitos sem utilidade;
- velha ordem;
- troca do dia bíblico shabat por outro (anulando o mandamento de Deus de Êx. 20:8-11);
- a religião judaica não é de Deus, só o “cristianismo”;
- mau fermento, envelhecido e azedado.
E por último ele diz: “é absurdo falar de Jesus Cristo e viver como judeu”; mas “Jesus” era o quê?
“Ele” não só era judeu mas como afirmou que a salvação vinha desse povo (Jo. 4:22).
É lógico que certa parte deste povo cometeu muitos pecados e vacilos contra Deus e sua Lei, os textos de Mateus capítulos 15 e 23 mostram isso claramente. Porém, isso não significa que o ensinamento que Deus deu a eles esteja errado ou tornou-se antiquado, ou que o povo teve que ser substituído (cf. Rom. 3:1-2, 9:4, Salmo 89:30-34). Aliás, em um único versículo, João 4:22, o Mestre mostra tanto a importância do povo judeu para nossa salvação quanto a importância do ensinamento bíblico (teológico) que Deus deu a eles.
Logo, só podemos concluir que o “Jesus Cristo” que o Inácio cita em sua carta não é o verdadeiro Salvador que registra a Bíblia, mas um personagem criado por uma interpretação teológica que ele mesmo faz à partir do verdadeiro Messias.
E é por isso que por aqui estamos evitando chamar o Salvador de “Jesus Cristo”, devido às assimilações teológicas distorcidas envolvendo essa versão latinizada do nome. Mas estamos procurando nos referir ao Mestre por seu verdadeiro nome hebraico, Yeshua, porque este conserva sua identidade original das Escrituras. Quando não, nos referimos a ele por títulos como “Senhor, Messias (ou Ungido), Salvador, Mestre, filho de Deus, etc.”
Ora, por excluir-se do verdadeiro grupo de discípulos criando uma nova interpretação do Messias para si, e portanto um novo messias, bem como uma outra religião, não estaria Inácio e seus seguidores incluídos no grupo de pessoas do qual João disse, “saíram do meio de nós porque não eram dos nossos?” (1 Jo. 2:19). Além disso, por promover o ódio contra o povo israelita, não estaria ele sofrendo maldição da parte do próprio Deus? Pois ele disse, “amaldiçoarei os que te amaldiçoarem e abençoarei os que te abençoarem”? (Gên. 12:1-3)
Diversas outras interpretações adentraram ao cristianismo depois disso, no decorrer dos séculos, e por isso é óbvio que teríamos muito mais para falar acerca deste assunto, portanto estou disponibilizando aqui um breve rascunho que descrevi denominado “a identidade do povo de Deus“. Nele você poderá conferir algumas doutrinas bíblicas que foram distorcidas pelo cristianismo, a religião dos pais da igreja, da Igreja Católica Romana medieval e de todas provenientes dela, isto é, as protestantes e evangélicas modernas.
Então qual é a solução para quem quer seguir a Deus com base no ensinamento bíblico verdadeiro?
O passo inicial para todo não-israelita (gentio) que quer servir a Deus de verdade é retornar para a aliança universal que ele fez com a humanidade, em Gênesis capítulo 9. Essa foi a decisão que os líderes da comunidade do Senhor tomaram em Atos capítulo 15: que eles deveriam se submeter a um padrão mínimo de obediência a Deus para serem inseridos na comunidade de discípulos (vs. 19-20), e que continuassem sob orientação do povo de Deus para crescerem no conhecimento e obediência ao Todo Poderoso (v. 21).
Ora, sabemos que o povo israelita foi duramente perseguido ao longo da história, e por isso não tiveram tanto espaço para continuar desenvolvendo suas comunidades e fazendo discípulos, pois por muito tempo eles tiveram que estar preocupados em sobreviver.
No entanto, pela misericórdia de Deus, hoje em dia é possível, através dos meios de comunicação digital, e em diversos países, conhecer comunidades do povo de Deus e estudar as Sagradas Escrituras com eles. Porém o primeiro passo é se conscientizar de todos os fatos que aconteceram no decurso de nossa era e discernir as distorções que foram misturadas à fé bíblica, e então começar a separar-se delas ao ligar-se a um ensinamento íntegro das Escrituras.
Em particular, para os interessados, a Comunidade Judaica Netzari, que crê no Messias, tem um sistema de ensino online que se compromete a ensinar para quem realmente quer aprender.
Mas cada pessoa é livre para escolher o que entende ser o melhor para si.
Ao que tudo indica, essa mesma comunidade judaica foi aquela citada ao longo da história pelos próprios historiadores cristãos como os judeus que creram no Messias e não se apartaram da Torá, diferentes de outras comunidades judaicas por isso, e diferentes dos primeiros cristãos, que além de terem abandonado vários ensinamentos e tradições da Torá, ainda criaram uma outra versão do Messias com nova religião e crenças.
Acerca dos textos de Mateus 16:18 e Atos 11:26, já abordamos em outros estudos aqui no blog.
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[…] algo muito antigo, e que continuou a ser alimentado pelos discípulos de Ieshua, chamado Jesus no cristianismo, o que mostraremos mais […]
[…] maior dificuldade se encontra na figura que o mundo cristão tem de “Jesus” (a qual foi criada pelos pais da igreja), pois qualquer mudança na tradução soaria como uma adulteração […]
[…] Entretanto, seria óbvio que ele não ia cultuar no domingo, visto que o dia só foi supostamente adotado como dia de adoração por seus discípulos após sua ressurreição, segundo afirma o cristianismo. […]
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